Ritmo do meu coração

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-Está querendo ver Louis novamente?

Uma enfermeira canário me questiona com seus doces olhos laranjas, algo que me surpreende pois sempre era o pastor-alemão que me recebia, talvez isso seja normal de manhã e como não venho a esse horário...

-Hãm...sim.

Me levanto e ando até ela calmamente, sei como os herbívoros reagem quando me aproximo repentinamente, ainda mais quando são presas frágeis. Entretanto, a moça de penagens amareladas sorri com seu bico afiado, o que me surpreende com seu comportamento.

-Sabe onde é o caminho, neh?

A encaro de cima, assentindo hesitante. Estranho, comumente exigem em me acompanhar.

-M-mas você não vem?

Pergunto dando um passo a frente, esperando uma resposta concreta, porém o quê recebo é somente e novamente um sorriso caloroso.

-Para que? Se você sabe o caminho e confiamos em você.

Após segundos de sua resposta, a mesma dá as costas e volta à recepção. Tal frase me aquece mesmo naquele meio inverno, próximo ao Natal, era bom saber que agora confiavam em mim.

Pensando assim, caminho até o quarto do cervo, animado em vê-lo novamente. Quando estamos apaixonados por uma pessoa, é sempre assim? O desejo de estar perto e querer receber seus carinhos é contínuo, nunca para ou falha. Ah... só de pensar em encontra-lo meu coração acelera e minha respiração desmede, sem perceber minha cauda se agita alegremente, uma das características que deixei de temer após ouvir Louis dizer que estávamos em uma relação perto do namoro.

-Isso, só mais dois passos.

Minhas orelhas se viram pra frente, escutando a voz do enfermeiro e me fazendo caminhar mais de pressa para o cômodo, conseguindo espionar o veado se apoiar em duas barras de metal ao mesmo tempo em que focava-se em tentar andar e chegar até o fim. O final acompanhado do pastor-almão, para ajudá-lo. Não desejando atrapalha-lo, fico o observando pela fresta da porta, analisando a prótese de sua perna que apertava seus pelos vívidos e mais ainda meu culpado coração. Odiava lembrar disso mas a ausência da perna de Louis insistia em fazer o contrário.

-Por hoje é só.

O cachorro informa tentando confortar o coração do menor, lhe apoiando de lado e tentando levá-lo até a maca. Não sendo o suficiente pra mim, adentro totalmente o quarto e vou até o cervo levemente surpreso, amparando-o do lado oposto ao canino.

-Bom dia.

O cumprimento de lado com um sorriso contente, desejando demonstrar minha felicidade em reencontra-lo novamente. Desde o ocorrido de ontem, não paro de pensar em suas palavras honestas e ardorosas que completavam meu coração.

-Bom dia.

O herbívoro retruca também com um sorriso, me fazendo abanar mais ainda o rabo e apertar-lhe a cintura.

-Consegue-

Antes que o enfermeiro terminasse a frase, eu o levanto e o deposito sentado na maca. Minha ansiedade era tão grande que meus atos acompanhavam o ritmo do meu coração, ato que possivelmente alegra Louis pois enxergo seu médio sorriso ao se ajeitar melhor na cama e apertar meu pulso sem querer.

-Você foi bem hoje.

O canino diz já perto da perna dele, manejando os sintos da prótese e logo a tirando calmamente. Sinto seu olhar duro em mim enquanto se afastava e chega até a porta, aparentemente quando estou por perto seu semblante muda completamente, de amigável pra... não amigável.

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