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Jimin andava apressado pelos corredores da igreja em direção ao seu dormitório, o dia havia sido cheio e ele estava extremamente cansado, a única coisa na qual pensava agora era em sua cama quentinha e confortável.
Ao mesmo tempo que era ruim ser a única pessoa a ter um quarto só para si — por causa da solidão que tomava conta — era muito bom ter sua privacidade, sua paz e seu silêncio de vez em quando, coisas que não conseguiria tendo um colega de quarto.

Desde que tomou a decisão de se tornar frei, seu dia a dia passou a ser ainda mais corrido do que antes, afinal, estudar praticamente o dia todo e ainda ajudar as madres com as atividades comuns da igreja toma o seu dia inteiro, seu tempo livre — que sempre foi curto — foi reduzido em cem por cento.

Parou em frente a sua porta e suspirou aliviado, finalmente poderia descansar — depois de tomar um banho e fazer suas orações diárias, claro.
Colocou a mão na maçaneta e a girou, dando um passo para poder entrar no quarto.
Fechou a porta atrás de si e sua atenção foi atraída para as suas cortinas, que tremulavam com a brisa fria da noite que entrava pela janela aberta, o pano ficava praticamente transparente com a luz do luar.

E na frente da cortina, havia uma silhueta escura, completamente escura como o céu da meia noite sem estrela alguma.

Jimin tremeu dos pés a cabeça, a silhueta tinha o formato de um homem alto e forte, ele parecia estar com as mãos nos bolsos de uma provável jaqueta que estava usando, os fios de cabelo pareciam estar bagunçados.

— Q-quem é você? Já vou avisando que não tem dinheiro algum aqui.

A voz trêmula de Jimin se fez presente no ambiente, tinha certeza absoluta de que aquele homem estranho era um ladrão.
Mas o que diabos um ladrão iria fazer em uma igreja? E pior ainda! Em um dormitório de um garoto, se fosse para roubar alguma coisa, que roubasse da capela principal.

O primeiro instinto do loirinho foi pegar um abajur que estava disposto sobre sua penteadeira e segura-lo com força com as duas mãos, era tosco, ele sabia, se o homem estivesse armado, de nada aquele abajur serviria.
Mas pelo menos ele não estava de mãos vazias.

O silêncio que veio a seguir foi quase palpável, nenhum dos dois abriu a boca para falar nada, o homem na janela sequer se mexeu e por incrível que pareça, isso deixou Jimin ainda mais assustado.

— O que você quer?

Ousou perguntar, estava começando a achar que aquela silhueta era nada mais nada menos do que roupas amontoadas, talvez estivesse tão cansado que seu cérebro estava lhe pregando peças, talvez aquilo não fosse um homem de fato.
Soltou o abajur com uma das mãos e direcionou seu indicador para o interruptor ao lado de sua porta, parando bruscamente no mesmo lugar ao ouvir um longo suspiro preencher o ambiente silencioso.

— Vamos, Jimin-ssi, ligue a luz, estou ansioso para te ver sob a claridade.

O loiro tremeu novamente, como aquele homem sabia seu nome? A voz dele havia soado tão intensa que fez os pelos da nuca de Jimin se eriçarem.
Ele estava morrendo de medo, não fazia ideia do porquê ainda estava ali, do porquê ainda não havia corrido igual a um louco enquanto gritava "ladrão, ladrão!" pelos corredores.

Alguma coisa estava lhe prendendo ali, lhe deixando com a ânsia para saber quem era o desconhecido que estava o deixando tão intrigado, ele estava inapto em recuar, não sairia dali até sanar a suas dúvidas sobre o que estava acontecendo, estava disposto a lidar com o provável perigo que estava por vir.
Ele não conhecia aquele homem, não sabia de suas reais intenções e sabe Deus o que ele queria ali.

Juntou toda a pouca coragem dentro de si e pressionou o botão do interruptor, soltando todo o ar que havia prendido em seus pulmões sem nem perceber.

A claridade se fez presente por todo o quarto, fazendo os olhinhos do garoto assustado se franzirem um pouco por causa da claridade recente.
Jimin voltou a segurar o abajur com as duas mãos, recuando um passo e deixando suas costas se chocarem contra a porta, aquilo certamente não era um amontoado de roupas.

De fato, era um homem alto e forte, usava uma jaqueta e tinha os cabelos bagunçados como Jimin achou que teria ao vê-lo pela silhueta escura, seus fios eram pretos assim como seus olhos, cujas íris pareciam pedras lapidadas de obsidiana, um sorriso largo e bonito enfeitava seu rosto, era como se dissesse um olá educado e animado.
As mãos dele saíram de dentro dos bolsos da jaqueta e ele deu um passo a frente, fazendo Jimin se forçar mais contra a porta.

— Não se aproxime!

O loiro falou com o tom de voz o mais firme que conseguiu, apontando o abajur azul bebê com desenhos de estrelas amarelas em direção ao mais alto, que parou de andar para poder dar uma risada anasalada da cena a sua frente.

— Fala sério, Jimin-ah, você não se lembra de mim? — o de cabelos negros perguntou, recebendo um aceno negativo de cabeça vindo do outro, o Park estava achando aquele garoto um completo maluco — eu sei que a última vez que a gente se viu foi quando éramos crianças, mas eu não mudei tanto assim.

O cenho de Jimin franziu-se, ele mora na igreja desde bem pequenininho, ninguém ousava se aproximar dele, o motivo para ele ter saído de sua casa sendo tão novo deixava todas as pessoas amedrontadas.
Ele foi solitário em toda a sua infância, não tinha como eles terem se conhecido quando crianças, era impossível.

Quando era bem pequeno, ele teve um amigo, era um amigo especial que ninguém além dele conseguia ver, mas não... Não podia ser ele, qual é a chance, afinal?
Já se passou tanto tempo, ele não iria voltar agora.

— Você não está falando coisa com coisa, eu nunca te vi na minha vida — o mais baixo engoliu em seco, apesar do homem não demonstrar estar armado, Jimin ainda se tremia inteiro.

— Tem algo que eu posso fazer para você se lembrar de mim — o homem deu outro passo novamente — você costumava gostar quando eu fazia isso...

Jimin estava pronto para ir até o mais alto e bater na cabeça dele com aquele abajur, mas quando pensou em sair do lugar, asas pretas brotaram das costas do homem, uma sensação de dejá-vu tomou conta do Park, ele já tinha visto aquilo antes e se lembrava exatamente de como foi.

Era exatamente como ele se lembrava, a magnitude daquele ser ainda exalava como o calor das brasas de uma fogueira, as penas grandes tinham a aparência da seda mais macia do mundo, chegavam até mesmo a brilhar quando a luz da lua banhava suas costas.

— Sou eu... O Jungkook... Eu voltei, Jimin-ah, eu consegui encontrar você!

E essa frase foi o estopim para Jimin, ele abriu a boca para tentar dizer alguma coisa, mas não fez nada mais do que balbuciar coisas sem sentido, de repente sentiu-se fraco, seu corpo inteiro parecia ter virado gelatina, ousou afastar uma das mãos do abajur novamente, apenas para que ele pudesse se apoiar na porta.
Enquanto olhava para o rosto do rapaz, sua visão foi se escurecendo e, quando ele percebeu, já tinha apagado.

My favorite hell (jjk + pjm)Onde histórias criam vida. Descubra agora