CAPÍTULO 2

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  — Para onde estamos indo? Elis me pergunta enquanto corremos para o lado oposto dos portões de entrada da escola.
  — Margot e suas amigas estão planejando algo contra você, uma coisa horrível vai te acontecer assim que você passar por aqueles portões e não posso deixar que isso aconteça com você. Em segundos ela para de correr e me olha curiosa.
  — Por que você está fazendo isso por mim?
  — Dês de quando você entrou na sala de aula pela primeira vez eu soube que você era alguém especial, algo em você faz eu sentir isso, sinto que devo te proteger ou algo do tipo.
  — Ninguém além dos meus pais nunca se importou comigo dessa forma. Seu olhar me transmitia um silencioso obrigado.
  — Agora vamos, caso contrário elas irão te procurar.
  Voltamos a correr mais alguns quilômetros até chegarmos em uma cerca de ferro, entre as varias barras de ferro pretas e grossas havia uma pequena abertura que uma pessoa era capaz de passar por ali. Em dois minutos já estávamos fora da escola e caminhando tranquilamente.
  — Obrigada. Eu não precisei perguntar para saber sobre o que Elis falava.
  — Não fiz nada demais.
  — Você me ajudou, isso é muita coisa.
  Aquela conversa me deixou feliz. Durante o restante do percurso não conversamos mais, somente quando estávamos chegando em sua casa – descobri recentemente esse fato – que eu voltei a falar.
  — Por que você e sua família se mudaram para essa cidade?
  — E-eu não quero falar sobre isso.
— Por que? Aconteceu algo grave na sua antiga cidade e vocês tiveram que se mudar as presas? Fico cada vez mais intrigado esperando sua resposta.
  — Já disse que não quero falar sobre isso! Não quero que as coisas mudem aqui também. Percebo que seus pensamentos a levam para longe.
  — Me desculpe, é que você me intriga.
  — Minha casa é logo ali na frente. – Ela aponta para uma enorme casa, sua estrutura era feita de concreto e a sua pintura era um tom quase branco, a casa era elegante e sofisticada. – Você pode ir embora, estou segura agora.
Elis começa a andar e me deixa para trás, vou atrás dela mas a presença de pessoas – presumo que sejam seus pais – impede que eu chegue até ela.
  — Querida, você está bem? O tom de voz da mulher demonstrava preocupação demais.
  — Sim mamãe, estou bem.
  — Quem é aquele garoto que está te observando? O homem pergunta e me encara.
  — Ele é um colega de classe, me acompanhou até aqui.
  — Um amigo? Pensei que você não queria fazer amigos nessa nova escola por...
  — Mary! O homem a censura.
  — Ele não é meu amigo e você está certa, não quero e não vou fazer amizades nessa cidade, você sabe o que aconteceu da última vez.
  — Vamos entrar, não devemos ficar conversando sobre isso aqui.
E sem olhar para trás os três entram na casa e eu fico sem entender nada do lado de fora.
  No dia seguinte acordei atrasado e por conta disso cheguei atrasado na escola. Ao entrar na sala de aula meus olhos percorrem todo o ambiente a procura de, Elis, e ao encontra-la dou um sorriso para ela, percebo que ela tenta reprimir um sorriso também mas não consegue e por isso viro o rosto em outra direção.
  Me sento no mesmo lugar de sempre e assisto a aula. Quase no final do quarto período – antes do intervalo – as mesmas garotas de ontem começam a encarar Elis de uma forma nada agradável, penso que elas irão aprontar algo, mas quando me aproximo de Elis mais tarde no intervalo ela foge de mim e não a encontro mais em lugar nenhum.
De repente ouço uma gritaria vindo do pátio principal e quando chego lá vejo várias garotas cercando Elis, tento passar pela multidão mas o alvoroço está intenso. Dou a volta para tentar avançar ela mas de novo não obtive sucesso.
  — Você escapou da gente ontem de alguma forma, mas hoje você não vai escapar!
  Algumas garotas seguraram Elis pelo braço enquanto Margot avança nela e com um puxão rasga uma parte da blusa de Elis.
  — Elis! Grito e a garota me olha pedindo um socorro silencioso.
Com vários outros puxões na blusa Margot rasga o uniforme de Elis e a deixa somente de sutiã, todos – exceto eu e mais algumas poucas pessoas – começaram a rir e gravar a cena.
  — Deixem ela! Grito novamente e tento passar pela multidão mas Greg me impede ao me segurar. – Me solte, deixe-me ajuda-la. Suplico.
  Vejo que Elis começa a chorar quando Margot tira sua sai a deixando completamente seminua e exposta, Elis está desesperada, com medo, envergonhada e...
  — Não! Parece que eu estava em câmera lenta conforme Greg me soltava e eu corria em direção a Elis que lentamente caia no chão desmaiada. – Elis, acorde e fale comigo! Me abaixo e seguro sua cabeça.
  Nesse momento os três inspetores que não tinham aparecido até agora começam a gritar e afastar todos.
  — Liguem para os pais dela agora! – Uma das inspetoras grita. – O que houve com ela?
  Não pude responder, estava muito preocupado pois eu sabia que algo não estava certo, que aquilo ia muito além de um trote escolar e suas consequências. Quando dei por mim já estavam a levando em uma maca e todos – incluindo Margot – olhavam preocupados.
  — Eu vou com ela. Digo para os paramédicos.
  — Você é parente? Um deles pergunta enquanto fecha uma das partas da ambulância.
  — Não.
  — Então você não pode ir. O homem já ia fechando a outra porta quando eu o impeço.
  — Espere! Sou o namorado dela. Após muito pensar o homem faz um sinal para que eu entre na ambulância.
  Chegamos em um hospital grande e moderno, ele é diferente dos hospitais que frequentei durante toda minha vida, já tinha ouvido falar sobre ele e as minhas preocupações só aumentaram pois eu sabia que todos que aqui frequentam raramente saem com vida.
  — Em qual quarto ela está? Estou sentado com a cabeça apoiada nas mãos quando ouço a voz da suposta mãe de Elis. – Obrigada. A mulher começa a correr em direção ao quarto indicado que mais cedo fui impedido de entrar.
  Alguns minutos depois a mulher sai com um olhar de raiva mas também com lágrimas nos olhos, engulo em seco. Quando ela me vê caminha até mim.
  — O que faz aqui garoto? Ela me pregunta.
  — Eu estava lá quando tudo aconteceu, tentei impedir mas não pude. Abaixo o olhar envergonhado.
  — Elis me contou sobre isso, obrigada.
  — Ela está bem? O que ela faz aqui nesse hospital?
  — Ela não te contou? É claro que não. Ela disse a última frase para si mesma.
  — Posso vê-la? Me levanto.
  — Claro, só não sei se ela vai aceitar a visita.
  — Não custa tentar. Sorrio para ela e vou até o quarto 7b.
  Elis me recebeu de bom grado, agradeceu por eu ter tentado ajuda-la mas logo tudo o que ouvimos foi um silêncio absoluto, eu sabia o que ela estava pensando e ela sabia o que eu pensava, nós dois só estávamos querendo adiar essa conversa o máximo que pudesse.
  — O que você faz aqui nesse hospital? Ela suspira pesado antes de olhar para mim e responder.
  — Eu tenho uma doença rara e terminal.
  Por um momento o mundo parou, não pude me concentrar em mais nada a não ser no que ela acaba de me confessar, engulo em seco e respiro com dificuldade.
  — Isso quer dizer que... – não consigo concluir a frase.
  — Sim, isso quer dizer que tenho uma doença incurável e posso morrer a qualquer momento.

Um momento de felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora