"Lembro-me bem como era naquela época, as coisas que eu fazia, que eu sentia. Era tudo tão diferente de como é hoje. Não sei ao certo se sinto falta disso."
17 de Maio, Ano 2273 - 5:45am
São quase 6 horas da manhã, a vontade de voltar a dormir é imensa, mas preciso trabalhar. Sou técnico de informática, e justamente hoje minha agenda está lotada, portanto irei trabalhar o dia inteiro.
Sinto que de uns tempos para cá venho cansando cada vez mais rápido, talvez eu devesse entrar na academia, estou sedentário demais. Hoje a tarde irei encontrar um cliente, ele disse que o computador dele não estava funcionando direito. Céus, eu estou exausto, minha maior vontade é jogar tudo pro alto e viver apenas dos bicos que faço por conta própria quando eu quero, mas a vida não é assim tão barata.
- Ah não, Luiz. - Bufei em completa frustação. - É aquela mulher de novo.
- Boa sorte, amigão, pois irá precisar! - O homem soltou um riso, logo se afastando.
Luiz é meu colega de trabalho, não somos tão amigos, mas próximos o suficiente para tomar uma cerveja de vez em quando, enquanto reclamamos da vida.
- Eu sou uma piada para você? - O fitei incrédulo, ao passo que a mulher se aproximava da recepção.
- Não é isso, mas cara, eu não queria estar na sua pele...
Não bastasse o tempo que demorei para consertar o celular daquela mulher, ainda tive que ouvi-la questionar-me sobre cada um de meus movimentos, como se ela não confiasse nem um pouco no meu trabalho. Para a minha sorte, já era final de expediente, e após terminar de atender a mesma, pude finalmente ir pra casa e descansar.
Hoje me lembrei que na quarta-feira tenho consulta marcada. Não é meu dia de folga, mas meu patrão me liberou integralmente e visto que a consulta é de manhã, poderei dormir durante toda a tarde. Finalmente algo bom aconteceu na minha vida.
19 de Maio, Quarta de manhã
O grande dia havia chegado. Tive uma ótima noite de sono, o que era raro de acontecer, e ao acordar tomei um banho quente. Depois do café da manhã eu já estava pronto para ir. Ultimamente venho sentindo um cansaço absurdo e fortes dores no peito. Espero que não seja amor.
Ao chegar no hospital, fui a recepção me informar, me disseram que o doutor não havia chegado ainda, e pediram que eu aguardasse, portanto esperei pacientemente, até que finalmente ele apareceu, e ao me ver, logo pediu que eu fosse o primeiro a ser atendido. Ainda bem que minha maré de sorte continua boa.
- Sente-se, Senhor Arthur. - Disse o doutor, apontado para a cadeira à sua frente
- Obrigado, doutor. - Me acomodei na cadeira, relaxando os ombros e esperando que ele dissesse logo o resultado da pilha de exames que havia feito na última semana.
O homem puxou um envelope de uma das inúmeras gavetas localizadas em um armário com o prontuário de centenas de pacientes e logo se sentou, abrindo o envelope e analisando o que mais parecia ser o diagnóstico. A julgar pelo seu olhar infeliz e seu suspiro profundo, cheguei a conclusão de que minha situação não era das melhores.