A fuga da Jibóia brasileira rendeu a Liz e Harry um péssimo castigo, os dois nunca receberam castigo mais longo.
-Eu odeio eles - Harry reclama sentado em seu fino colchão
-As coisas vão melhorar - sentada ao seu lado, Liz o conforta colocando a mão em seu ombro - tem que melhorar
-Eu não sei…. - Harry fala pensativo - eu sempre penso que vai aparecer alguém e salvar a gente dessa loucura, mas sei que isso é impossível, não nos sobrou ninguém - fala triste
-Pelo menos temos um ao outro, isso é melhor do que nada. Eu não sobreviveria a um dia aqui sem você - Liz sorri fraco para o mesmo e encosta a cabeça no ombro dele - Nada é impossível Harry
Harry encosta a cabeça na da irmã, e pega a mão da mesma acariciando.
-Sempre um pelo outro - Sorri
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Na altura em que permitiram eles a sairem do armário, as férias de verão já tinham começado. Os irmãos ficaram contentes que as aulas tivessem acabado, mas não conseguiam escapar da turma de Duda, que visitava a casa todo dia. Pedro, Dênis, Malcolm e Górdon eram todos grandes e burros, mas como Duda era o maior e o mais burro do bando, era o líder. Os demais ficavam bastante felizes de participar dos esportes favoritos de Duda: perseguir Harry e atormentar Liz.
Por este motivo, Harry e Liz passavam a maior parte do tempo possível fora de casa, andando por ai e pensando no fim das férias, no qual conseguiam enxergar um raiozinho de esperança. Quando setembro chegasse eles iriam para a escola secundária e, pela primeira vez na vida, não estariam em companhia de Duda.
Duda tinha uma vaga na antiga escola de tio Válter, Smeltings. Pedro ia para lá também. Os gêmeos, por outro lado, iam para a escola secundária local. Duda achava muita graça nisso.– Eles metem a cabeça dos garotos no vaso sanitário no primeiro dia de escola – contou ele ao gêmeos – quer ir lá em cima praticar? - Provocou Harry
– Não, obrigado – respondeu Harry. – O coitado do vaso nunca recebeu nada tão horrível quanto a sua cabeça, é capaz de passar mal. – E correu antes que Duda conseguisse entender o que ele havia dito.
Certo dia de julho, tia Petúnia levou Duda a Londres para comprar o uniforme da Smeltings e deixou Harry e Liz com a Sra. Figg.
A Sra. Figg não estava tão ruim quanto de costume. Afinal, tinha fraturado a perna porque tropeçou em um dos gatos e não parecia gostar tanto dele quanto antes. Deixou os dois assistirem à televisão e deu um pedaço de bolo de chocolate a eles, que, pelo gosto parecia ter muitos anos.
Naquela noite, Duda desfilou para a família reunida na sala de estar vestindo o uniforme novo da Smeltings. Os alunos da Smeltings usavam um blazer marrom-avermelhado, calça laranja e chapéus de palha. Carregavam também bengalas, que usavam para bater uns nos outros quando os professores não estavam olhando. Isto era considerado um bom treinamento para o futuro.
Ao contemplar Duda nas calças laranja novas, tio Válter disse com a voz embargada que aquele era o momento de maior orgulho em sua vida. Tia Petúnia rompeu em lágrimas e disse que não podia acreditar que era o seu Dudinha, estava tão bonito e adulto. Liz e Harry se seguravam para não rir do primo, que parecia mais um tolete de cocô.- Nós teremos que usar isso também? – Harry pergunta franzindo as sobrancelhas
- O que? Vocês dois? Em uma escola particular? – Petúnia pergunta indignada enquanto Harry assentia com a cabeça – Até parece. – Riram dos dois – Vocês vão para a escola secundária.
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Havia um cheiro horrível na cozinha na manhã seguinte quando os irmãos entraram para o café da manhã. Parecia vir de uma grande bacia de metal dentro da pia. Eles se aproximaram para espiar. A bacia aparentemente estava cheia de trapos sujos que boiavam em água cinzenta.
– O que é isso? – perguntou Liz à tia Petúnia. Os lábios dela se contraíram como costumavam fazer quando eles se atreviam a fazer uma pergunta.
- Estou lavando o uniforme antigo de Dude para usarem, me agradeçam por isso – Petúnia volta para a atenção para a bacia.
– Ah – comentou –, eu não sabia que tinha que ser tão molhado. – Liz fala e Harry ri
– Não seja idiota – retrucou tia Petúnia com grosseria. – Estou tingindo de cinza umas roupas velhas de Dude para vocês. Vão ficar iguaizinhas às dos outros quando eu terminar.
- Essa catinga imensa? Não caberá em mim, quem dirá na Liz – Harry fala indignado e Liz lhe dá um leve cutucão chamando a atenção do mesmo.
- Você é um mal agradecido mesmo, igualzinho ao seu pai - Petúnia revira os olhos – Bem que dizem mesmo, filho de peixe, peixinho é – Harry revira os olhos mas achou melhor não discutir.
Sentaram se à mesa e tentaram pensar na aparência que teriam no primeiro dia de aula – como se estivessem usando retalhos de pele de elefante velho, provavelmente.
Dude e tio Válter entraram ambos com os narizes franzidos por causa do cheiro do novo uniforme dos dois. Tio Válter abriu o jornal como sempre fazia e Dude bateu na mesa com a bengala da Smeltings, que ele carregava para todo lado.
Ouviram o clique da portinha para cartas e o som da correspondência caindo no tapete da porta.- Vá buscar Dude – Tio Válter ordena
- Mande Harry – O pestinha retruca
- Vá buscar Harry – Válter manda
- Mande Dude – Harry reclama e Liz coloca a mão no rosto como em reprovação
– Bata nele com a bengala da Smeltings, Dude – Tio Válter nem terminou de dizer essas palavras e Dude deu uma cacetada na cabeça de Harry, que o olhou com raiva.
- Chega – Liz pega a bengala de Dude e encosta na parede – Eu vou – A mesma vai até a porta e pega a correspondência jogada pelo carpete.
Folheia as cartas, três no total: um postal da irmã do tio Válter, Guida, que estava passando férias na ilha de Wight, um envelope pardo que parecia uma conta e uma carta para Liz e Harry.
Liz pegou e ficou olhando, o coração vibrando como um elástico gigante, a carta fez os olhos da garota brilharem. Ninguém, jamais, em toda a sua vida, escreveu para os irmãos. Quem escreveria?
Eles não tinham amigos, nem outros parentes, contudo, ali estava, uma carta, endereçada tão claramente que não podia haver engano. Na carta estava escrito da seguinte maneira:“Srt. L. Potter e
Sr. H. Potter
o armário sob a escada
Rua dos Alfeneiros, 4
Little Whinging
Surrey.”O envelope era grosso e pesado, feito de pergaminho amarelado e endereçado com tinta verde-esmeralda. Não tinha selo.
Quando virou o envelope, com a mão trêmula, Liz viu um lacre de cera púrpura com um brasão; um leão, uma cobra, um texugo e uma águia circulando uma grande letra “H”.Harry que estava na porta da cozinha, percebeu a reação diferente da irmã e foi até a mesma, que ainda olhava para a carta maravilhada. Harry se aproximou devagar da irmã e por cima do ombro dela leu o mesmo, e na hora seus olhos brilharam também.
- Será que foi um engano? – Harry pergunta com os olhos fixados na carta
- Eu acredito que não, tem nossos nomes, nosso sobrenome, o endereço e até onde dormimos, não é possível que exista alguém tão parecido conosco – Liz olha para o irmão.
- Mas quem será que nos escreveu? Não temos mais ninguém – Harry olha para Liz.
– Anda depressa, garota! – gritou tio Válter da cozinha. – Está fazendo o quê, procurando cartas-bombas? – E riu da própria piada.
- Eu não faço ideia, mas não podemos deixar que eles vejam antes de sabermos o que é pelo menos – Liz sussurra depressa percebendo que Válter iria até lá se eles demorassem mais.
- Deixa que eu escondo – Harry pega a carta da mão da irmã delicadamente e colocando por baixo da camiseta – Vamos antes que desconfiem.
Harry e Liz voltam para a cozinha. Liz entrega as correspondências a Válter enquanto Harry tenta passar despercebido por Dude. Tentativa falha. Dude dá um empurrão em Harry fazendo o mesmo cair no chão e derrubar a carta que escondia.
- Olha só papai, Harry estava escondendo uma carta. – Dude se abaixa e pega a carta – E olha tem.... o nome deles?