a youth

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21.02.2021. Busan, Coréia do Sul. Choi Chanhee.

Não era bem isso que Chanhee estava esperando ao pedir ajuda para seu pai.

Porra, realmente não era isso.

Choi Chanhee, 22 anos, desempregado, devedor de agiotas e agora, além de tudo, sem-teto.

Quando decidiu pedir ajuda para a única pessoa que ele ainda tinha – ou achou ter – no meio daquela cidadezinha infeliz no fim do mundo, Chanhee não esperava ser expulso de casa. Não que seu pai fosse uma pessoa compreensiva, muito menos alguém decente, mas nunca achou que ele simplesmente o jogaria no meio da rua com uma mochila nas costas e dois maços de cigarros.

Agora, em meio à aquele fim de tarde quente de Busan, Choi Chanhee não havia nada além de roupas caras, cigarros velhos e um dom quase assustador de atrair o caos.

Sentado na entrada da balada mais frequentada daquela cidadezinha medíocre, com o corpo doendo pelos socos que havia levado horas antes. O canto de sua boca ainda sangrava, e os nós de seus dedos estavam decorados por cortes rasos e longos. Chanhee suspirou enquanto assistia o sol desabar ao fim da rua, ascendendo um cigarro em seguida.

Se perguntava em que canto de sua vida havia errado tanto; onde haviam lhe quebrado a ponto dele acabar daquele jeito; sem casa, sem dinheiro, sem amor.

— E ele ainda tinha coragem de dizer que me amava — Chanhee divagou, rindo sem graça. ele tragou o resto do cigarro entre seus dedos — Amava porra nenhuma.

E então quando ele viu que as portas grandes haviam sido abertas e as estrelas começavam a se espalhar pelo céu escuro, ele finalmente entrou na boate.

Não havia nada de novo ali além da música alta e as luzes coloridas; garotas sem roupas, homens chapados, corações partidos. Era sempre o mesmo, sempre patético.

Mas ele simplesmente não se importava, não estava ali para isso, aliás. Estava devendo mais de 3 mil wons para vários agiotas daquela cidadezinha, dinheiro o qual ele havia perdido inconsequentemente num cassino em Seul. Estava encoberto por socos e dores latejantes por sua pele, estava sendo ameaçado por sua própria culpa. Chanhee por qualquer deslize poderia acabar morto. Estar ali era a última coisa que ele realmente importava.

Sem querer acabou rindo. Agora ele se dava conta do porquê seu pai lhe dizia que sua inconsequência acabaria lhe trazendo problemas. E realmente trouxe.

Mas não era como se Chanhee ligasse.

Com a mesma linha torta de pensamento, Chanhee se perdeu entre as pessoas bebadas que trombavam em seu corpo sem dó alguma. Ele não se deu ao trabalho de ir a um encontro direto, sabia que eventualmente eles viriam até ele; as pessoas eram assim, previsíveis e cansativas, Chanhee não fazia questão delas.

Depois de poucos minutos viu um grupo de três garotas lhe olhando com curiosidade e sorrindo sem vergonha, ele se aproximou delas devagar. Ele não prestou a atenção em seus olhos puxados e muito menos nos vestidos curtos que apertavam suas coxas, mas sim nas bolsas caras abertas atrás delas, no óculos de marca jogado na bancada de madeira junto com as chaves de um carro.

— Boa noite — cumprimentou-as, recebendo sorrisos em troca. Ele quase revirou os olhos, odiava coisas fáceis demais.

— Boa noite — a mais alta dentre as três sorriu — Você é novo por aqui? É a primeira vez que te vejo.

— É, pode-se dizer que sim — aproximou-se dela um pouco mais, quase grudando seus corpos — Posso pagar uma bebida pra' você?

As outras duas garotas trocara gritinhos nada discretos enquanto a mais alta sorria ainda mais largo — Claro que pode, meu bem.

Chanhee sorriu de novo. Fácil. Deslizou as mãos pela cintura fina da garota, que nem se deu conta quando as mãos dele ultrapassaram seu corpo até encontrarem as chaves na bancada atrás dela. O garoto apertou o chaveiro de gatinho entre os dedos e se afastou, agora sussurrando no ouvido da garota — Então espere aqui, eu já volto.

Ela concordou com os olhos puxados brilhando contra as luzes e Chanhee saiu andando calmamente da boate em direção do estacionamento.

Ele apertou o botão de alarme na chave e sorriu quando viu a luz do carro vermelho piscando enquanto o som estridente preenchia o estacionamento grande.

Ele entrou no carro e saiu de lá dirigindo como se nada tivesse acontecido.

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