Nebulosidade

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ESCARLATE

O desejava, isso era inegável. O desejava tão intensamente como na primeira vez que o viu, porém agora, não reconhecia a natureza desse desejo. Não era eros, disso tinha certeza, talvez ágape ou philia, talvez apenas nostalgia, estocolmo, mania, ou síndrome do cavaleiro branco. O fato é que Eliot a deixava impulsiva, confirmava isso no momento em que via a si mesmo sair escondida da mulher que amava para ir ao encontro de um conhecido desconhecido.

Porque o fazia? Porque algo em seu peito gritava para que ela fizesse. Mesmo que temesse o que encontraria, queria encontrar, pois precisava ouvir de seus próprios lábios quem ele era, quem havia se tornado, para então finalmente conseguir fechar o ciclo e seguir a vida sem o peso do passado.

Estacionou o corpo de modo que pudesse observar a cachoeira amplamente, sem ser vista. Se ainda o conhecia minimamente, sabia que ele não tardaria a aparecer. Sempre o viu como um falso fiel do que os outros diziam, no fim, era fiel a si, e não desistiria facilmente.

Estava certa, e não pôde deixar de sorrir ao vê-lo se sentar à beira da água. Permaneceu por um tempo distante, seguramente observando suas reações sem ele a ver. Temia que o homem estivesse acompanhado e que tudo não se passasse de uma armadilha, contudo, a única coisa que viu foi seu olhar perdido para o local que ela havia saído há alguns dias porquanto brincava em suspiros quicando pedras no riacho.

_ Oi ursinho _ Falou de forma calma. O homem virou e seus olhos brilharam como o de uma criança.

ELIOT

A desejava, isso era inegável. A desejava tão intensamente como na primeira vez que a viu, e reconhecia, completamente, a natureza daquele desejo, misturavam-se ágape, eros, philia e nostalgia. Escarlate permanecia sempre em seu inconsciente, em seus sonhos mais profundos, por mais que se esforçasse em tirá-la de si. Seu peito se dividia em torcer para que ela estivesse viva e crer que talvez a morte fosse para ela o melhor destino, afirmar que a jovem nunca seria o mal e duvidar de sua própria sanidade "será que estou enfeitiçado? ", pensava, em uma eterna inconstância entre coração e pensamento, externo e interno. O fato é que Escarlate o deixava impulsivo, confirmava isso no momento em que via a si mesmo mentindo aos seus familiares, que tanto o amavam e protegiam, para ir ao encontro de uma desconhecida conhecida, e nada amada pela sua família.

Porque o fazia? Porque algo em seu peito gritava para que ele fizesse. Porque olhou em seus olhos âmbar e viu a mesma chama que via quando com ela pela floresta corria, e por aquela chama ele enfrentaria o que fosse. A amava, mesmo que temesse o que ela era, queria saber, pois precisava ouvir de seus próprios lábios se era inocente e nada fizera, ingênua e apenas caiu nas garras do mal, ou realmente era o mal, e assim não se sentiria culpado pelo que fez ou pelo o que talvez fosse obrigado a fazer.

Estacionou o corpo à beira da cachoeira e clamou para que Deus o desse uma chance "Entendo que possa parecer estranho pedir isso ao senhor, considerando que ela pode ser inimiga da tua palavra. Mas a conheço, e não posso acreditar que ela tenha caído, acredito que tenha apenas se deixado levar pelas circunstâncias e eu posso salvá-la. Me arrependo todos os dias por ter a abandonado da maneira que jurei não fazer, então, por favor, deixe-me a conhecer, saber se fiz o correto, e se não, ter dela o perdão, tentar conquistar dela o amor, e se sim, prometo concluir aquilo que eu comecei, por mais que doa no fundo do meu ser".

Estava certo de que aquelas viagens poderiam ser infrutíferas, mas as faria todos os dias antes de retornar as suas missões, até vê-la novamente não poderia desistir, e não iria.

_ Oi ursinho _ Ouviu uma voz suavemente feminina por suas costas. O homem virou e seus olhos brilharam como o de uma criança.


FLASHBACK ON

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