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ESCARLATE

Seus pés caminhavam cuidadosamente intentando não fazer barulho. Na cama, ao seu lado Eliot adormecia em um sono profundo cansado da rotina exaustiva que assumiu. Escarlate foi em direção a grande janela que se encontrava na sala, por lá, a lua se mostrava grandiosa em sua fase cheia. Observava como a vida noturna da cidade era agitada, haviam bares, mulheres de vestidos exuberantes e todo tipo de cavalheiro. Sentou-se na varanda munida de um copo de vinho enquanto notava cada singularidade do ambiente, era tão diferente de seu verdadeiro lar, era excitante observá-los.

Viu de longe flertes, rivalidades traduzidas apenas com olhares, e outras escancaradas. Via casais de jovens inocentemente apaixonados e senhores casados que se encontravam escondidos nas ruelas escuras. A vida era intensa, com um bombardeio frequente de informações a qual ela adorava analisar.

Olhou em direção ao quarto, Eliot permanecia da mesma maneira, em um sono tão pesado que se não fosse pelo leve movimento em seu tórax podia jurar que havia falecido. "Eu não sei o que fazer com você", pensou. Olhou em direção a cômoda da sala, em cima se encontrava a raposa que Avalon dera a ela. "Eu sei que você cresce cada vez mais minha pequena, mas eu ainda não consigo entender o porquê", pronunciou em voz baixa. Olhou para a lua ao céu "E se eu for descoberta, o que será de mim?", pensou, tomando o restante de vinho de sua taça.

3 Meses Antes

Ouvia-se uma grande balbúrdia. O ambiente estava repleto de indivíduos em desordem. Andavam apressadamente, esbarravam-se em uma grande tagarelice. Falavam e riam de maneira exagerada em igualdade com suas vestes. Preenchido por poucas árvores o lugar era acinzentado, com um cheiro pesado de fumaça e ruas estreitas que se perdiam no horizonte, além do que seu olhar conseguia alcançar.

Eliot se encontrava empolgado, repetia alegremente o quanto aquilo tudo era maravilhoso e como ansiava pela nova vida. Escarlate, por outro lado, encolhia-se incapaz de dar total atenção as suas palavras. Os sons, a multidão, as cores superestimulavam os seus sentidos e a acuava, contudo, permanecia sorrindo em disfarce a sua condição. O homem havia saído de casa com toda a sua reserva financeira, largou a igreja e arrumou um emprego, através dos amigos que fizera em suas viagens, em uma fábrica de tecidos.

Tinha que admitir, de fato, ele abriu mão de muito para estar ao seu lado e isso dava a ela um amparo, afinal, ele demonstrava cada vez mais aquela personalidade que tanto a cativava na infância, "Agora somos eu e você contra o mundo, sempre nos protegeremos", ele afirmava e a fazia sentir que sua escolha não foi um erro, tinha apenas iniciado uma nova fase em sua vida, ele se mostrava disposto, poderiam juntos encontrar a felicidade.

Porquanto andava continuava a prestar atenção no ambiente e notou que lá o tom de seus cabelos era totalmente irrelevante. O povo se focava tanto em seus próprios afazeres que nem ao menos dirigiam-lhe o olhar, e por lá, viu mulheres com tons tão vívidos quanto os dela e não deixou de pensar "será que meu pai veio de um lugar assim? ".

Dirigiam-se para uma escada em uma pequena viela e lá subiram. Encontrava-se várias portas com numerações em um grande corredor, Eliot abriu uma específica, 202.

_ Pronto! _ Disse-o com um enorme sorriso nos lábios, expondo toda a sua excitação, após abrir com certa dificuldade _ Esse é o nosso novo lar.

Escarlate se perdia olhando por cima de seus ombros todas aquelas portas, em estranheza e curiosidade.

_ São nossas também? _ Disse referindo-se a elas.

_ Não, esses são nossos vizinhos, você terá tempo para conhece-los. A nossa casa é essa.

O Conto EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora