Capítulo 1

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É como no faroeste. Quero dizer, estou olhando pro céu agora mesmo, e o sol está queimando como se estivesse há menos de 1000 metros de mim. Os pêlos dos meus braços estão ardendo. Meu avô está sem camisa exibindo sua barriga saliente dourada enquanto assa carne na grelha.

— Aceita chá gelado? — vovó pergunta passando por mim com seu vestido esvoaçante. Sorrio balançando a cabeça negativamente — Está se sentindo bem? Suas bochechas estão vermelhas demais.

Toco meu rosto por instinto e me olho pela câmera do celular. Meu cabelo está grudado em diversas partes da cabeça, linhas de suor marcam minha testa e os cantos do nariz. Suspiro aceitando o chá e bebericando contra minha vontade. Detesto chá.

— É sempre quente assim? — pergunto de uma vez. Estou aqui há dois dias. A temperatura mais baixa que tivemos foi 39° graus.

— É verão, o que você estava esperando? Neve? — meu avô quem fala, e estala a língua para mim — Posso providenciar uma piscina pra você, que tal?

— Seria bem legal.

— Uma de plástico ou daquelas infláveis. — esclarece.

— Eu ficaria muito feliz. — admito. Ele assente voltando o foco para a carne, vovó está em pé colocando os pratos na mesa — O que tem pra mim fazer por aqui?

— Bem... Tem algumas lojas. Muita gente da sua idade está passando as férias longe mas ouvi dizer que os alunos do último ano e alguns do segundo ficaram, por conta de um incidente que tiveram com as provas. — fala, enquanto organiza os talheres — Eles fazem festas e se encontram no lago, aquele no limite da cidade. São jovens simpáticos, você vai ver.

Ainda não vi ninguém da minha idade mas também pudera, meus avós moram num bairro dos bons. Só tem gente mais velha por aqui porém todos são gentis então, tudo está bem.

— Meu amigo Trent Williams, do carteado, tem um neto de 17 anos. O menino é uma graça, ele vai trazê-lo para o jantar mais tarde. — vovô anuncia. Rio baixo — É antiquado mas fui bem intencionado Sabrina.

— Eu sei vovô, tô de boa.

— Está de boa. — repete, rindo baixinho. Ele tem 70 anos, olhos muito verdes e um sorriso de galã — Sabrina sinto que você me fará sentir como um garanhão nesse tempo que ficar aqui com a gente.

— Minha gíria favorita até agora é “não fode” — vovó declara, olhando pra mim empolgada. Os cabelos castanhos continuam muito brilhantes, tem olhos azuis e sardas no rosto. Eu lhe daria no máximo, 45 anos mas ela tem 69. Corpo de atleta, era nadadora e ultimamente pratica ciclismo — Não fode! Douglas queimou meus hambúrgueres! — ela simula e os dois caem na risada — Me sinto como uma jovem de 17 anos! Deus, vai ser um ótimo verão querida.

Sorrio, e do fundo do coração, espero que seja mesmo.

       

          Meu quarto aqui é até mais legal do que na minha casa. Fiquei com o espaço da tia Ruth, e ela viveu uma fase meio hippie no ensino médio então as paredes são cobertas com pôsteres e recortes de jornais. Ao redor da janela que tem vista pra rua, tem florzinhas e borboletas pintadas por ela com tinta colorida. A cama é pequena mas há uma escrivaninha e um guarda-roupas vintage, dentro até tem alguns jeans 38 e vestidinhos soltos.

Suspiro desabando na cama e checando minhas redes sociais. Tem uma centena de mensagem do Benjamin, não fui burra de ler alguma. Também tem várias das meninas. Quando vejo o nome da Florence ao lado de 105 notificações, abro. Rolo pra última mensagem que ela mandou e tento ignorar o desespero das outras 104.

Verão De 1994Onde histórias criam vida. Descubra agora