Feeling Myself

16- Nem sempre, o futuro consegue se conectar ao passado.

A vida tende a te pôr em situações das quais você tem que estar pronto para enfrentar, no entanto, mesmo que em seus sonhos mais deliberantes de fantasiar o encontro com Kibum algum dia de sua vida ela já tivesse imaginado, Yanna definitivamente não estava nenhum pouco preparada para reencontra-lo.

Na frente dos outros era como uma mulher forte e impotente, mulher em que todas as mulheres da Coreia se inspiravam para serem em algum momento de suas vidas, e mesmo que no íntimo de sua casa, pessoas como o marido e os filhos e até mesmo alguns funcionários enxeridos sabiam que ela na verdade era uma mulher infeliz e frequentemente insegura, nem ela mesma saberia dizer qual Yanna estava ali, olhando-o como se a foto antiga que tem escondida dentro de um dos seus cofres, tivesse se materializado fisicamente em sua frente.

Os anos definitivamente haviam passado para ambos, ela não era mais como a mulher que ele havia visto a dezessete anos atrás e ele com toda a certeza não era mais o homem que viu indo embora para Rússia afim de seguir os sonhos.

Tudo se seguiu de forma rápida, Yanna continuou parada em frente a Kibum e a lágrima que derramou em seu rosto, ninguém sabia dizer se eram pelas lembranças que passavam em sua mente durante sua meditação em frente ao túmulo do filho, ou se era pela visão que via em sua frente, mas não ficaram muito tempo parados, mesmo que de forma um pouco desconcertante e que nem de longe, um cemitério era um lugar bom de ter uma conversa sobre suas vidas, Yanna com o susto mais contido, o convidou meio de forma robótica para tomarem um café em uma das cafeteiras mais famosas que tinha pelas redondezas.

O visitante aceitou e cada um foi no próprio carro, chegando lá, ela ainda estava relutante em sair do seu quando chegaram em frente ao Mondoongie coffe, mas, seguiu com a ideia que tivera e naquele momento ambos estavam frente a frente, esperando quem tomaria a iniciativa primeiro, agora ela poderia dizer que sentia-se como se tivesse dezoito anos novamente o nervosismo lhe fazia sentir isso.

-Então...- disseram juntos e riram brevemente, Kibum pediu para que ela prosseguisse, mas ela insistiu que ele poderia falar primeiro. Sendo assim, Kibum começara a dizer coisas que ela realmente não esperava, não logo em um primeiro momento...

- Quando eu deixei a Coréia a alguns anos atrás e eu a vi ficando para trás, algo dentro de mim dizia que você desistiria de ficar por aqui e tentaria realizar o seu sonho de ser uma bailarina profissional- Kibum começara sem perder muito tempo com rodeios, parecia querer chegar em algum ponto especifico e Yanna prestava atenção em todas as palavras. - Nos primeiros meses em que eu estava na Rússia, eu acordava no meio da noite imaginando que você chegaria no alojamento e finalmente poderíamos começar a nossa sonhada aventura no mundo do balé, mas eu lembro que a última vez em que eu a vi de fato, foi quando em menos de uma semana ou até mesmo duas, não me recordo bem... alguns jornais locais coreanos, em que eu acompanhei pela internet, pelos computadores que existiam por lá, diziam que a herdeira Yoo Yanna iria se casar em breve... e desde aquele dia, eu não procurei por mais nada que tivesse vínculo a você... - as palavras ditas por Kibum saiam tão naturalmente que na mente da mulher, ela se perguntava se ele não estava se sentindo queimando por dentro, como ela estava.

Kibum bebericou o café quente enquanto encarava Yanna olhando para a própria xícara, ele iria prosseguir, era como se as palavras que tanto guardou por anos, finalmente seriam ditas.

- Me perguntei por muito tempo o que poderia ter acontecido com você e em uma das minhas muitas meditações eu entendi. Você tinha duas escolhas, ficar com alguém que você não teria segurança nenhuma do que poderia acontecer e ainda por cima em um país desconhecido ou, continuar aqui, aonde você teria todo o conforto que sempre teve, sem que as surpresas do cotidiano pudessem te fazer sentir medo...

Kibum encarava a moça que insistia em permanecer de cabeça baixa, o café frio na xícara pedia com urgência um pouco de sua atenção, mas Yanna não sabia como reagir, tampouco beber de sua xícara em que o café gelado já se encontrava.