CONTOS DA PARADA

PRÓLOGO

Felipe estacionou o carro em frente a portaria do prédio de Samanta, e ouviu Gabriele rir.
- Esses crentes ainda jogam a Sam na fogueira. - Gabriele murmurou apontando para uma garota vestida com uma saia na altura dos joelhos, e uma bata comprida e de mangas longas. - Se descobrirem para onde ela está indo...
- Ninguém vai descobrir. Os pais dela não vão nem pensar em olhar qualquer coisa da Parada, tamanha é a repulsa.
Samanta entrou no carro, quieta, e pediu baixinho para Felipe sair dali. Dois quarteirões adiante pareceu soltar a respiração, e se virou, olhando séria para Gabriele. Depois caiu numa gargalhada, e foi acompanhada pelos outros dois.
- Me salvem, por favor! Vocês trouxeram maquiagem?
- Claro! A gente termina de se arrumar na casa da Helena.
- Por falar nela... A tal da Clara ligou?
- Não! - Felipe estava indignado. - Nem você, que tem uma família tão escrota, é tão medrosa como essa mulher. Não sei como a Helena ainda tem paciência.
- Ela está apaixonada. - Gabriele sorria. - Um dia você aprende, seu bostinha.
- Quem sabe esse dia não é hoje, Gabi?
- No meio da Parada?! - Felipe gargalhava. - Pelo amor do RuPaul, viu beloved.
Samanta sorriu olhando para Gabriele pelo retrovisor, que assentiu.
Tudo conspirava para um dia perfeito: o sol deu o ar da graça, os pais da Samanta iriam para um culto fechado, para orar pela salvação das almas que estariam na Parada, os amigos chegariam a tempo da saída do trio da Pabllo...
- Perfeito demais para ser verdade. - Gabriele bufou no banco de trás. - Helena está aqui dizendo que não vai mais. Que está na bad, que não tem o que fazer lá. Meu pai amadoooo! Quem inventou sapatão canceriana não foi Deus, eu tenho CERTEZA!
- Vamos lá ou não?- Felipe quis saber.
- É claro que vamos! - Samanta gritou. - Querido, eu não piso nessa Parada faltando uma letra NEM FODENDO! Traz má sorte.
- É isso mesmo! - Gabi rangia os dentes. - Helena vai nem que seja arrastada pelos cabelos.