Cap 4

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Eu estou a caminho do cemitério, já são onze horas da manhã, mas estou acordada desde as seis. Eu e Jhonny
vamos visitar o túmulo de alguns amigos e familiares, são simbólicos, na verdade são grandes muros de marmore erguidos com os nomes gravados, Jhonny me faz parar de escrever toda hora porque quer ler o que estou escrevendo.
- risos
Ele é muito curioso e quer palpitar no que eu estou escrevendo "você já falou de mim", "o que você escreveu?", "Falou que eu sou bonitão?".

- Ta aqui, esse e o túmulo da Rayssa - Jhonny diz com um pesar na voz.

Os túmulos/pedras são separados por estado, dia, mês e ano de nascimento, aqui estão todas as pessoas pertencentes ao estado de São Paulo que nasceram em 1998/03/01
Rayssa era uma amiga minha de infância, conversei com a mãe dela recentemente e descobri que ela não estava mais entre nós, ela estava grávida e noiva quando tudo aconteceu.

Eu visitei outros amigos rapidamente e fui embora, tinha que ir a casa de César, ele precisava conversar comigo sobre um caso meu, eu fui afastada do trabalho a três semanas devido ao meu último caso.

- Jhonny, você vem? - pergunto enquanto caminho em direção a saída.
- Sim ja vou - diz ele ao se levantar do chão todo atrapalhado.
Jhonny veio trazer flores para a mãe, eu nem imagino o quanto deve ser difícil, principalmente porque ele sempre está sorrindo.

Eu estava cuidando do meu primeiro grande caso, quando fui afastada, uma mãe estava procurando o filho de mesmo signo Aries. Eu fui procurada por Dauria Aris, seu filho Victor Aris desapareceu após ser acusado de traição a Ariens (Facção ariana). Ele tinha sido acusado de quebrar o sigilo militar 40.1, que proíbe qualquer soldado de se envolver ou revelar assuntos de poder maior. Victor tinha sido mandado para EUA havia dois meses, porém retornou em menos de um mês, 72 horas de seu retorno repentino ao Brasil, ele recebeu uma carta solicitando sua presença no centro de concentração militar.
Dauria disse que o comportamento de Victor estava estranho, disse que ele foi viajar relatando que só voltaria em 6 meses e voltou bem antes, a volta antecipada de seu filho não levantou nenhuma dúvida, ela relata que ficou muito feliz com o seu retorno e não fez muitas perguntas, ela ainda acrescentou que o filho passava mais de um mês fora de casa quando ia para o CC (CENTRO DE CONCENTRAÇÃO) mas costumava mandar notícias pelo menos uma vez por dia. Após 8 dias sem notícia do filho suas suspeitas começaram. Dauria era detetive aposentada em Ariens e foi atrás de seu filho sem a autorização da delegacia, a resposta dada por seus comandantes foi:
"Nunca houve um comunicado, não podemos ajudar"
Dauria desconfiou que seu filho fora preso ou executado então foi atrás de Magda Eris, também Ariana.

Magda trabalhava na área de funerais e necropsia para o governo, ela contou a Dauria que recebeu uma serie de corpos de soldados com doenças diversificadas. Os serviços funerários de hoje trabalham juntamente ao geminianos, lá eles disponibilizam cadáveres para estudos, pesquisas e claro, para se livrar devidamente de corpos que soltam aerossóis, devido as doenças, é necessário cremalos.

Dauria perguntou sobre um menino alto de cabelo raspado, forte com uma pinta marrom perto do olho.
Magda verificou em seus registros e se desculpou-se por não saber de nenhum menino com esse perfil, mas a quatro dias tinha recebido um corpo multilado a tiros no rosto onde na papelada descrevia o ato de responsabilidade terrorista.

Eu fui atrás de respostas, fui a bares clandestinos das regiões com Dauria, conversarmos com ex assassinos e ex presos e nada. Como tenho conhecidos no arquivo criminal pedi que procurassem em casos recentes e nada foi encontrado. Por ter trabalhado no arquivo por uns meses sabia exatamente onde ficava os crachás de acesso restrito, então fui atrás dos arquivos militares.
Eu sabia que nenhum dos meus amigos do arquivo procuraria nos restritos. Tive que passar por três guardas de vigilância - confesso que não foi fácil.
Peguei o elevador até o quarto subsolo, assim que cheguei em arquivos restritos, procurei em assassinatos e fiquei pasma com as coisas que li. Mas não encontrei nada sobre Victor. Então fui a sala do meu chefe Arthur Limbr, ele tem uma pasta de arquivos especiais dentro de uma estante trancada, tive que abrir com um alicate e dois clipes de papel. E lá estava.
Victor Aris soldado ariano - executado
Li e reli o caso de Victor, gravei na memória tudo o que pude e fui embora correndo.

No outro dia de manhã fui chamada na sala e meu chefe disse que assumiria o meu caso, que eu seria afastada por algumas semanas e um
" Não questione, vai ser pior pra você"

Eu claramente fui atrás de Dauria e contei o que aconteceu com Victor, esperei até o fim da tarde pouco mais de dezoito horas pensando se haveria mais chamados de emergência. Eu achei que seria perigoso se ela soubesse o motivo então não revelei tudo o que sabia, era um direito dela, mas sei exatamente qual seria sua reação e o que isso causaria a ela. Tentei convence-la a parar de procurar, eu tinha receio que Dauria tivesse o mesmo destino que o filho, por fim expliquei que havia sido afastada.
Ela olhou para mim seriamente, disse que eu não deveria mais me envolver agradeceu e se levantou para ir embora.

- Querida, fique em paz eu ficarei, agora que sei onde meu filho está - Dauria disse colocando a mão em meu ombro.
A sensação de impotência em não poder ajudá-la..
Eu me lembro de pensar o quanto ela era forte, não demonstrou emoção alguma, se levantou e saiu então eu a chamei novamente. Ela parou de costas para mim, eu me levantei e fui até ela, quando a virei ela estava com os olhos cheios de lágrimas.
- Dauria.. - eu disse com o coração apertado.
- Tudo bem querida - ela diz passando a mão em meus cabelos - eu não vou procurar mais - ela prometeu a mim e saiu da cafeteira sacudindo o cachecol antigo que usava.
Eu fiquei na cafeteria até tarde naquele dia, escrevendo sobre o caso e peguei o último ônibus para LIBREONS.
Eu não tive mais notícias de Dauria depois deste dia..

Neste momento eu estou no ônibus novamente, eu sai do cemitério pouco mais de 13 horas, o caminho até a minha casa é de uma hora a uma hora e meia, eu vou dormir.
Jhonny encosta a cabeça no vidro e eu a minha no ombro dele, quando acordo vi que faltava três paradas para chegar em casa, minhas coisas caíram tuudo no chão, legal.

- Jhonny? - digo sacudindo ele.
- Quie? - ele diz virando pro outro lado
- Vamos Jhonny o ponto que você desce esta chegando - falo puxando ele.
- Ta, ja levantei - Ele diz bocejando.

Jhonny desce do ônibus e fica me olhando seguir viagem.
Chegando em casa, fui para o banho, meia hora depois escuto alguém tocar a campainha coloco o meu roupão e vou atender a porta, é Jhonny.

- O que aconteceu? - pergunto ao abrir a porta.
- Fui despejado - ele responde me olhando de cima a baixo com uma cara maliciosa - Eu não consegui arranjar o dinheiro pro aluguel.
- Como assim? você disse que tinha arranjado outro emprego Jhonny. - eu digo ao bater nele.
- Eu menti - ele responde.

Jhonny trabalhava comigo no escritório, porem chegava atrasado e faltava no curso de Advocacia criminal em que foi matriculado.
- Quer ficar uns dias aqui em casa? - eu pergunto. - eu vou viajar amanhã.
- Claro, eu cuido da casa, ue você não ia pra casa do seu amigo? - ele pergunta sorrindo.
- Não vou mais, ele cancelo - respondo.

Eu fiquei vendo filme com Jhonny o resto do dia, fui dormir bem cedo, acordei as cinco da manhã, tomei um banho, escovei os dentes e desci para fazer o café da manhã.
Encontro Jhonny de boca aberta e um saco de biscoito de cenoura.

Deixei um bilhete na bancada e sai.
Jhonny, Bom dia não quis te acordar
Tem panquecas no forno, e café pronto.
Pare de comer meus biscoitos de cenoura!
Deixei o jornal com um anúncio de emprego circulado, por favor não bote fogo na casa.
Beijos.

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