Genevieve estava nauseada e parte de seu mal-estar provinha da fome. Embora todos os seus reflexos e sentidos estivessem lentos, seu coração contraditoriamente batia rápido. Havia muitas novidades para assimilar, não sabia sequer onde haviam aportado; pelo sotaque dos residentes, supôs que era em algum lugar na Inglaterra.
Encontrava-se longe demais de casa, foi comercializada, exposta e humilhada. Passou a pertencer a outra pessoa, com contrato assinado e tudo; ainda não sabia o que significava, jamais se imaginou sendo negociada, pelo menos não esse tipo de negócio, obviamente que sua mão já fora discutida com Vincent, e ela sabia que um dia o matrimônio viria, entretanto, os acordos que os cavalheiros interessados estipulavam com seu irmão mais velho eram diferentes, menos brutais e indigestos.
Enquanto esteve na fila do leilão, aguardando que o “evento” se iniciasse, seus olhos cruzaram com o de outras mulheres que estavam tão ou mais perdidas do que ela. Genevieve havia acabado de receber a notícia de que seria leiloada e considerou correr o mais rápido que pudesse e se atirar no mar. Que as ondas embalassem o seu sono profundo, por um momento, essa solução lhe pareceu até mesmo bonita; um sepulcro de águas salgadas, sob o céu cinzento e tempestuoso durante o dia, e sob a luz da lua e a névoa ao anoitecer.
Seu peito subia e descia rápido, suor frio cobriu sua nuca. Ela tomou sua decisão. Genevieve deu um curto passo, tendo a intenção de colocar o plano em prática, mas uma mão suave e quente segurou seu pulso. Odiava ser tocada, sua sensibilidade extrema acabava por fazê-la sofrer consequências físicas nada agradáveis ao entrar em contato com outras pessoas, contudo, esse toque em específico somente lhe proporcionou calmaria.
Uma dama estava diante dela, seu olhar apagado e suas vestes surradas evidenciavam que também estava ali para ser vendida. Seus cabelos louros, fartos e brilhantes a diferiam das demais mulheres, alguns cavalheiros viravam os pescoços para vê-la, ostentavam cobiça em cada traço de seus rostos grosseiros.
— Me chamo Grace. — Sorriu, triste. — Eu também estou com medo — segredou.
A mão cálida ainda estava sobre a de Genevieve, confortando-a. Sua pele se arrepiou, era um presságio, a lua cantou em seus ouvidos, apesar de dia. Em meio ao escuro absoluto que se instalou em seu coração, a ponto de sufocá-la de tal forma que a morte lhe parecia a única opção, Grace surgiu como uma vela acesa, simbolizando que nem tudo estava perdido.
— Obrigada. — Foi a única palavra que pôde articular.
— Venha. — Um homem puxou Grace, por uma corda em torno de sua cintura, que muito se assemelhava a um cabresto. De tão atordoada, Genevieve não notou aquele instrumento bárbaro antes.
Grace apertou a sua mão uma última vez e se afastou; Genevieve cerrou as pálpebras e inspirou longamente. Esteve prestes a cometer um desatino, mas a lua a alertou, enviando uma mensageira para impedi-la. Optou por depositar sua sorte nas mãos do destino, confiando em forças que mal conhecia, mas que sempre a ampararam. Enfrentaria o leilão.
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A Dama do Luar: Bruxas Vitorianas [DEGUSTAÇÃO]
RomanceHISTÓRIA COMPLETA NA AMAZON 🌙 Genevieve Johnson guarda um segredo. Escondida sob o véu da noite, protegida pelo luar, a dama se aprofunda nas plantações de sua família. Buscando reestabelecer uma colheita fadada ao fracasso, Genevieve faz o possíve...