Massachusetts, 1863
Pés descalços de encontro à terra úmida, Genevieve Johnson corria por entre as plantações de tabaco, pertencentes a sua família desde a época das colônias. A dama usava um vestido simples de cor azul, adequado para a primavera, que deixava os braços descobertos. Alguns grampos soltaram-se de seus cabelos por conta da movimentação; permitindo que os cachos longos e negros ficassem livres aos caprichos do vento.
Seu peito subia e descia, a boca estava seca, os batimentos cardíacos eram descompassados; evidências de um coração culpado. Culpa essa que a subjugava, atava seus pulsos e pernas nos grilhões do medo; contudo Genevieve não deixaria que os temores impedissem-na de ajudar da maneira que podia, a única que conhecia.
A forca se desenhava sob suas pálpebras fechadas durante todas às vezes que se permitia refletir sobre o que fazia furtivamente a cada primeiro dia de lua cheia, mas era verdade que certas situações demandavam esforços e tomadas de decisões difíceis e tampouco consideradas ortodoxas. Acreditava ser uma pessoa prática, apesar de tudo.
O véu noturno a cobria, ocultando seus passos e lhe propiciava algum conforto, abrandando uma parcela do medo que sentia. A lua ofertava a iluminação necessária, tocando a pele de Genevieve com um suave brilho perolado, acalentando-a como faria um abraço materno.
Genevieve acelerou os passos, penetrando o coração da plantação; abriu os braços, tocando suavemente as folhas, sentindo as texturas nos dedos. Os cultivares pulsavam, seguindo os batimentos da moça, e respiravam, expandindo e encolhendo assim como os pulmões dela. Genevieve era capaz de sentir cada sutil nuance do ambiente que a cercava, estava sensível, seu corpo já tomava uma cadência embargada e hipnótica, efeitos causados por estar exposta à lua.
Os anseios esmaeciam conforme se aproximava do centro, o ponto exato onde precisava estar. A completa lucidez e o domínio sobre o corpo também se perdiam, em seu lugar permaneciam meros impulsos e o mais profundo instinto, enterrado na carne e no sangue.
Teve vontade de dançar e entregou-se ao magnetismo inexplicável, era sempre mais fácil quando não resistia. Deu algumas voltas, agitando a saia do vestido. Havia uma música alta e agradável que somente ela podia ouvir, eram tambores que ressoavam por todo o corpo e ditavam o ritmo de seu coração. Eram delicados sinos contidos no vento, que se mesclavam ao farfalhar das folhas.
Genevieve deixou-se levar pela canção, girando de braços abertos, de modo que a luz da lua a tocava por inteiro. Alguns movimentos eram suaves, outros precisos e enérgicos, seu corpo se movia de uma maneira que aparentava embriaguez, e nesse estágio, Genevieve realmente encontrava-se fora de si, entregue ao comando de algo que nem mesmo ela sabia denominar.
Então parou abruptamente, enterrou os pés na terra e sentiu a energia pulsar e fluir através de seu corpo. Ergueu os braços bem altos, com as palmas voltadas para cima, em direção a lua, retirando dali a força necessária para tentar recuperar os canteiros, ou ao menos, minimizar as perdas que recaíram sobre as plantas da propriedade.
Fechou os olhos, ouvindo a melodia suave da lua em seus ouvidos, sentiu o vento tocando a pele e o cheiro fresco que pairava no ar. Quando voltou a abri-los, sua íris estava enevoada, a cor lunar tomando o azul acinzentado que pertencia a Genevieve. Suas mãos brilhavam uma fraca luz e em um ímpeto, as cravou no solo; preenchendo-o com os dons ofertados pela lua, concedendo saúde para as plantas doentes.
Veios de energia penetravam e se alastravam pela terra, sendo absorvidos pelas raízes, subindo pelo caule e espalhando-se pelas folhas, que passavam a vicejar. Genevieve podia sentir cada mudança na plantação, o grande pulmão tomava uma longa respiração, enchendo de vida o que antes perecia, expurgando a podridão ocre da morte.
Os seus braços começaram a doer e tremer, pontadas agudas acometiam as articulações e ela teve que morder o lábio para não gritar. O processo a exauria por completo, contudo era um preço justo a se pagar pelo abençoado dom.
- O que está fazendo?
Genevieve piscou algumas vezes, perdendo a conexão, seus olhos retomaram o tom azul cinéreo e ela se pôs de pé, cambaleando.
- Vincent!
Olá! Espero que tenham gostado dessa surpresa de terem o Prólogo adiantado. A LaariGomes_ também soltou o Prólogo do Conde e está um chuchu.
Agradeço a presença de todos vocês e peço que não se esqueçam de votar e comentar. Adoro saber o que estão pensando 🌙
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Beijos cheios de magia e até sexta ✨
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A Dama do Luar: Bruxas Vitorianas [DEGUSTAÇÃO]
Storie d'amoreHISTÓRIA COMPLETA NA AMAZON 🌙 Genevieve Johnson guarda um segredo. Escondida sob o véu da noite, protegida pelo luar, a dama se aprofunda nas plantações de sua família. Buscando reestabelecer uma colheita fadada ao fracasso, Genevieve faz o possíve...