PRÓLOGO

8 1 2
                                    


700 a.C- Vale do Povo do Sol

Reinier gritava de dor enquanto sua filha apontava a sua entrada gritando para vir ao mundo também. Era uma noite de Lua cheia e muita chuva com raios e trovões, ninguém do Vale entendia o que estava ocorrendo, não foram avisados pelos Antigos sobre aquela tempestade e o dia estava muito claro, não indicando a vinda de nenhuma tempestade. Muitos olhavam para a situação como um mau agouro, Reinier ficou sozinha para dar a luz a sua filha, seu povo disse que ela estava amaldiçoada porque a vinda dela havia mudado o tempo de uma forma nunca antes vista.

Quando a criança chorosa saiu, Reinier viu um raio verde adentrar a caverna onde escondeu-se para ter o seu bebê, o raio perpassou o ar e chocou-se ao peito da sua filha, e três filamentos em verde esmeralda apareceram no tórax da criança, entre os seios, como marcas de garras.

Na mesma noite Reinier fugiu de seu lar com Nimue, sua filha. Sabia que os anciões iriam mata-la e chama-la de criança maldita. Havia uma lenda no povo mágico que dizia que crianças nascidas com essa marca poderiam mudar o destino do mundo. Ela sabia que assim como muitos desejariam tem Nimue por perto, a grande maioria iria tentar mata-la para não perder sues postos de comando. O povo do Sol é um povo antigo e cheio de suas antigas crendices, Nimue seria vista como um verdadeiro demônio pelos anciões.

Reinier podia ouvir a voz de Instela, que é uma das anciãs, em sua mente: Nenhum poder do bem é dado dessa forma a qualquer ser, ela é uma criatura das trevas!

Instela sempre dizia que não é correto que algumas criaturas nasçam poderosas, o que Reinier sempre achou bem estranho, já que ela mesma nasceu com um poder incomum. No fundo ela sabia que Instela dizia aquilo para continuar no poder, para continuar sendo acessada e ouvida por todos, para continuar sendo a lei. E foi exatamente por isso que ela correu e fugiu, sabia qual destino aguardaria a sua menina.

Passou toda a noite correndo e deparou-se ao meio do outro dia com um pacato povoado, lá encontrou uma senhora que lhe olhou e sorriu. Reinier sentiu o sangue gelar em seus ossos, sentia o mal provindo daquela senhora, mas não pôde fazer nada quando seus filhos e netos a pegaram e prenderam-na.

A velha lhe disse que sentia o cheiro de Nimue e a chamou de ''filhote de dragão'', disse que sua família era um clã de caçadores e por mais que Reinier dissesse que a filha não era nada do que ela dizia, a velha empunhou seu punhal manchado de sangue enegrecido e com toda a sua força o direcionou a cabeça de Nimue, a velha disse que sabia que era naquela região, exatamente entre os olhos, onde se podia matar a um dragão. Quando o punhal desceu em golpe certeiro e mortal, antes de tocar a pele de Nimue o mesmo trovão em verde escarlate apareceu, atingindo em cheio a anciã no mesmo local em que ela tentara atingir ao bebê. A velha caiu com seus olhos tão esbranquiçados quanto leite, havia ficado cega. Antes que os filhos da anciã entrassem, Reinier agarrou sua filha e mais uma vez correu floresta adentro e só parou quando encontrou o Vale da Chuva.

Algumas pessoas passaram a avistar dragões desde aquele dia, logo eles se tornaram o grande esporte dos guerreiros, era uma grande honra portar um dente ou escama de dragão. No fundo, Renier sabia que o aparecimento dos dragões tinha algo a ver com o evento ocorrido naquele casebre, a força que ela sentiu não era provinda do povo mágico, era algo tão antigo que nem ela ousaria em tentar descrever.

Ela nunca mostrou as marcas de Nimue a ninguém, e sempre ensinou a filha a jamais trocar-se em frente a qualquer um. Lá, no Vale da Chuva, foram acolhidas e Reinier casou-se de novo com um homem da colheita, simples e calado, mas muito amado pelo povo da Chuva.

Nimue cresceu ali como uma criança da Chuva e aprendeu desde cedo a arte da cura através das mãos. Estranhamente, mesmo não sendo de fato alguém do Vale da Chuva, Nimue era uma das mais poderosas alunas dali, era bondosa, gentil e franca, mas as vezes sentia que existia algo nela pronto para explodir e ganhar a vida, as vezes não queria ser tão gentil como era, sentia que havia um lado seu que sabia mais do que ela mesma e esse lado estava sedento de justiça e sentia raiva de todos. Como uma fera que a todo momento ela precisasse conter, porque se não o fizesse, sairia e destruiria tudo.

O povo da Chuva era conhecido pelo silencio, serenidade e vivia em um estado latente de meditação. Diziam que viver assim os permitia ser um com a natureza, e assim ela aprendeu a silenciar a fera que as vezes rugia. Nimue teve uma infância feliz, teve uma família, amigos, um lar, mas, do dia para a noite tudo mudou.


Elphest - A magia do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora