Saiu daquele local aos tropeços e caminhou até a floresta, sua respiração entrecortada era prenuncio de algo que corria em sua direção, ela não sabia o que ou quem, só sentia o perigo tão iminente que seu peito doía.
Nimue retornou a choupana e lá encontrou Nebrusk. De supetão, respirou profundamente, pensou que o rapaz não merecia dela o desequilíbrio que sentia.
— Desculpe por lhe aguardar aqui, podemos nos falar um pouco? — questionou com sua baixa voz e jeito contido.
— Claro, Nebrusk! O que te aflige?
— Nada! Em verdade, o que disse trouxe imenso refrigério ao meu coração. Se tivesse nascido com os olhos azuis, teria a única opção de caçar e matar dragões, agora posso ser qualquer coisa, ter qualquer ofício que me pareça bom. Vim, em verdade, agradecer-lhe por ter me auxiliado! Não sabia o quanto, mas o fato de ser diferente de minha família sempre foi um peso gigantesco para mim, agora é como se ele não existisse mais.
Disse como em único fôlego.
Nimue sorriu, esquecendo-se do que outrora estava sentindo. Sentiu-se tão feliz por Nebrusk estar sorrindo, que isso foi uma felicidade imensa ao seu coração também.
— Ninguém nasce sem um bom propósito na vida, Nebrusk. — disse apenas.
— Mas, há pessoas que fazem o mal, não é?
— Sim, há. São as que dão as costas ao seu bom propósito de nascimento. Nada no mundo há que não tenha sido criado como ode ao belo e ao bom — Nimue girou ao redor de si mesma e foi como se as folhas dançassem ao seu redor. — Mas nós as vezes escolhemos caminhos escusos e renegamos o quão belo podemos ser.
Nebrusk silenciou enquanto sorvia de forma lenta a cada palavra de Nimue.
— Nimue, pode me ensinar magia? — dessa vez encarava Nimue em seus olhos sem pestanejar.
— Magia se desenvolve, Nebrusk, não se ensina. Deixe-me ver... Magia é como a pequena brasa acesa que cria a fogueira, a brasa precisa estar lá, desenvolvendo-a, cria-se a fogueira. E, tenho algo a lhe falar. — Nimue sustentou as mãos do garoto para lhe dizer algo que sentia em seu íntimo que deveria ser dito— Você tem a magia de trazer esperança e sorrisos, de salvar vidas. Quando lhe for pedido para usá-la, não a renegue.
— Não irei! Agora, preciso ir.
O garoto despediu-se com um sorriso e Nimue estremeceu como se um vento gelado lhe atingisse por dentro. Ela não via, mas Serin estava escondido a ouvir e observar tudo o que ela fazia. Ele, logo após a pequena ceia, foi direto até a choupana revirar as coisas de Nimue em busca de maiores informações sobre ela.
Ao entrar na choupana e juntar suas poucas coisas, Nimue sentiu as marcas em seu plexo pulsando como se um coração batesse ali, e no escuro do lugar os vincos brilhavam em verde oliva.
Nimue saiu apressada quando ouviu um barulho que nunca antes ouvira, acima de sua cabeça vislumbrou um imenso dragão passando em rasante pela propriedade de Eslayen. Logo pôde ouvir também os gritos provindos do povoado.
Nimue preocupou-se com Nebrusk e correu em direção a grande casa, de longe já pôde observar os irmãos com suas imensas armas atirando de encontro ao dragão verde.
Conseguiram prender sua pata e ele pousou no solo com uma leveza que não condizia com seu tamanho, uma onda de vento percorreu os quatro cantos quando ele assim o fez.
Nebrusk estava próximo a ele, que o prendeu com sua pata ao solo. Seus irmãos o haviam empurrado em direção ao dragão para que ele o distraísse.
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Elphest - A magia do mundo
FantasyEsse relato acompanha a vida de Nimue, uma jovem sacerdotisa marcada por um dragão desde o seu nascimento. Nimue nunca quis o poder ou estar a frente de guerras e revoluções, mas tudo sempre a colocava exatamente nessa posição. Caçada por uma famíli...