— Vamos, Grim! Corra depressa! — Nimue gritava para o seu amigo enquanto apressavam-se para chegar no exame de curandeiros a tempo.
Chegaram sem folego e todos os presentes os encararam de modo grave.
— Sentimos muito pela nossa falha e desrespeito. — disseram quase em uníssono.
Elora, a anciã daquele clã, encarou a menina com desdém. Ela odiava o fato de que uma forasteira, uma intrusa no Vale da Chuva, pudesse um dia ser mais poderosa do que ela. Odiava passar os ensinamentos para a jovem e odiava mais ainda quando ela sobressaia-se a todos os demais.
Não era comum um homem tornar-se curandeiro, eles tornavam-se guerreiros, mas Grim desde cedo adquiriu aptidão para a cura, sendo então o único homem da classe. Os dois, como forasteiros no mesmo local, e sendo olhados de forma estranha pelos demais alunos, automaticamente ficaram amigos e adquiriram respeito e amor um pelo outro.
— Isso apenas demonstra o tipo de curandeiros que serão! — Elora disse em tom sério e Nimue e Grim olharam para o chão, não tiveram coragem de encarar aos seus pais.
Adentraram ao círculo e tomaram suas posições enquanto Elora proferia as palavras para que os antigos dissessem se aqueles alunos estavam prontos para tornarem-se de fato curandeiros.
— Aqui estão os nossos sucessores, aqueles que se lembrarão de suas origens e de quem devem ser diante do mundo para honrar a nossa história. Pedimos aos antigo que nos mostrem se estes jovens curandeiros estão prontos para a vida adulta. — proferiu.
No centro deles começou a surgir uma poça de água tão azul que parecia o espelho do céu límpido, ao seu redor filamentos seguiam até os pés dos jovens e assim ocorreu com todos, inclusive com Nimue. Acima da água um fogo crepitou e este rodeou a jovem também, causando grande espanto a todos que ali estavam.
Todos sabiam que Nimue e a mãe eram forasteiras, só não sabiam de que local. E nunca antes ouviram falar de alguém que tivesse as duas marcas das Vilas: Sol e chuva.
Espantados afastaram-se da jovem e ela correu pela floresta, não parou de correr nem mesmo com os apelos do seu amigo Grim. Nimue sentiu um medo tão forte que naquele momento só pensou em fugir, ela não queria ser diferente de ninguém, só queria ser aceita em algum lugar e poder viver sua vida. Embrenhou-se em local escuso e lá ficou por quase três dias, quando regressou a Vila, todos olhavam para o chão para não encarar os seus olhos. Imensas mentiras foram espalhadas por Elora em rodas de conversa, ela havia dito que em uma outra vila alguém como Nimue nasceu e amaldiçoou a todos, disse que todos os que lhe fitavam os olhos ficavam enfeitiçados pela beleza da jovem, disse que, já que este caso nunca antes havia ocorrido, só poderia ser obra das trevas. E do dia para a noite, a garota que nunca antes foi vista dessa forma, passou a ser enxergada como uma mulher sensual que enfeitiçava a todos e destruía vilas com suas artes das trevas.
Nimue foi direto até a cabana onde vivia com sua mãe, seu padrasto e seu irmão Thern. Quando lá adentrou as conversas cessaram-se, seu irmão que antes corria para abraçar-lhe, levantou-se, cuspiu ao chão e saiu. Seu padrasto apenas encarou a sua mãe e lhe disse:
— Já conversamos sobre isso.
Nimue e sua mãe, Reinier, ficaram sozinhas então. Ela ficou feliz porque sua mãe não correu ou cuspiu no chão como seu irmão menor, mas algo no olhar de Reinier lhe causava medo.
— Filha... Você já recebeu aprovação para servir como curandeira, poderá adentrar em qualquer aldeia e lhe pagarão uma boa quantia para viver lá. Sei que parece duro agora, mas é o melhor para você, quando nasceu, fugi da Vila do Sol pela mesma razão e não importa para onde formos... — Reinier, parecendo dar-se conta de que suas palavras estavam sendo duras demais para uma jovem, parou de falar.
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Elphest - A magia do mundo
FantasíaEsse relato acompanha a vida de Nimue, uma jovem sacerdotisa marcada por um dragão desde o seu nascimento. Nimue nunca quis o poder ou estar a frente de guerras e revoluções, mas tudo sempre a colocava exatamente nessa posição. Caçada por uma famíli...