Capítulo 05 - O delicioso gosto da imoralidade

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Em meio a madrugada fria de céu nublado, Rafaella caminhava um passo após o outro condenando Deus e o mundo por morar naquele bairro tão distante. Condenou a agente também. Se não fosse por sua insolência e grosseria, naquela altura já estaria deitada em sua cama king size depois de um banho quente e relaxante.

Mas não estava. Tão pouco próxima de realizar seu desejo de uma boa noite de sono. Os pés, maltratados pelos saltos que se mostraram mais desconfortáveis que o normal, estavam dormentes depois de quase uma hora e meia de caminhada. Se não fosse pela bateria vagabunda de seu iPhone, a candidata poderia ter solicitado um motorista por aplicativo.

Fez uma nota mental de trocar de celular, mesmo que o seu ainda nem mesmo tivesse saído de linha, mas um deslize como aquele era imperdoável.

Quando finalmente chegou no bairro, há pouco mais de cinco minutos do condomínio, pisou em um buraco na calçada e o salto partiu quase levando a candidata ao chão. Olhou para um lado, olhou para o outro e constatou que estava sozinha. Menos uma preocupação para lidar, mas mais um nome para praguejar, agora do prefeito que não dava jeito nas calçadas da cidade.

Você tá fodida na minha mão, agente.

Riu do duplo sentido enquanto se arrastava até a guarita do condomínio com os saltos em mão. De madrugada nenhum vizinho a veria, somente o porteiro. E ele não seria louco em delatar seu momento de fragilidade. Ao menos seu segredo estava seguro. Ninguém saberia que Rafaella Kalimann, a candidata ao senado federal, andava pelas ruas de São Paulo com os saltos caros em uma mão e a dignidade ao chão.

Em casa, Rodolffo dormia pesado sobre a cama, tão alheio ao estado da esposa e tão despreocupado que Rafaella desejou que um raio caísse no marido. Além de um ingrato, ainda possuía uma petulância irritante, não uma petulância excitante quanto a da agente. Nem mesmo o distintivo que sempre via no pescoço do marido deixava-o mais suportável, tão pouco sexy.

Preferiu guardar seus pensamentos para não se perder entre eles e encontrar as lembranças da agente lhe dizendo baixarias ao pé do ouvido. Não queria perdoá-la por ter feito andar tantos quilômetros, mas quando se lembrava do sexo delicioso a condenação ficava mais difícil.

Resolveu que dormir era a melhor opção entre as que possuía, mesmo que fosse ao lado do homem detestável que chamava de marido.

O início do dia seguinte foi tão ruim quanto sua chegada em casa durante a madrugada. Rodolffo não estava ao seu lado, o que era um ponto positivo ao menos, mas seus pés estavam doloridos de tal forma que Rafaella se esqueceu por completo das maravilhas que as mãos da agente tinham feito em seu corpo. Nenhuma foda valia tanto a pena.

Desceu para a sala de jantar encontrando Rodolffo tomando o café da manhã que os empregados tinham preparado, tão concentrado no que lia no celular que nem percebeu a chegada da esposa. Era sempre assim. Rafaella quase nunca tinha atenção do delegado-chefe, nem mesmo em sua própria casa. No final, aquele distanciamento não era de todo mal, a candidata gostava de manter certa distância do moreno a ter que desfrutar de sua companhia irritante. Contudo, nem sempre conseguia se livrar de Rodolffo.

— Onde está o seu carro? Quando saí para fazer minha caminhada não o encontrei na garagem. — Sem tirar os olhos da tela do celular, Rodolffo questionou a esposa que ainda se servia da mesa farta e bem posta. Rafaella então foi bombardeada pelas lembranças da noite anterior. A agente avançando sobre seu corpo, tomando a garrafa de rum das suas mãos e a levando até o carro popular que mais parecia uma versão infantil de um carro comum.

Limpou a garganta, se esforçando para se esquecer e apagar aquele calor que subia pelo corpo involuntariamente. Não era possível que a agente fosse capaz de lhe excitar mesmo que não estivesse presente. Rafaella não admitia perder o controle do próprio corpo para alguém que faltava em estatura, mas sobrava em petulância.

Agente 02Onde histórias criam vida. Descubra agora