Parece que uma parte de mim sempre terá que perder
Toda vez que eu tenho que escolher
Jurei que parecia certo, mas será que eu estava errada?
É realmente aqui que eu deveria estar?
Wondering|Olivia Rodrigo feat. Julia Lester10 anos de idade
Remexo a comida em meu prato para fingir que estou comendo. A cor esverdeada das ervilhas está fazendo o meu estômago embrulhar como se quisesse colocar tudo o que comi hoje para fora, mesmo que não tenha sido muita coisa.As pontas dos meus dedos balançam, quase atingindo o chão. Ainda não consigo apoiar o pé totalmente e já o desloquei algumas vezes quando tentei descer da cadeira rápido. À medida em que minhas pequenas pernas se movem, as palavras que eu ouvi na escola continuam me assombrando, como o vento. Não consigo tocar, nem ver, mas sinto o incômodo ali.
Depois de alguns minutos fazendo os mesmos movimentos, mamãe suspira e apoia o garfo no prato, tentando não fazer mais barulho que o necessário. Ela sabe como me sinto quando algo estrondoso ecoa pelos meus ouvidos. Eu não me reconheço dentro do meu próprio corpo quando isso acontece. É estranho
Seu olhar cansado volta-se para mim, as olheiras pesadas e rugas envolvem os lindos olhos azuis, não tenho a lembrança de ter visto eles brilharem durante toda a minha vida. Sei que ainda sou pequena, mas não sou burra.
Percebo o olhar dos pais dos meus amigos quando vem buscá-los na escola, eles carregam um brilho dentro deles. Nunca vi isso nos da minha mãe, talvez ele tenha se esvaído desde que nasci e por culpa minha não carregam a felicidade que deveriam.
Isso me dá vontade de chorar, mas respiro fundo para conter as lágrimas. Um cliente da mamãe me deu a missão de pensar em coisas alegres quando me viu chorando pela primeira vez, isso torna-se meio impossível quando não guardo tantos momentos bons desde que nasci, então eu imagino eles, em um mudo que minha mãe sorri para mim e me busca na escola, um em que temos muita comida — a maioria doces.
Ele prometeu que sempre viria verificar se eu estava cumprindo a minha missão. Nunca mais o vi. Fiquei triste por alguns dias, mas depois passou. Não era a primeira vez que me contavam promessas vazias.
Aquele cara era legal. Diferente do que veio aqui em casa há dois dias atrás. Não consigo conter o arrepio que percorre meu corpo quando as imagens chicoteiam pela minha mente.
Foi horrível.
Um verdadeiro banho de sangue. Nunca senti tanto terror na minha vida inteira, isso já aconteceu outras vezes mas nenhum foi tão agressivo como aquele. Os hematomas na pele da minha mãe, sem grandes melhoras, é a prova disso. Quando o homem tentou avançar na minha direção, ela o impediu, e por isso apanhou ainda mais. Ainda consigo sentir seu corpo mole em meus braços enquanto a ajudava deitar no velho sofá. A textura do pano encharcado de sangue nas minhas mãos no momento em que comecei a limpar toda aquela sujeira. Tentei imaginar que as poças vermelhas na minha frente, na verdade, eram um suco de morango com muito corante, apesar do cheiro de cobre não ter me ajudado. Uma hora depois limpando, entrei dentro do chuveiro, a água fria provocou um choque na minha pele, desejei com tudo de mim esquecer as coisas que aconteceram naquela noite, mas as imagens continuam repetindo-se na minha cabeça como um disco arranhado.
— Huh? — A voz de mamãe ressoou pelo cômodo silencioso, varrendo as lembranças da minha mente por um momento.
Ao mesmo tempo em que a lembrança da noite retrasada sai, as dos acontecimentos ocorridos nesta manhã, entram.
Alguns amigos meus perguntaram porque meu pai nunca vinha me buscar na escola, apenas minha mãe, nos melhores dias, ou eu apenas sozinha. Falei que não tinha pai e eles me observaram como se eu fosse alguém de outro mundo, depois de alguns minutos de olhares desconfortáveis, decidi que era melhor voltar para casa, já que provavelmente, minha mãe ainda estaria descansando do turno da noite anterior na boate, recarregando as energias para usá-las hoje a noite.

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CONDENADOS
RandomSérie Elite de Fogo I Lizzy Parliz é uma lutadora desde o momento em que nasceu, com uma mãe striper que a criou até os onze anos de idade enquanto seu pai a abandanou antes mesmo de sair do ventre. Com a morte de sua mãe ela precisa aprender a se c...