P R Ó L O G O

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"Apenas tudo vazio."

  Nossa vida pode ser transformada em um piscar de olhos, em um momento você está sozinha, lutando para conseguir não odiar sua própria existência por mais difícil que seja, e em seguida, você está rodeada de pessoas que te amam e só querem seu bem, então de repente, eles somem, não voltam mais e tudo que você vê é preto.

  Às vezes a escuridão é uma prisão, mas me sinto mais segura por lá. Onde os sentimentos são esquecidos e presos não possuindo a chance de serem demonstrados uma única vez.

  As pessoas se preocupam com a solidão, a vêem como um pesadelo ou algum tipo de castigo do destino, mas eu não penso assim. Para mim ela é um caminho mais fácil, corações são quebráveis e quanto mais gente você deixar entrar, maior a possibilidade de que ao passo de que cada uma for saindo, ela leve um pedaço quebrado junto a si e no final não exista solução, pois você está literalmente despedaçada.

  A brisa forte do vento bate nas minhas costelas gerando arrepios por todo o meu corpo. Sabe o momento em que você percebe tudo desmoronando sob os seus pés? Bom. É assim que eu me sinto desde que perdi minha mãe. O buraco instalado no meu peito é apenas um terço do eco em que a minha alma está instalada. Eu tinha o mundo com ela, mas agora, não tenho mais nada.

  Carros passam pela avenida, crianças com as mãos apoiadas no vidro estampando sorrisos em seus rostos, olhos brilhantes enquanto observam as luzes piscantes da época natalina, alegria refletida em suas expressões. Era para eu estar assim também, mas ao contrário deles, a minha expressão está permeada de tristeza e desgosto. Por que tudo tem que ser tão injusto? Porque eu não tenho a felicidade que deveria ter? Por que minha infância não é iluminada pelas mesmas luzes? Por que tem que ser assim?

  O vento ressoa novamente através dos carros jogando uma rajada de frio na direção dos meus braços nus, trazendo consigo a calmaria misturada com a solidão. Hoje é meu aniversário, e também o aniversário de morte da mamãe, já faz dois anos que ela partiu. Dois anos que não tenho lar, e eu não me incomodaria com isso se estivesse com ela ao meu lado, mas eu não a tenho, e é hora de aceitar isso.

  A vida não propõe obstáculos atoa, pelo menos é assim que eu gosto de pensar, um dia eu crescerei e me acostumarei com a solidão. Com esse pensamento eu apoio a cabeça no muro construído atrás de mim, apertando a ponta vermelha do meu nariz para que não congele, tentando diminuir o frio que instala-se pelo meu corpo. Eu vou ficar bem. E esse é o meu último pensamento antes que o sono beije minha mente. Sentindo meu corpo sendo levantado por braços um pouco maiores que o meu, aperto meu rosto no peito do desconhecido e aproveito o calor ressoado por ele um sentimento de segurança instalando-se dentro do meu coração. Eu não sei quem é esse corpo pequeno, mas sinto que posso confiar nele.

 Eu não sei quem é esse corpo pequeno, mas sinto que posso confiar nele

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