01. Pacato

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Eu senti o ritmo
Eu senti a febre na sua mente
Godless - BANKS

Eu senti o ritmo Eu senti a febre na sua mente Godless - BANKS

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  — Você não pode me deixar assim. Confesso. Minha voz rouca de tanto gritar, agora saindo em sussurros. Sinto gotas quentes escorrendo pelas minhas bochechas, mas não me dou o trabalho de secá-las. De escondê-las. A única pessoa que eu tenho está indo embora, e eu não posso fazer nada sobre isso.

  É engraçado como o meu destino é um tremendo desastre. Sempre foi apenas ela e eu, mas agora existe apenas eu. Minha mãe está indo embora. Está sendo arrancada de mim. Eu sei que preciso ser forte neste momento, sei que preciso ficar com ela agora, aproveitar a única grama de vida que ainda não se esvaiu de seu corpo, mas simplesmente não consigo. O que diabos vou fazer agora? Sozinha. Absolutamente sem ninguém. O mais importante, sem ela.

  Ao passar dos dias eu conseguia sentir que não a teria comigo por muito tempo, mas eu simplesmente não conseguia aceitar o fato. Nunca imaginei perdê-la. Nunca imaginei o meu futuro sem ela, sempre foi minha mãe, eu, em uma casa no Texas, nada muito exagerado, simples, mas aconchegante, apenas que transmitisse o sentimento de casa. Assim como mamãe faz, ou melhor, fazia. Mais lágrimas descem por meu rosto. Era assim que ela me fazia sentir. Eu sabia que não importava onde nós estivéssemos sempre iríamos conseguir enfrentar tudo que a vida colocasse à nossa frente, porque tínhamos uma à outra. Mas por agora, eu tinha consciência que não seria mais assim.

  Aperto a mão de mamãe, querendo senti-la comigo uma última vez, a pressão que faço combinando com a que meu coração está sentindo. Eu já consigo sentir sua falta. Desejo apenas que isso tudo fosse um sonho, que eu apenas acordaria e ela ainda estaria fazendo o melhor que pode com a nossa geladeira vazia para que eu tivesse um café da manhã digno, para que eu tivesse o suficiente de nutrientes em meu sistema para não passar mal na escola, que ela me apenas me desse aquele sorriso e dissesse que nós ficaríamos bem. Mas isso não é um sonho, e eu não vou acordar.

  Eu nunca questionei suas ações, nem mesmo quando ela me deixava em seu camarim com outras mulheres, para fazer stripper, eu já conseguia entender que ela não queria que eu a visse daquela forma, que tivesse esses momentos guardados dentro de mim, mas ela não precisava ter se preocupado, sempre senti que aquilo era a nossa única saída para que não morrêssemos de fome, que não importava seus passos, eu sempre a apoiaria, sabendo que a única ambição em sua vida era me fazer bem. Mesmo agora, enquanto a única pessoa que está à beira da morte é mamãe, ela está tentando me fazer sentir melhor, mas pela primeira vez na vida, ela não conseguirá. Pelo simples fato que não há motivo para isso.

  — Querida, olhe para mim. Eu ainda estou aqui. — Ela diz com a voz fraca, simultaneamente com seu corpo. Olhar sua situação me quebra, mas o 'ainda' saindo de sua boca que termina o trabalho de destruição. Ela sabe que não sobreviverá. Sabe que não estará mais aqui, e a única coisa que consigo fazer é chorar. Sem parar.

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