Não tenha medo

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"If the world was ending you'd come over, right?" (If the world was ending - JP Saxe feat. Julia Michael).

Quando Juliette chegou no Rio de Janeiro passava das nove da manhã. Ela nunca tinha feito uma viagem tão longa de carro completamente sozinha. Sua cabeça estava doendo pela noite de sono mal dormida, pelas 6 horas focada na estrada e por todas as lágrimas que ela tinha derramado durante o caminho.

Seu celular estava tocando e vibrando desde às 8 da manhã. Com certeza eram Deborah e seu segurança ligando desesperadamente para ela. Ela iria retornar para eles logo, logo, mas primeiro tinha que ligar para a mãe de Sarah.

- Bom dia, minha filha - a senhora atendeu com apenas dois toques.

- Como ela tá, dona Abadia? Já foi entubada? - Juliette perguntou com a voz trêmula.

- Filha, ela teve uma queda brusca na saturação, eles fizeram vários exames e ainda estão considerando a intubação, mas por enquanto ela estabilizou, ampliaram o índice de oxigenação no Elmo e ela tá respondendo.

- Isso é uma boa notícia, não é? - Juliette perguntou, ansiosa.

- Sim, a notícia é boa - Abadia respondeu com um tom de alívio na voz.

- Eu estou no Rio, cheguei há pouco. Posso ir até aí?

- Claro que pode - a senhora retornou, expressando felicidade em seu tom de voz - estamos na ala de COVID do Barra D'or.

Juliette desligou logo depois e colocou o endereço do hospital no GPS. No meio do caminho parou em uma padaria e comprou alguns lanches e sucos para levar para a mãe de Sarah; para este feito ela teve que colocar o maior par de óculos escuros que tinha no carro e ainda teve de evitar falar e até conter o sotaque enquanto era atendida na padaria, o que ela menos precisava era gente atrás dela no meio daquela situação.

Ao estacionar no hospital, Juliette trocou sua PFF2 por uma limpa, além de colocar na bolsa a caixinha com máscaras novas que ela sempre tinha no carro; higienizou suas mãos e pegou apenas a bolsa onde carregava os itens mais básicos, como carteira e celular; além disso, pegou as sacolas com os itens de padaria e só não saiu do carro de imediato porque precisava fazer contato com seu pessoal.

- Juliette, pelo amor de Deus, o que tá acontecendo??? - Deborah perguntou, havia tanto desespero em sua voz que a paraibana parecia à beira das lágrimas - tu sai de carro sozinha pra outro estado, nem eu nem Ricardo conseguimos falar contigo há horas, Juliette!!!

- Me perdoa, me perdoa. Eu tinha que vir, Debra. Sarah tá internada, talvez tenha que ser entubada - Juliette caiu no choro e foi finalmente que Deborah entendeu tudo.

- Shhh - a amiga falou do outro lado da linha, acalmando-se de imediato para conseguir acalmar Juliette - vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem - ela repetiu - você tá no hospital?

- Acabei de chegar. Por favor, cuida de tudo aí e não deixa ninguém saber que eu tô aqui!

- Ricardo já tá pronto, só esperando eu dizer onde você tá pra ele ir te encontrar aí. Em que hospital você tá?

- Não, Debra! Se eu for ficar andando com segurança pra cima e pra baixo, aí vai dar na cara de todo mundo! Não tem condição! Vai acabar acumulando gente aqui no hospital, pelo amor de Deus!

- Juliette, não tem negociação. Eu desmarco qualquer compromisso, escondo de todo mundo que for necessário que você viajou, mas você não pode ficar sem segurança. Ele sequer vai chegar com você, é super discreto e ainda vai ser um suporte pra você aí.

Hold on a little longer (sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora