Minha galega do pão doce

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Vem aí, o capítulo de hoje, direto do coração de Juliette!

Boa leitura!

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"You should have said all the things that you kept inside and maybe you could have made me believe that what we had was all we'd ever need" (All we'd ever need - Lady A).

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É engraçado o tempo. Um ano passou e a minha vida mudou da água para o vinho. Hoje mesmo eu deveria estar começando a celebrar mais uma dessas grandes mudanças. Amanhã eu irei me lançar oficialmente como cantora. Depois de dois singles, meu primeiro álbum completo sairá nesta sexta, dia 06 de maio de 2022. Mas hoje eu não consigo celebrar esse marco porque hoje é dia 05.

Faz um ano do nosso encontro. Um ano desde que a abracei pela última vez e que pela última vez nos falamos. Um ano desde que eu selei o nosso fim sem nem ter certeza de que isso era o que eu estava fazendo ou que era isso que eu, de fato, queria.

Queria dizer que perdi as contas do tempo que passou, que o ano passou voando entre todas as mudanças que vivenciei e os compromissos que tive que dar conta, mas estaria mentindo. Eu contei cada dia. Uns marquei com reuniões, outros com ensaios fotográficos, outros com sessões de gravação no estúdio, outros com momentos com mainha ou com meus amigos, mas em todos, sem exceção, eu me lembrei dela.

Hoje a culpa pesa um pouquinho no cantinho da minha cabeça que lateja de enxaqueca. Talvez foi realmente ela que nos colocou naquela posição, de costas uma para a outra, apoiadas em um muro de quilômetros de espessura. Mas também foi ela que tentou quebrar a parede quando se aproximou um ano atrás e me pediu desculpas e me disse que a gente conversaria quando eu pudesse e quisesse. Ela deixou em minhas mãos a decisão, a oportunidade de tomar o próximo passo. E eu fiquei parada. Eu nada fiz.

Essa minha falta de coragem para reagir me assombra dia e noite desde aquela tarde de 05 de maio de 2021. Por um tempo eu quis culpá-la por deixar aquela responsabilidade comigo, mas ela estava fazendo o que considerava certo, me dando espaço para me entender, para compreender o que tinha acontecido conosco, para me curar e para perdoá-la, e eu tomei meu tempo. Só que tomei tempo demais e depois não soube mais como reagir, como me reaproximar.

Dentre todas as escolhas que fiz esse ano, essa é a única da qual me arrependo e que gostaria de mudar, mas quem disse que eu sei como? Acho que aquela música é exatamente sobre isso, sobre tudo isso. Sobre o tempo e como ele nem sempre é generoso e muitas vezes torna definitivas decisões que deveriam ser temporárias.

O tempo colocou algumas milhas entre nós e elas vão muito além da distância espacial, pois quando penso em tentar entrar em contato com ela, a sensação é de que há um abismo entre a gente. Norte e sul. Céu e inferno. Chão e teto. As duas em extremidades opostas, à beira de um buraco sem fundo. Para alcançá-la eu teria que saltar daquele penhasco em direção ao escuro e depois escalar um paredão de pedra para chegar do lado de lá, onde ela está.

O pior é que eu acho que se tivesse a certeza de que ela estaria lá em cima, lá do outro lado, eu pularia e escalaria, mas... e se ela não estiver? Do lado de cá eu não consigo enxergá-la, e é isso que mais dói. Eu só queria vê-la nem que fosse de longe, queria não ter sido eu a nos apartar de vez, queria ter feito diferente, queria voltar no tempo e apertar o nó que nos unia em vez de desfazê-lo com indiferença. Uma indiferença que sequer era sincera, porque tudo que eu queria naquele tempo era me deixar levar, eu queria tentar, mas tinha medo de falhar.

Eu acabei de escutar, espero que pela última vez, a última faixa do meu álbum que será lançado amanhã e agora estou me perguntando se ela irá escutá-la. Se vai entender os motivos por trás da minha falta de reação. Se irá encarar aquelas palavras como um pedido de desculpas, uma confissão de um sentimento que enterrei de maneira inconsciente...

Eu sei que foi mais fácil fugir daqui
Mas depois de tudo que não vivemos
Você ainda está aqui
Partir não é melhor do que tentar?

Porque eu estou acostumada a abrir mão
Mas não era minha intenção te afastar
Eu só não queria nos machucar
Partir não é melhor do que tentar?

Só Deus sabe onde nossos medos nos levam
Coração partido pelo medo de se entregar
O seu, o meu, os dois, em pedaços
Mas partir não é melhor que tentar... e falhar?

Ouvi mais uma vez e me perguntei se em algum lugar daquela letra ela poderia encontrar um pedido de mais uma chance. Um pedido para apagar aquele longo tempo cheio de tudo, mas totalmente vazio de 'nós'. Mais uma chance para entender e viver o que tenho certeza que as duas sentimos antes, antes de rachar de vez.

Se eu voltasse naquele tempo e a coragem tivesse me tomado naquele último encontro, minha confissão teria sido de que eu queria senti-la minha, e me sentir dela, por um minuto que fosse, por uma hora ou um dia apenas. Mas faz um ano, e o tempo não volta, fiz questão de dar ênfase a isso para me convencer da realidade que me cercava e me sufocava.

Faz um ano que eu coloquei um ponto final na nossa história que sequer havia começado. Eu encerrei o capítulo mais confuso e mais intenso da minha vida, quando ainda nem sequer entendia a imensidão de tudo que sentia por ela.

Com palavras doces e um abraço, eu tapei o pequeno buraco que você tinha feito na parede que nos separava, na tentativa de me alcançar de alguma forma. Eu estava cega. Enquanto achava que estava nos protegendo e consertando as coisas, eu quebrei você e eu. Hoje faz um ano desde que quebramos. Parabéns para nós, minha galega do pão doce.

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Hold on a little longer (sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora