↝ 𝚜𝚎𝚟𝚎𝚗

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— Justin sofreu um impacto grande com o acidente, justamente por ter tentado te proteger. De certo, perder apenas a memória foi um milagre pra ele, porque na minha posição de profissional, eu teria dito que ele jamais sairia vivo dessa. Possivelmente, se saísse, ele poderia entrar em um estado vegetativo. — O médico dá de ombros. — Vocês dois tiveram muita sorte! Se ele não tivesse te protegido e amenizado o impacto, eu diria que você jamais seria capaz de se mover do pescoço pra baixo.

— A pancada do Justin afetou o hipocampo, que é a parte do cérebro responsável por funções involuntárias e também pela memória e aprendizado. — O doutor Charles disse. Em seu crachá diz que ele é psiquiatra.

— Ele pode recuperar a memória algum dia? — Aaron perguntou. Ele me acolheu mais em seus braços, e apertou meu ombro para me passar um pouco mais de força.

— É impossível dizer. — Charles dá de ombros. — Por enquanto, vamos manter o otimismo e esperar que ele consiga se recuperar logo. Veja pelo lado bom, ambos estão vivos e bem!

Os dois doutores saem da sala em que estávamos e eu abaixo a cabeça ainda tentando assimilar tudo o que eu escutei nos últimos minutos. Justin não se lembra de mim, e muito menos da nossa história. Eu jamais vou poder reclamar, porque ficar sem andar teria sido muito pior, mas eu jamais poderia esperar que ele não se lembrasse de mim. Há alguns meses atrás, ele estava de joelhos na minha frete enquanto jurava seu amor por mim, e hoje ele sequer se lembra. Recomeçar. Teremos que recomeçar tudo do zero, mas eu não sei se estou preparada para isso.

— Eu preciso vê-lo. — Me levantei da poltrona, mas Aaron se posicionou na minha frente, me impedindo de passar.

— Você precisa se acalmar. — Ele assegurou. — Termine de tomar o soro, assim como a enfermeira recomendou, e depois nós pensamos em como você pode falar com ele. Ok?

Por mais que eu não goste de admitir, Aaron está certo. Depois de ser pega de surpresa, os médicos acharam melhor que eu me afastasse um pouco do quarto de Justin e tomasse um pouco de soro, pra me acalmar mais. Ao escutar que Justin poderia não se lembrar mais de mim, meus pulmões sentiram a falta de ar e minha boca secou. Eu senti que iria vomitar ali mesmo, porque o meu estomago embrulhou. E ao mesmo tempo, eu senti vergonha. Mesmo que Justin me jurasse o quanto o nosso amor era importante pra ele, eu não consigo aceitar que após um acidente, tudo tenha se resumido á nada.

Quatro meses antes.
Portland, Maine.

O toque quente das mãos de Justin estavam cobrindo os meus olhos, enquanto ele me guiava por um caminho de pedras. Sempre que eu estava prestes a cair, ele aproximava mais seu corpo do meu para que eu não caísse. A respiração quente no meu pescoço e a voz rouca na ponta dos meus ouvidos, faziam com que as minhas pernas ficassem bambas enquanto eu lutava para controlar a minha própria respiração.

Estamos quase lá! — Ele comentou animado.

Não vai me contar mesmo? — Tentei insistir, mesmo que já soubesse a resposta.

A curiosidade matou o gato, senhorita. — Ele parou de andar, fazendo com que eu parasse também. Meu coração pulsava dentro do peito, enquanto eu sentia minha boca seca. Justin retirou as mãos delicadamente do meu rosto, e se afastou um pouco. — Mais cedo, você me disse que não queria se apaixonar porque estava com medo de se entregar totalmente. E agora eu te digo que eu sei dos riscos, e eu também sei que sou uma pessoa instável e não muito confiante. Mas de uma coisa eu tenho cem por cento de confiança, eu quero tentar te fazer feliz... Eu só preciso de uma chance...

— Jus...

— Eu sei, eu sei. — Ele me interrompeu. Justin sorriu de lado, e um pouco convencido também, e suspirou fundo. — Você não me deixou completar, princesa! Bom, em respeito a sua ordem, eu preparei um piquenique não perfeito, mas também não detestável. Minha companhia vai ser boa, mas não boa o suficiente para que você caia de amores por mim agora, e a comida está boa, mas não boa o suficiente pra que você anseie por outro encontro. — Ele abriu os braços, e sorriu de forma brincalhona. Eu sabia que Justin estava falando sério, mas mesmo assim, eu não conseguia o levar a sério. — Eu diria que é um piquenique razoável!

𝗛𝗘𝗔𝗥𝗧𝗕𝗥𝗢𝗞𝗘𝗡.Onde histórias criam vida. Descubra agora