AFTERGLOW [wwx+lwj]

Capítulo 3: Preconceito

Então a pessoa designada a lhe entregar a porcaria do cartão de crédito foi Jiang Cheng.

Wei Wuxian não queria ser amargo e vingativo, mas seu irmão teve tempo. Quase três dias no recanto das nuvens foi bastante tempo. Pelo menos o suficiente para que ele subisse um andar, e jogasse a porcaria do cartão embaixo da porta.

Estava decepcionado.

Não queria ser que nem as pessoas que encontrou nas escolas elitistas em que esteve matriculado, ou igual seu pai, que pareciam não ver uma coisa boa em Jiang Cheng por conta do temperamento difícil, humor ácido e brusquidão desmedida.

No entanto, naquele momento, o irmão lhe remetia à senhora Yu, a pessoa que teve a capacidade de jogar uma criança de oito anos no meio da rua.

Jiang Cheng seria tão cruel assim?

Sabendo das dificuldades de Wei Ying, e do pouco dinheiro que recebia, sabotaria sua única fonte de alimentação apenas por não ter tido a melhor classificação em Gusu?

Esfregou o corpo com ressentimento emanando em ondas. A água quente quase cozinhando a epiderme sensível. Wei Wuxian sentia raiva.

Quando saiu do quarto, vestido com seu short de treino, meias três quartos e uma regata, Lan Wangji estava na sala. Os olhos dourados, sérios como sempre, o encararam por uma fração de segundo antes de desviarem para o par de sapatos ao qual estava calçando.

Murmurou um bom dia, envergonhado.

"Bom dia, Wei Wuxian"

Ah, eles tinham horários diferentes, então não era estranho que seu colega já estivesse impecável nas calças claras e blazer igualmente claro, a gargantilha parecendo ornar perfeitamente com a gola V.

Wei Wuxian se lembrou de fechar a boca antes de parecer muito ridículo. Era um inconveniente, achar seu estóico colega de quarto tão bonito.

"Você já vai pra aula, Lan Wangji?"

"Hn" ele respondeu, com a mão na fechadura. Uma bolsa marrom sobre o ombro, os ombros largos já estavam quase no corredor quando Lan Wangji mirou as orbes amareladas em sua direção novamente, torcendo o canto dos lábios "Coma, há comida"

De olhos perplexos, assistiu a porta fechar.

Ele dividia comida assim, tão genuinamente? Wei Wuxian não pagou pelos suprimentos, não ajudou com uma nota de dinheiro.

A carteira parecia emitir calor dentro de sua bolsa de treino, e por um ínfimo minuto Wei Wuxian se rendeu ao novo vício: caçou entre as dobras do objeto pelo pedaço de papel com a caligrafia perfeita.

Mordendo os lábios, encarou mais uma vez a nota que carregava em seus traços já desgastados - porque ele poderia ou não ter o hábito de passar muito os dígitos por cima das palavras, e poderia ou não ser que alguns riscos já estavam desaparecendo.

Ele não entendia o porquê de fazer tanto isso, ou porque um punhado de desculpas era tão importante a ponto de estar consigo o tempo inteiro, como um amuleto da sorte.

Com um pouco menos de cuidado, guardou de volta na carteira, e a carteira dentro de sua bolsa transversal. A vontade era de puxar o cabelo de seu meio-irmão até o chão e gritar de raiva por todas as vezes que Jiang Cheng fez alguma coisa que o machucou, de propósito ou não.

A expressão de Wei Wuxian fechou gradativamente, simultânea ao cerrar de punhos enquanto calçava seus tênis de treinos. Porra, em toda sua vida desde que descobriu a paixão pela dança não se lembrava de um dia que não esteve dolorido ou cansado - e ainda tinha que dar conta de trabalhar porque odiava depender do dinheiro de seu pai para qualquer coisa.