O céu ainda mantinha sua coloração escura, em contraste com o sol que estava a nascer entre as nuvens que penetravam as janelas. Era realmente bonito os tons quentes e frios se misturando no céu
Raika estava parada em frente a porta. Usava um longo vestido de seda branca, tão claro quanto as nuvens. Um avental preto com babados moderados estava amarrado em seu longo vestido, que era perfeitamente abotoado até certo ponto.
Aquele era seu uniforme de trabalho, que lhe caia perfeitamente bem, como se tivesse feito especialmente para ela
Ainda estava tudo escuro, a madrugada mal havia acabado e o sol nascia timidamente. Era apenas iluminada pela lamparina que carregava em suas mãos
—Bom dia, Senhor Jorge—Raika cumprimentou Jorge que tomou um susto, que quase o fez cair da escada
Por mais que sua primeira reação foi levar um susto com a figura feminina que estava diante dele, como um fantasma numa casa assombrada. Jorge acostumara a ficar a maior parte do tempo sozinho em sua casa, apenas ele e o silêncio. Não havia se acostumado com a idéia de ter mais alguém morando e trabalhando em sua casa
—Por favor, não ande por aí como um fantasma, menina
Jorge ficou a encarando por alguns longos segundos, que fizera Raika se sentir um tanto envergonhada
—Me perdoe...Por assusta-lo, não foi minha intenção—Disse desviando o olhar
A figura distintamente vestida de Raika, deixou uma impressão diferente em comparação com as outras damas da mais jovens que Jorge via pela cidade. Era uma estranha aparência que dava impressão de elegância a Raika, que mesmo vestindo como uma empregada, conseguia ser tão linda.
—Ainda nem são seis horas da manhã...Não precisa se preparar tão cedo assim. Já ao menos comeu alguma coisa?
—Consigo ficar um bom tempo sem precisar me alimentar, Senhor
—Não sei que raio de vida de merda você teve—Jorge disse–Mas ao menos tome um café pra se manter acordada
—Creio que não preciso dis..
—Claro que precisa—Interrompeu—deixa disso, eu insisto
—Se você insiste, posso me juntar ao senhor
Jorge descobrira que Raika era facilmente influenciada quando estava pressionada. Era adorável o quanto tentava resistir, mas obedecer parecia parte de sua natureza, e aquilo, era curioso para Jorge
—Alguma vez na vida tomou café?—perguntou Jorge, levando um bule com água em direção ao fogão
—Nunca tomei, senhor
—Bom...tem uma primeira vez pra tudo, não é! Hoje você vai tomar o legítimo café Brasileiro vindo diretamente de São Paulo
—Você é de poucas palavras, né?
—Não gosto de ser incômodo
—O seu silêncio é realmente incômodo, além disso, você fala isso por experiência própria?
—Me desculpe, já tive clientes que não gostavam de conversar e...bem, não tenho assuntos com que conversar com o senhor
—Bom...tá aí uma verdade...Não se preocupe, eu não sou tão desagradável a ponto de ignorar uma conversa com uma bela e jovem garota
—Não tenho uma vida interessante para que possa ouvir. Além que pessoalmente prefiro não comentar sobre meu passado
—Ah, então você é órfã, não é?—Perguntou com uma certa astúcia jornalística—Passado triste, eu suponho
—Bem...bom, sim—Raika respondeu, surpresa—não conheço pai ou mãe, se estão vivos ou não. Mas isso não importa, já que vivi catorze anos da minha vida sem eles
Uma resposta bem fria vinda de Raika, que deixou Jorge um pouco espantado. Mas entendia os motivos de Raika. Viver por anos sem conhecer o amor paternal e maternal, crescera sozinha por todos esses anos, e por isso, aprendeu a ser uma pessoa, e não fazia diferença, pois nunca precisou das pessoas que a abandonaram
Os verdes olhos de Raika parecera distantes e um tanto tristes. Claramente não gostava de lembrar ou sequer pensar em nisso. Um assunto delicado
**Apenas uma garota**, Jorge que sabia que encostara num canto de sua consciência que Raika sempre fugiu
—Raika, você ainda é uma menina jovem, ainda tem muito o que ver pela frente, por acaso você tem algum sonho ou objetivo?
—Eu nunca pensei nisso...quer dizer...
—Nunca encontrou algo que realmente goste, não é?
—Exatamente...
—Provavelmente você encontrou, mas não se deu conta
Isso fez com que Raika ficasse sem silêncio por uns segundos.
—Não diria que é um sonho, mas gostaria de escrever histórias. Sempre gostei de ouvi-las e me vem a vontade de conta-las...
—Uma escritora ou uma jornalista?
—Jornalista...eu acho
—Por que tem esse interesse em contar histórias?
— Eu andei por muitos lugares diferentes. Passei por muitos países e cidades. E lá, encontrava pessoas...interessantes. Mas que provavelmente, morreriam anônimos. Todos têm uma história para contar, mas poucos podem contar elas e acabam por serem esquecidos. Escrever histórias é como uma forma não sermos esquecidos, assim, sempre haverão aqueles que se lembrarão da gente.
Uma resposta bem interessante e boa de se ouvir.
—Hmm, interessante. um sonho muito interessante. Aqueles que contam essas histórias possuem uma percepção tão delicada e aqueles que mais enxergam o que os olhos não podem ver, moldando simples palavras em sentimentos que despertando os instintos que conectam a humanidade. Isso que meu pai sempre me dizia
Um aroma agradável envolvia a sala e chamava a atenção de Raika. Lembrava fumaça de madeira, mas que também, possuia um aroma parecido com chocolate e caramelo
Em meio a tanta ternura e fineza, o cheiro do café foi suficiente para estimular uma sensação prazerosa que percorrera por seu corpo. Era bem tranquilizante e de certa forma acolhedor
—Esse é o famoso café, menina
—Ah, obrigado
—Bom, se você quer escrever histórias, por que não comece sabendo a sua própria história?
"Conhecer minha história?" Raika pensou, um pouco hesitante, enquanto encarava o baile da fumaça quente que saia da xícara de café. Não era exatamente algo que gostaria de lembrar, mas era algo necessário para se lembrar
—Isso é...um pouco amargo
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Órfã de Guerra(História sem capa)
RomanceEssa é a história sobre Raika, uma jovem garota de 14 anos usada como arma de guerra, que agora, com a tutoria de Jorge dos Santos, um Ex- militar de aviação brasileiro, pode ter uma segunda chance na vida ESSA HISTÓRIA FOI ESCRITA POR CAUSA DE UMA...