**Sabe o que significa Raika Mohnblume?**
Era escuro e solitário; frio e assustador. Aquela que em seu quarto sem luz, pensava em como tinha medo de lugares escuros. Mas estava acostumamos a esse tipo de lugar
Era assim que acreditava...E era nisso que ainda acreditava. Numa crença vazia de que tudo na sua vida era isso
Um vazio imensurável no cerne de sua pessoa
A insônia tomava conta de seu corpo, por mais que se sentisse cansada, sua cabeça ainda a mantinha acordada, com seus pensamentos focados no passado, mas que odiava lembrar. Seu olhar estava imerso naquelas memórias; por isso aparentava estar tão tristes. Por mais que sentisse seus olhos pesados, não conseguia dormir. Estava inquieta com as imagens que passavam como um filme
**Uma vez soldado, sempre soldado. É esse o castigos para nossos pecados** aquelas palavras ecoavam em seu interior, mas que negava veementemente.**Eu não sou um soldado...não mais...nunca mais**
Assim que olhou para a janela, viu como aquele céu limpo noturno refletia as estrelas e a lua, assim como as lâmpadas das ruas distantes. Lembrava-se de vagas memórias das luzes que a iluminava. Eram as estrelas, que mesmo assim, eram os resquícios de suas vidas.
**Vidas são como estrelas**
Aquelas poucas estrelas no céu escuro, as via como sendo luzes mortas, mas que, por alguma razão, mostrava que ainda havia uma marca de que realmente existiram. Eram as memórias de suas existências passadas
**Quero ser como uma estrela** Raika dizia para si mesma.
Raika fechou os olhos, apoiando a cabeça sob seus joelhos
As Papoulas vermelhas estavam florescendo no horizonte sob o pôr do sol, que iluminava em tons quentes aquele dia frio. As chamas aumentavam as sombras dos soldados mortos que estavam no chão. Aliado ou inimigo, todos tiveram o mesmo fim.
A guerra gera apenas uma coisa; a morte. E a morte não distingue aliados ou inimigos
As únicas vidas que ali restavam, eram os poucos soldados vivos, pássaros carniceiros que alimentavam-se dos corpos espalhados e moscas que os rondavam. Não importava onde, por mais distante que fosse o lugar, tudo o que sobrou eram cadáveres e as almas errantes desses cadáveres, entre as cápsulas de balas deflagradas no chão
Um silêncio cruel ecoava. No final da pradaria, além das montanhas que pareciam grandes sombras negras, o sol poente no horizonte refletia uma luz carmesim.
Envoltos por uma luz rubra e por belas flores...
Estas flores belas nasceram no campo onde o sangue do pessoas que lutavam aquela guerra, e era a única coisa que poderiam oferecer. Sangue para honra de suas nações
O vermelho carmesim das papoulas floresceu no campo de batalha tão lindo sob o anoitecer, que até parecia pronto para queimar o céu.
A neve pálida dançava agilmente, caindo em cima das papoulas vermelhas a tornando brancas. Tudo começou com um único floco, se transformando em vários outros que reuniam-se e eventualmente cobriam o solo.
Era frio, mas Raika ignorava o frio, pois era acostumado a ele. Eram poucas coisas bonitas que já vira, uma delas, era a dança da neve sobre o céu escarlate iluminado pelas sombras que davam lugar a noite inluarada.
Uma paisagem digna dos olhares encantados de pintores e artistas
No meio desse campo de batalha, uma menina observou o céu. Era apenas um criança pequena que vestia um uniforme militar que eram maiores que seu próprio corpo, por isso eram largos de mais para seu tamanho. Estava suja com lama, poeira e sangue. Uma gargantilha escura, que, de alguma maneira, lembrava a um cachorro treinado, estava presa a seu pescoço. Um cheiro que parecia com uma mistura de chuva, terra molhada e pólvora. Carregava nas suas mãos, um rifle que era quase como parte de seu corpo
Seus olhos eram como belas joias esverdeadas que reflitiam as cores quentes das chamas e do sol poente
A garota tirou suas luvas que cheiravam a fumaça de pólvora e estava manchado de uma cor escarlate. Estendeu a mão revelando um numero tatuado; "86". Um floco desceu sobre ela, e logo, derreteu.
À medida que a substância branca e fria flutuava lentamente, a garota, que encantada com a neve que caira, se perguntava por que tal beleza poderia ser tão fria
—É a neve?—Dissera essa garota, que parecia não entender o que era aquele floco branco que pousava em suas mãos—Que gelado
A menina assoprou, estranhando. Pela primeira vez, via como a neve poderia ser linda se vista de tão perto, mas também, tão gelado. Era mais estranho nunca ter visto a neve antes. Não se incomodara com o frio que lhe causava, mas incomodava o fato do calor de seu pequeno corpo derretia os flocos
**Raika quer dizer "adorável, ou, forte". Mohnblume significa "papoula-vermelha"**
Viu que os corpos espalhados acumulavam neve em cima de seus cadáveres vazios. Mas não derretiam
—Corpos mortos são gelados, por isso, a neve não some—Raika sussurrou com uma entonação infantil em sua voz, mesmo dizendo coisas estranhas—Por isso a neve em minha mão some, por que eu estou viva...diferente deles
**Sabe o significado dessa flor? A papoula-vermelha?**
Em meio aos poucos homens restantes. Estava aquela garotinha, tão linda quanto mortal. Que observava atentamente os flocos de neve que caiam sob os corpos e as papoula vermelhas que se misturava ao branco
**As Papoulas se tornaram símbolo dos soldados mortos, pois, nos mesmos campos que eles morreram, floresceram estás flores de coloração vermelha...como o sangue derramado. Então onde há campos de papoulas, carregam a lembrança dos mortos**
Em meio aqueles homens; vivos e mortos. Mesmo que curiosos, seus olhos se mostravam frios e sem vida.
**Mas uma pessoa disse que as papoulas também significam falsa paixão, sonhos e ressurreição. Essa flor possui dois significados**
Esta pequena, bela, fria e perigosa flor que crescera através do sangue, entre os mortos em campos de batalha, também possuia uma vida; era uma pessoa. Que através desse mesmo sangue, poderia nascer com uma falsa paixão, na qual poderia se apegar; uma fé pessoal. Um sonho. Renascimento
**Isso que meu nome significa...Assim como estas fortes e adoraveis flores que crescem em campos de batalha, que simbolizam a morte. Também pode simbolizar o renascimento... ou um sonho**
Raika Mohnblume, uma adorável flor nascida da guerra
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Órfã de Guerra(História sem capa)
RomanceEssa é a história sobre Raika, uma jovem garota de 14 anos usada como arma de guerra, que agora, com a tutoria de Jorge dos Santos, um Ex- militar de aviação brasileiro, pode ter uma segunda chance na vida ESSA HISTÓRIA FOI ESCRITA POR CAUSA DE UMA...