Primeiro

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Por algum motivo, quando gojo virou professor passamos a morar separados. Não muito longe, uns 2 km de distância no máximo. Gojo aproveitou essa deixa, sua casa era enorme, bagunçada e colorida, diferente da minha que era pequena, arrumada e neutra.

Agora, estamos na casa de gojo, mais precisamente, na sua sala bagunçada. O convidei para ficar na minha casa na praia nestas férias, ele aceitou, e agora havia 2 malas consigo no meio de uma enorme bagunça de revistas, roupas, comidas e coisas estranhas demais para serem rotuladas.

─ Eu acho isso uma tremenda injustiça - ele disse na frente do portal.

─ O que?

─ Você ter uma praia e eu não, sendo que eu claramente sou mais forte e bonito que você - havia um biquinho em seus lábios, como uma criança emburrada.

─ Entre logo no portal sato - disse sorrindo.

Entrei no portal logo após dele, já estava acostumado com a imensa praia mas nunca me acostumei e nunca irei me acostumar com a obra de arte que é gojo. Ele sorria enquanto o breve vento balançava seus cabelos, ele gritou algo que não consegui entender, mas não importava, pelo menos agora não.

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Havia se passado duas semanas, jogamos, comemos e nos divertimos, meus sentimentos cresciam e a minha coragem, desaparecia. Toda vez que vejo ou ouço gojo, eu saio de órbita sem querer voltar, queria passar a vida inteira no universo de gojo, mas também não sabia se podia.

Eu sou suficiente? Eu mereço? Ele me ama? Minha mente havia se esquecido dos "eu te amo" direcionados a mim, restando apenas uma neblina, uma cortina que escondia as respostas. Eu queria abrir, mas talvez não fosse a peça que eu queria ver.

Enquanto eu tinha mais uma de várias crises existências, gojo se preparava para dormir, eu sabia disso mas não prestava atenção. Não conseguia, pode parecer besteira, mas minha mente não se concentrava, meu corpo havia congelado e a minha única visão era a praia pela janela, o único som que eu ouvia era meu coração pulsando.

Por que eu sou assim? Tão inseguro? É apenas uma paixão, certo? Mas antigas lembranças retornavam, talvez eu nunca fui amado, nem pelos demônios que moram dentro de mim. Nem para a luz que olhou para mim naquele dia, a luz que me salvou estava sumindo, talvez ela nunca estivesse lá. Eu estava suando, eu deveria fugir, mas não conseguia mexer nem um dedo sequer.

Mas foi quando ele me abraçou por trás, colocou a cabeça no meu ombro e o cheirou sonolento, que eu consegui me acalmar. Eu conseguia me mexer novamente, novamente por ele.

─ Hey, o que tanto vê olhando para a janela? - o seu sorriso, o seu rosto, a sua luz, a bênção que é você, era isso que eu queria responder.

─ A praia, ela é linda a noite.

Seus olhos se abriram lentamente, admirando a praia iluminada pela lua e todos os seus amores, as estrelas.

─ É realmente lindo - disse antes de voltar a fechar os olhos, e consequentemente, dormir em meu ombro. Não evitei sorrir, gojo tinha uma personalidade forte que na maioria do tempo é estúpida e irritante, mas ele era na verdade um bebê.

Levantei do sofá com ele ainda em minhas costas e o levei para a cama, o cobrindo logo em seguida. Iria me virar e ir para o meu quarto, como já havia me preparado, era apenas deitar e dormir, mas ele me impediu.

─ Dorme comigo hoje, estou com frio.

─ Eu posso pegar mais cobertas.

─ Estou com frio pela perda de calor do seu corpo, geto. Deita e durma comigo, por favor.

Não disse mais nada, certamente estava corado. Eu deitei ao seu lado e o abracei, ele encostou a cabeça em meu peito e adormeceu, enquanto eu cheirava o seu cabelo, com o mesmo cheiro de quando era criança. Costumávamos dormir juntos desde que passei a morar com ele, mas por algum motivo provavelmente idiota, paramos quando adolescente. Ainda nos abraçamos, mas não é a mesma coisa. Eu sentia falta de inalar o cheio de gojo antes e enquanto dormia, sentia falta do seu calor, do seu abraço, da sua cabeça em meu peito, eu sentia falta de gojo mesmo estando com ele.

Mais cedo eu pensei em fugir, queria correr para algum lugar distante e nunca mais voltar, mas não seria possível viver sem luz, sem a minha luz.

Adormeci com um sorriso no rosto, o medo dele não estar mais em meus braços quando eu acordasse não estava presente, e não me importava caso estivesse, pois amanhã é um novo dia, e sem luz não há dia.

Ocean eyes | Gojo + GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora