Nas últimas quatro décadas, o crescimento do número de burgueses na China foi tão espetacular, que o filósofo italiano Domenico Losurdo, um dos mais entusiastas apologistas do socialismo de mercado, em artigo de 2001, descreveu assim este fenômeno: "E, no entanto, precisamente como resultado do sucesso das reformas políticas e do extraordinário crescimento da China, o número de milionários e bilionários está crescendo dramaticamente; a riqueza acumulada pelos novos capitalistas pode influenciar a política? É à luz dessa preocupação que você pode compreender completamente a campanha em andamento contra a corrupção. O processo de 'limpeza' não visa apenas a consolidar o consenso social sobre o Partido Comunista da China e o governo; significa implementar a recomendação de Deng Xiaoping e, assim, impedir que os 'elementos burgueses' formem uma classe organizada capaz de tomar o poder". (Domenico Losurdo. A China regrediu ao capitalismo? Reflexões sobre a transição do capitalismo para o socialismo. 2001)
Nada poderia ser mais revelador do que é a teoria de Deng Xiaoping, o pensamento de Xi Jinping e o "socialismo de mercado" do que as palavras de Losurdo. Com efeito, o tão propalado crescimento chinês, nas palavras de um dos seus admiradores, tem levado a um dramático crescimento de milionários e bilionários, isto é, a crescente acumulação de riqueza pelos capitalistas. Que coisa fantástica! Como que Marx não previu isso?!
Pois bem, para impedir que os elementos burgueses, os capitalistas que crescem dramaticamente no país, formem uma classe social e tomem o poder, a solução apresentada por Losurdo é combater a corrupção e ter fé na teoria de Deng Xiaoping. Vejamos: "Ao iniciar suas políticas de Reforma e Abertura, Deng estava ciente de seus riscos inerentes. Em outubro de 1978, ele advertiu: "Não permitiremos que uma nova burguesia tome forma".
"Esse objetivo não é negado pela tolerância concedida aos indivíduos capitalistas. A eles deve ser dado muita consideração. No entanto, um ponto é crucial: 'a luta contra esses indivíduos é diferente da luta de uma classe contra outra classe, como houve no passado (esses indivíduos não podem formar uma classe coesa e aparente) (Deng, 1992-95)". (Losurdo, obra citada)
Que enorme poder tem o senhor Deng! Suas simples recomendações são suficientes para impedir que burgueses (que têm os mesmos interesses de classe e a mesma ideologia, exploram os trabalhadores para obter mais-valia e aumentam suas riquezas), embora cresçam dramaticamente, formem uma classe! É isso mesmo Sr. Losurdo?! Nada de luta contra a exploração capitalista, contra a burguesia, basta apenas focar na corrupção?! Na China não se fala mais em cortar o mal pela raiz?!
Portanto, milionários e bilionários, lembrem-se das palavras de Deng, e não ousem formar uma classe e tomar o poder na China. Podem lucrar bilhões, ingressar aos milhares no Partido Comunista Chinês, explorar as massas trabalhadoras, exportar seus capitais ou colocá-los em paraísos fiscais, podem roubar as terras dos camponeses, formar um exército de reserva de 200 a 300 milhões de trabalhadores migrantes, e, mesmo assim, não serão uma classe nem organizarão um partido para tomar o poder.
Realmente, são tão poderosos os "ensinamentos" do senhor Deng, que pretendem transformar em vento tudo que Marx escreveu sobre a tendência histórica da acumulação capitalista.
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Traição do Partido Comunista da China à classe operária e à Revolução de 1949
No FicciónPublicado em 22 de julho de 2020 por Luiz Falcão (Diretor de Redação do Jornal A Verdade e membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário) no site https://averdade.org.br/2020/07/a-traicao-partido-comunista-china/ Apenas reproduzi aqui...