Capítulo 3 - O Que é um Partido Comunista?

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Pois bem, em 1978, após a morte de Mao Tsé-Tung e a violenta repressão dos dirigentes e militantes que apoiavam a Grande Revolução Cultural Proletária, Deng Xiaoping se tornou chefe do Comitê Central do PCCh e implementou as reformas econômicas que impulsionaram a restauração do capitalismo na China. Algumas pessoas resistem a encarar esta realidade; afinal o partido chinês continua se chamando comunista e ostentando o martelo e a foice em sua bandeira. Mas se a cor do gato não é importante, também não é o nome pelo qual o gato é conhecido. Aqui em nosso país, temos o exemplo do PCdoB, que também se denomina Partido Comunista do Brasil, continua usando a bandeira vermelha com o martelo e a foice – pelo menos em seus congressos –, mas abandonou os ideais comunistas, a teoria marxista da luta de classes e passou a defender a propriedade privada dos meios de produção e glorificar o Exército burguês.

A questão do nome do partido tem tanta importância que levou Lênin, em 1918, a defender a mudança do nome do partido na Rússia. Com efeito, até o 7º Congresso, ocorrido de 6 a 8 de março de 1918, o Partido Bolchevique se chamava Partido Operário Social Democrata Russo – Bolchevique (POSDR). Com a traição dos chefes oportunistas socialdemocratas da 2ª Internacional, Lênin achou por bem demarcar as diferenças com a socialdemocracia e defendeu que o Partido Bolchevique mudasse seu nome para Partido Comunista Russo: "Um argumento importantíssimo a favor da mudança do nome do partido é que, até agora, os velhos partidos socialistas oficiais de todos os países avançados da Europa não se afastaram da embriaguez do socialchauvinismo e do socialpatriotismo, que conduziu durante a presente guerra à completa bancarrota do socialismo europeu oficial, de tal modo que quase todos os partidos socialistas oficiais foram uma verdadeira trava para o movimento socialista operário revolucionário, um verdadeiro obstáculo a ele. E o nosso partido, que goza de simpatias extraordinariamente grandes das massas trabalhadoras de todos os países, tem o dever de fazer uma declaração nítida, clara e inequívoca de que rompe as suas relações com este socialismo oficial, e para isto a mudança do nome do partido será o meio mais adequado para atingir o objetivo". (V.I. Lênin. Relatório sobre a revisão do programa e a mudança do nome do Partido. OC, t. 36)

Portanto, para definir se um partido é ou não comunista não basta observar apenas o seu nome; é necessário analisar sua composição, seu programa, sua prática (no país e no mundo) e sua teoria.

Como sabemos, Marx, Engels, Lênin e Stálin sempre lutaram para construir um partido revolucionário da classe operária em oposição aos demais partidos que defendiam a propriedade privada dos meios de produção e a conciliação entre as classes. A composição deste partido não é, assim, algo secundário, afinal, "De todas as classes que hoje defrontam a burguesia, só o proletariado é uma classe realmente revolucionária". (Marx e Engels, obra citada)

Lênin também definiu o partido comunista como um partido da classe operária: "Nós somos um partido de classe: por isso, a maior parte da classe (e em tempos de guerra, na época da guerra, na época da guerra civil, a sua totalidade) tem que atuar sob a direção do nosso partido, deve manter contato o mais estreito possível com o nosso partido" (V.I. Lênin. Um passo em frente, dois passos atrás)

Na realidade, os verdadeiros comunistas nunca deixaram de combater a conciliação entre as classes e foram extremamente intransigentes com a presença de elementos pequeno-burgueses, oportunistas e revisionistas dentro do partido. Observemos o que escreveu Lênin sobre as condições que foram fundamentais para a vitória da Revolução Socialista Russa:

"Não é possível triunfar na revolução proletária, nem é possível defendê-la, mantendo nas próprias fileiras (do partido) os reformistas e os mencheviques. Isto é evidente. A experiência da Rússia e da Hungria confirma-o plenamente... Na Rússia, passamos muitas vezes por situações difíceis em que o regime soviético teria sido infalivelmente derrotado se os mencheviques, os reformistas, os democratas pequeno-burgueses tivessem ficado dentro do nosso partido..." (V.I. Lênin. Os falsos discursos sobre a liberdade).

Repetimos: "o regime soviético teria sido infalivelmente derrotado se os mencheviques, os reformistas, os democratas pequeno-burgueses tivessem ficado dentro do nosso partido".

Pois bem, o que diria Lênin se dentro do partido existissem não só reformistas e pequeno-burgueses, mas burgueses, e não quaisquer burgueses, mas bilionários capitalistas? É impossível imaginar, simplesmente porque Lênin nunca faria parte de um partido deste tipo e nunca admitiria que tal ultraje se consumasse no Partido Bolchevique ou em algum partido filiado à 3ª Internacional. Sem dúvida, Lênin classificava todos os líderes sindicais oportunistas, social-chovinistas e kautskistas, "pequeno-burgueses pela maneira de viver e pela quantia dos seus rendimentos" como "agentes da burguesia no movimento operário" e deixou tudo isso bastante claro: "A nossa organização é superior a tudo; ninguém que não seja trabalhador, nenhum explorador, tem o direito de participar nesta organização". (V.I. Lênin. I Congresso sobre o Ensino Extra-Escolar. OE, t. 4)

Também Stálin repudiou firmemente aqueles que defendiam a convivência dentro do Partido com os reformistas e os pequeno-burgueses: "A teoria de 'superar' os elementos oportunistas por meio da luta ideológica desencadeada dentro do Partido, a teoria de liquidar estes elementos dentro dos limites de um só partido é uma teoria podre e perigosa que ameaça condenar o Partido à paralisia e ao mal-estar crônico, que ameaça sacrificar o Partido ao oportunismo, que ameaça privar o proletariado do seu partido revolucionário, que ameaça tirar do proletariado a sua principal arma contra o imperialismo". (Stálin. Fundamentos do Leninismo. Edições Manoel Lisboa)

Traição do Partido Comunista da China à classe operária e à Revolução de 1949Onde histórias criam vida. Descubra agora