Você não sabe o que dizem?

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Era uma bela tarde de inverno, e Ash Lynx se sentava em um banco de cimento próximo às dependências da biblioteca pública de NY. Uma carta cuidadosamente aninhada em suas mãos gélidas.

Ash abriu o envelope, analisando o conteúdo.

Uma passagem de avião. De Nova York para Japão. Somente ida.

Um outro envelope abrigava o papel off-white, uma carta de Eiji.

"Querido Ash..." ela dizia.

O coração de Ash acelerava a cada parágrafo. Até que não pôde se conter, e disparou rua adentro. Apenas fora possível avançar alguns metros. O passado voltara para assombrá-lo.

Como havia sido ingênuo, de pensar que poderia deixar tudo para trás e buscar a felicidade.

Com pontadas na costela e um buraco no peito, Ash voltou para a biblioteca. Cidadãos estudiosos ocupados demais com seus próprios mundos não perceberam a forma como o jovem pressionava a lateral do corpo, como ele se encurvava cada vez mais de dor.

Ash por fim sentou-se. O cheiro antigo de livros e história real dominava o ambiente, o sol tardio lançando raios pelas janelas no topo das paredes.

A carta, agora amassada e tragicamente manchada de um vermelho sanguinolento ainda permanecia nas mãos trêmulas de Ash Lynx.

“Você não está sozinho, Ash. Eu estou com você. Minha alma estará sempre com você.”

Minha alma estará sempre com você.

Com um violento sobressalto, Eiji sentou-se abruptamente na cama. Suor empapava sua camiseta e aquecia sua nuca e testa. Eiji tirou os lençóis de cima das pernas e foi até a cozinha, sua gartanta implorava por água.

Antes que o vidro gélido pudesse tocar seus lábios, Eiji chorou. Suas lágrimas rolavam em cascata por suas bochechas, em todas as direções. Sua garganta se apertava cada vez mais, soluços silenciosos sacolejavam seu corpo.

— Eiji?

Eiji virou-se abruptamente, assustado e sentindo-se culpado por ter sido flagrado no meio de uma crise. Limpou as lágrimas rapidamente, embora o rosto já estivesse marcado, e mandou água gelada goela abaixo.

— Eiji, o que aconteceu?

Eiji permanecia olhando para baixo, a garganta ainda apertada e sem condições de falar.

— Eiji, por favor.

Foi apenas o tom de urgência na voz que fez Eiji erguer o rosto choroso. Sem cerimônias nem aviso, caiu no choro novamente.

— U-um sonho... Tinha aquela carta... E você... V-você...

Eiji largou o copo na pia, permanecendo de costas.

— Então, era aquele sonho de novo?

Um aceno de cabeça do moreno.

Mais lágrimas.

Ash compreensivamente se aproximou, seus braços fechando-se firmemente em torno do tronco de Eiji. Deu um beijo tranquilizador no pescoço exposto do moreno. E então mais outro.

— Você não sabe o que dizem sobre sonhar com a morte dos outros? — indagou o loiro.

— Não, o que dizem? — respondeu Eiji, ainda enxugando o rosto com o dorso da mão.

— É sinal de saúde. Quando vc sonha que alguém morre, é porque essa pessoa terá muita saúde. Devo dizer que eu sempre fui duro na queda quando o assunto é doenças. Nem gripe tem chance comigo, sabe como é.

Eiji virou-se, indignado. Com um forte tapa no braço, abraçou o namorado.

— Seu idiota. Pareceu tão real. Só de pensar no que aquela época nos causou, no que poderia ter te causado, só de pensar que você poderia estar... É simplesmente insuportável. — disse, escondendo o rosto na curvatura do pescoço de Ash.

O mesmo segurou delicadamente o queixo de Eiji entre o polegar e o indicador, virando a face do moreno para si. Plantou um beijo suave nos lábios vermelhos, o alívio da realidade relaxando a tensão que os encrispava.

— Foi só um pesadelo, eu estou aqui. Sempre estarei. Minha alma estará sempre com você, lembra? Agora vamos voltar a dormir, estou com sono.

E com mais algumas carícias e beijos doces, eles voltaram para a cama, e dormiram até o dia seguinte, com Buddy ocupando deliberadamente a beirada da cama, aquecendo os pés de ambos até o nascer do sol.

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•créditos da fanart: @ yasuko (via twitter)

𝑆𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑆𝑎𝑢𝑑𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora