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Meus dedos batiam nas teclas, sentia Lita me observar de um canto da sala e uma música tranquila tomar conta do cômodo em que estávamos.
Já faz pouco mais de 1 hora que estamos nesse projeto que parece inacabável, mas eu não iria desistir tão fácil assim.

- Sabe que... - escutei sua sonora voz balançar pela sala. - Eu estava arrumando algumas coisas na minha casa esses dias. Adivinha o que encontrei.

- Nem tenho ideia. - respondi com a voz calma, enquanto minha atenção ainda estava no notebook.

- Uma carta... - ela fez uma pequena pausa. - Do ano de 2021. Foi entregue junto de um livro e um pequeno chaveiro de bolsinha.

Senti meu corpo gelar e tencionar, eu podia sentir a mulher sorrindo e me virei lentamente em sua direção.

- Você... Ainda tem? - perguntei com a voz falha.

- É claro que eu tenho! - a mulher deu risada. - Eu nunca cheguei a dizer, mas aquela carta... - ela suspirou meio a frase. - Foi uma das melhores coisas que já recebi de alguém.

Eu abri um pequeno sorriso com sua confissão e senti meus olhos brilharem, vi a mulher repetir meu ato e se encostar na parede atrás de si, tendo seus braços cruzados abaixo de seus seios.

- Fico feliz com isso! - meu coração estava mil por hora, sentindo o amor transbordar em meu peito. - Sinceramente, fiquei com medo de você não gostar. - soltei um riso nervoso, olhando para baixo.

- Era impossível eu simplesmente não amar! - ela tinha um sorrisinho carinhoso no rosto. - Estava tudo muito bem feito. E inclusive, dona Hernandus... - levantou a sobrancelha. - Não sabia que gostava de escrever à mão.

- Eu amo! - sorri largamente. - Só que eu tenho preguiça às vezes... - falei envergonhada, dando risada e escutando a mulher fazer o mesmo.

- Eu estava querendo saber... - ela deu uma pequena pausa, desviando o olhar do meu e mirando o chão. - Obviamente, outras pessoas compraram o livro também. - seus olhos encontraram os meus novamente. - Você também escreveu para eles?

- Sim. Cada pessoa ganhou uma carta... - Vi seu corpo endurecer e sua expressão fechar.

- Hm. - murmurou. Seus olhos pareciam enraivecidos e se eu não a conhecesse, diria que estava com ciúmes. - Então você simplesmente copiou a carta de um pro outro e só trocou o nome. - ela parecia certa do que dizia.

- Claro que não! - me apressei a falar. - Cada carta foi feita especialmente para cada pessoa. - a vi relaxar novamente. - Se vale de consolo, sua carta foi a maior! - falei brincalhona, abrindo um sorrisão. Pude ver a mulher abrir um pequeno sorriso e sua expressão relaxar consideravelmente.

- Um ótimo consolo! - entrou na brincadeira. - Por quê a minha foi a maior? - parecia genuinamente curiosa.

- Não sei... Acho que eu tinha mais coisas para dizer. - dei de ombros. Olhei para algum ponto qualquer, longe de seus olhos azuis. - Você sempre foi um grande mistério e isso me faz querer dizer muitas coisas para ti, mas nunca o faço. - falei baixo, com um sorriso bobo nos lábios. Eu ainda não a olhava, mas sentia seu olhar pesar sobre mim. - Eu somente queria lhe dizer aquelas coisas e, não sei... Talvez tentar te entender um pouco... - fiz um expressão confusa com meu rosto, me perdendo em meio a minha explicação.

- Eu não poderia dizer que sou tão misteriosa assim... - sua voz era serena, assim como a sonata de Beethoven que tocava no momento. - Mas, se vale de consolo... - ela repetiu minha frase e isso me fez olhá-la. A mulher tinha um sorriso leve no canto dos lábios e seus oceanos brilhavam lindamente. - Apesar de você ter esses olhos brilhantes e esse sorriso solto, você é bem misteriosa também. Às vezes me pego pensando se esses seus trejeitos são somente uma máscara e o quê há por debaixo dela. - fiquei surpresa com a sua súbita confissão e pude me sentir alguns passos mais próxima dela, mesmo que ambas estivéssemos nos mesmos lugares que antes. - Não é como se eu entendesse muito de você também. - ela falou risonha.

Olhos OceânicosOnde histórias criam vida. Descubra agora