0.3

78 22 206
                                    

Ao escutar sua resposta, fiz questão de olhá-lo da forma mais desprezível possível. Que ufania afirmar que todos sentem a sua falta! E logo eu, o garoto que mais o deprecia? Francamente…

— Para o seu governo, eu não senti a sua falta. — Disse totalmente confiante em minhas palavras e cruzei os braços, agora franzindo o cenho. Entretanto, o garoto apenas soltou um riso fraco e me encarou por pelo menos cinco segundos.

— Está bem, pode ser que não tenha sentido minha falta durante esses minutos... mas acredite em mim, ainda irá sentir. — Ele arqueou a sobrancelha direita e se virou de costas para mim, intencionado a voltar para a sua casa.

— Ei, espere aí! — Exclamei ao me aproximar da cerca, e o garoto virou somente sua cabeça para trás. Infelizmente, seu maldito sorriso ainda estava ali.

— Vai dormir, pequenino. Você pode me ver amanhã. — Ele disse com um ego maior do que sua idiotice, e eu me apressei em dizer, antes que ele ousasse a falar mais uma palavra sequer:

— Eu não quero te ver, só quero que desligue aquela coisa horrenda que você chama de música. — Ditei com a voz firme, o que é considerável raro.

— Está bem, está bem. Você é tão chato. — O garoto fez um pequeno beicinho ao dizer. — E era apenas o meu solo na guitarra. Não precisa ofendê-lo assim. — Ele murmurou, e eu apenas encarei a lateral do seu rosto. Como é possível ele ir de um extremo ao outro em segundos? — Boa noite. Te vejo amanhã. — E então, inesperadamente, ele se virou para mim e sorriu, como uma criança plenamente feliz. Antes que eu pudesse reforçar a minha vontade de não o ver, o menino simplesmente saiu correndo para dentro de sua casa.

Ainda confuso com o que acabara de acontecer, encarei a casa dele por alguns segundos e cocei a minha nuca, perguntando-me qual é o problema daquele garoto. Acidentalmente, a ideia de que é por causa de ervas passou pela a minha cabeça.

— Certo, você já está precisando dormir. — Ditei para mim mesmo e endireitei meu corpo, voltando para a casa em seguida. Obviamente, olhei algumas vezes para atrás, conferindo se o idiotinha ousou a voltar.

— Não consegue dormir? — Minha mãe me perguntou assim que entrei na cozinha. Sua voz estava serena e meiga, o que combinava com seu roupão florido em tons de branco, rosa e verde.

— Não. O novo vizinho estava tocando guitarra. — Revirei os olhos ao dizer e me aproximei do balcão, onde minha mãe se apoiava.

— E você foi reclamar, não foi? — Ela perguntou com um pequeno sorriso, como se dissesse: "Eu conheço o filho que tenho."

— Claro que eu fui! Ele não me deixava dormir de jeito nenhum. — Disse com um tom irritado e franzi o cenho. Em seguida, puxei um dos bancos abaixo do balcão e me sentei sobre ele, de frente à minha mãe.

— Hum, sabe do que você precisa agora? — Sra. Park fez uma pequena pausa, e eu a olhei de forma curiosa. — De um bom e velho leite quente.

— Oh, por favor, eu não sou mais criança. — Fingindo que não havia me ouvido, minha mãe se virou de costas e foi esquentar o leite. Por mais que eu tivesse negado, um pouquinho de leite quente viria a calhar.

— E então, como o novo vizinho é? — Indagou enquanto colocava o leite já quente em um copo e caminhou até mim, deixando-o sobre o balcão.

— Honestamente? — Fiz uma pequena pausa, e minha mãe assentiu calmamente. — Insuportável! — Outra vez, revirei os olhos.

— Por que, meu bem? — Ela perguntou sem importar muito com a raiva que eu sentia e se debruçou sobre o balcão, olhando-me com cautela.

— Você acredita que eu fui reclamar com ele duas vezes? Na primeira, ele disse que não havia feito nada e quase me convenceu disso. Tudo bem, eu voltei para casa e me deitei novamente, mas adivinha... Ele voltou a tocar sua guitarra e só parou quando fui lá fora de novo! — Cruzei meus braços e encarei minha mãe com um olhar sério, ainda me sentindo um otário por acreditar que ele pararia de tocar na primeira vez. Após ficar em silêncio me ouvindo, a Sra. Park apenas me olhou e riu.

Citrus Friend • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora