Como as Folhas que Caem no Outono

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Do alto do pessegueiro o sussurro do vento leva

as folhas douradas, avermelhadas e danadas.

De baixo do pessegueiro a terra leva

embora as folhas secas, mortas e moribundas

para as entranhas de sua raiz

e para ser sugada por ela

como sua última serventia,

para então ser seu fim.


Aimée deita sob a coroa de cobre.

O vento sopra seus pensamentos para lá

longe dos sentidos do mundo,

pensamentos que remetem para cá:

as folhas de todos os outonos

caem e entregam

uma tragédia ou um milagre.


O outono de outrora

Aimée construía

colinas de folhas e castelos de areia.

O outono de anteontem

Aimée erguia

novas paixões e novas despedidas.

O outono de ontem

Aimée planejava

listas de exercícios e um futuro para o amanhã.

O outono de hoje,

quando finalmente tocou no céu,

o amanhã chegou e

Aimée despedaça

sonhos antigos e esperanças arruinadas

com um sussurro tão forte quanto o vento:

tudo isso valeu a pena?


Correndo de lá

para cá,

sempre mudando a rota,

pessoas vindo

e indo:

valeu a pena se

todos que faziam isso ter sentido

mudaram a rota e não estão mais aqui?


As folhas caem e Aimée se levanta.

Chuta a poça dourada, avermelhada, acobreada

e o olha para o céu

nublado

e para o feixe de luz

que o parte:

começa num ponto e termina noutro,

ontem o preenchia como um todo.


Algumas pessoas,

por mais queridas que sejam,

são como as folhas no outono:

surgem, cumprem seu papel e vão

para outras virem.

Ainda assim,

nutrem a árvore,

entrando para sempre

nas entranhas de sua raiz.


Vale a pena.

Como as Folhas que Caem no Outono (Coletânea Poética 'Sensações de Outono')Onde histórias criam vida. Descubra agora