❧ Capítulo 1

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Lisa

Família? Nunca tive uma para chamar de minha.

A minha mãe morreu durante o meu parto e o meu pai morreu num acidente de carro quando estava a caminho do hospital. Como nasci prematura, passei um mês na incubadora e quando sai do hospital fui viver com uma família adotiva. Eu tinha sete anos quando a minha mãe adotiva conheceu alguém, mas esse alguém não queria cuidar da filha de outra pessoa. 

-Tu queres que eu crie esse demônio que matou a própria mãe? Ou ela ou eu...

E adivinhem quem é que a minha mãe adotiva escolheu?

Durante vários anos vivi num orfanato e rapidamente aprendi que as crianças são más. Eu era a trinca-espinhas por causa da minha forma magra, a água de salsicha por causa do meu cabelo ruivo e, com o passar do tempo, tornou-se cada vez pior.

O meu corpo começou a desenvolver-se, os meus seios, as minhas nádegas e as minhas curvas aumentaram da noite para o dia. As ofensas ganharam novos significados, os olhares intensificaram-se e eu só me consegui sentir cada vez mais sozinha. Eu sentia-me como se estivesse a nadar no oceano, por vezes conseguimos manter a cabeça fora de água, outras vezes quase afundamos na nossa própria miséria, mas, antes de ser tarde demais, nós conseguimos uma boia salva-vidas. Eu ainda não tinha encontrado a minha boia salva-vidas e não havia nada que me impedisse de afundar...

Há uma altura em que as crianças deixam de ser adotadas pois já são muito grandes e ninguém às quer. Foi o que aconteceu comigo... Depois do que aconteceu com a minha família adotiva, nunca acreditei que alguém me pudesse querer. As pessoas olhavam para mim e começavam a sussurrar. Elas apenas viam um pequeno demônio que causara a morte da mãe.

Como todas as crianças aqui, eu sonhava com uma família perfeita que me resgataria deste pesadelo. Nós seriamos felizes e eles nunca me abandonariam. Finalmente haveria um "Viveram felizes para sempre" na minha vida.

A felicidade não é só dos que acreditam, mas também dos que duvidam. Nós duvidamos tanto que uma coisa boa possa acontecer que quando acontece nós não estamos prontos para ela. A felicidade é imediata e somos arrebatados por uma felicidade imensa, como se não houvesse outra igual.

Quando eu tinha doze anos, uma mulher com apenas o dobro da minha idade adotou-me. Ela olhou para mim com olhos doces, sem nojo ou qualquer recriminação. Ela olhou para mim como se eu fosse o seu pequeno mundo e daí em diante, sempre que ela olhava para mim, eu sentia-me assim, única, protegida e amada.

Parecia estranho chamá-la de mãe quando ela era tão nova, mas ela era isso mesmo. Ela tomou conta de mim quando mais ninguém tomou, ela deu-me uma casa para chamar de lar e, apesar de sermos só nós as duas, eu considero-nos uma família. Ela foi mais do que o que eu já tive em toda a minha vida.

Fomos sempre só nós as duas. Às vezes, a Beckie trazia namorados cá para casa, mas nada duradouro. Eu até já estava acostumada à agitação e barulho durante a noite. No entanto, algo mudou. Há um mês, ela começou a namorar com o Ian, um homem mais velho e super gostoso. E de brinde, o meu novo meio-irmão, Noah.

O que posso eu dizer? Uma casa não aguenta simplesmente com esta testosterona toda sem alguma coisa se partir ou calcinhas começarem a aparecer molhadas. Perfeitamente compreensível!

Tic...Tac... Tic...Tac...

O tempo não para, mas ainda assim parece lento demais. Eu estou ansiosa para fazer dezoito anos e embora sempre tenha vivido calmamente, há uma parte minha que começou a despertar. Hoje é o primeiro dia das férias de verão e adivinhem o que é que eu encontrei no meu cacifo? Uma carta, mas não uma carta qualquer. Não há palavras que possam explicar o que está escrito, por isso passo a citar:

Devassa (livro 2)- Série SwitchOnde histórias criam vida. Descubra agora