• novo amor •

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***

A claridade pelas poucas brechas na cortina, junto ao aperto do braço de Queen no meu pescoço, me fizeram lentamente abrir os olhos e identificar logo de imediato o lugar que eu me encontrava. Ainda sonolenta, pensei em como sairía da cama sem acordar as crianças, já que Mosquito também estava preso às minhas pernas como se agarrasse um bichinho de pelúcias. Com todo cuidado do mundo, consegui me desvencilhar deles sem que acordassem. Aqueles pequenos pareciam anjos dormindo mas, quando acordados contra vontade, poderiam muito bem passar um dia inteiro sem falar com ninguém. Então, puxando o mais velho com zelo para que ficasse pertinho da irmã, os cobri com o edredom que mais cedo embalava nosso sono e saí, direto para o banheiro.

Minutos depois, quando desci para pegar minha bolsa que havia ficado na sala, me surpreendi com a presença repentina de Alan no corredor. O cumprimentei, sem graça, retribuindo ao seu sorriso estranhamente feliz.

- Bom dia!

- É... B-bom dia! Desculpa, eu ainda tô de pijama, mas é porque minha bolsa ficou aqui embaixo, aí vim buscar... - Corri para pegá-la ao lado do sofá. - Não sabia que você já tinha acordado.

- É, na verdade eu mal consegui dormir...

- Sério? Por quê?

- Aconteceram algumas coisas ontem que me fizeram pensar a madrugada inteira... - A forma como ele me olhou fez com que eu me arrepiasse inteira. Ele não devia me olhar daquele jeito quando eu o via como o príncipe dos meus sonhos e ele me enxergava apenas como uma amiga.

- Ah... Você... Quer falar sobre?

- A gente pode tomar café e conversar. O que acha? - Alan estava agindo de um jeito estranho. Parecia tímido, de repente, com suas mãos dentro dos bolsos da calça de moletom, enquanto balançava seu corpo. Deixei isso de lado. Podia ser apenas uma impressão.

- É claro! Eu vou subir pra me trocar e já desço de novo então... - Ele assentiu, antes que eu subisse para o banheiro e me apressasse para me vestir. Quando terminei de me aprontar e, assim que saí, meus olhos pararam diretamente na mesinha de vidro posicionada no corredor. Ali haviam alguns porta-retratos desde sempre... Algumas vezes modificados por sr. Ignacio, outras por Alan e até mesmo pelas crianças, que sempre procuravam manter viva a memória da mãe. Eu podia afirmar com certeza que a minha foto não estava ali ontem à noite. Não mesmo. E nela, eu sorria na companhia das crianças e Alan, no jardim da casa, pouco tempo depois de Queen, Mosquito e Tarantino serem adotados. Eles estavam tão pequenos, e o tempo havia passado tão rápido... Mas eu ainda me lembrava perfeitamente daquele dia.

São Paulo. 2017.

Para muitos, o ato de se casar e adotar três filhos poderia ser muito precipitado diante de apenas um ano juntos. Mas Alan e Roberta estavam apaixonados. Nitidamente muito apaixonados! Se olhavam sempre com muito carinho, afeto e respeito. Eu estava feliz pela minha amiga. Roberta, após alguns relacionamentos fracassados, nunca deixou de sonhar com um homem que a respeitasse e a admirasse. E, sem dúvidas, Alan era esse homem. Um cavalheiro! Sempre muito gentil e atencioso. Não deixava que nada faltasse à ela. Sua esterilidade nunca havia sido um problema para Roberta, já que ela sempre compartilhou comigo e Alexia o seu sonho de adotar três filhos... Duas crianças e um mais velho. Logo, os escolhidos foram Queen, Mosquito e Tarantino. Os pequenos já demonstravam ser bastante hiperativos, mas muito carinhosos. Já o pré-adolescente, com pinta de galã, era um pouco mais tímido. Isso mudava quando Alan se aproximava. Tarantino parecia querer sempre agradá-lo. E aquilo era tão fofo. Uma verdadeira família dos sonhos...

- Será que vai demorar pra crescer? - Queen perguntou, se referindo à arvore que plantávamos no jardim com a ajuda dos irmãos e do pai. Roberta e Alexia estavam na cozinha, preparando um lanche especial para os pequenos, enquanto sr. Ignacio cuidava de suas plantas. Eu sorri com a maneira doce como a pequena havia se dirigido à mim. Eu sempre tinha vontade de apertá-la.

Turn Of FateOnde histórias criam vida. Descubra agora