Turn Of Fate

• o jeito que faltava •

***

Eu não sabia o que tinha me dado a partir do momento em que Kyra saiu pela porta da minha casa. Mas sabia que ela havia entendido tudo errado. Me apressei para ligar para Alexia e pedir uma opinião. Mesmo ainda muito sonolenta, ela disse que estava disposta a me ajudar. Não sabia como. Mas já era alguma coisa. Combinamos de nos encontrar no shopping mais próximo da minha casa após o almoço, já que ela tinha acertado um horário num salão de lá. E, pouco antes de sair, deixei as crianças com tia Graziela e dei os remédios para o vovô.

Já no estacionamento, a avistei. Ela tirava fotos com alguns fãs e, sem jeito de me aproximar, esperei que ela me chamasse, para só então ir até ela. Quando isso aconteceu, ela agarrou em meu braço para entrarmos e já perguntou sobre o que tinha acontecido.

- Tá, mas me fala os detalhes... Você só disse que ela não tinha entendido o que você quis dizer. Mas o quê você falou?

- Não deu tempo de explicar muita coisa, mas eu disse que tinha passado a ver uma pessoa com outros olhos ontem na festa, e...

- Alan, a gente tá falando da Kyra! Ela não entende nada nas entrelinhas e isso de duplo sentido não funciona com ela. Você tinha que ter sido direto!

- Mas eu tentei. Só que ela não quis me ouvir.

- Aposto que quis chorar, tadinha...

- Alexia, eu não entendo... - Parei diante da minha prima, ainda na entrada do shopping. - Eu concordo com o posicionamento dela de nunca ter falado nada sobre isso enquanto a Roberta ainda tava aqui... Mas depois a gente se aproximou muito. Ela frequenta a minha casa praticamente todos os dias, e por que mesmo assim ela nunca demonstrou nada? Isso por acaso não é coisa sua pra juntar nós dois?

- Alan, isso até me ofende! - Dramatiza, colocando a mão sobre o peito. - É claro que não! Eu nunca entregaria minha amiga desse jeito se não fosse verdade. E a razão da sua preocupação com isso desde ontem, é porque você também sente alguma coisa por ela e tá com medo de criar esperanças. Mas, primo... - Se aproxima. - Ela é realmente apaixonada por você. E ela é tão maravilhosa, que às vezes o motivo de nunca ter demonstrado tanto, era justamente pra que você não a achasse maluca... Ou colocasse em dúvida o caráter dela, já que ela e a Roberta eram amigas.

- Claro que não, Alexia! A Kyra, ela... Ela é incrível! Sempre cuidou dos meus filhos, e agora tem cuidado tanto de mim também... - Sorrio. - Mas eu nunca desconfiei de nada mesmo, sabe? E também não vou mentir... No começo eu afastava muitos pensamentos quando a gente se encontrava. Afastei tantos, que já era como se cada um deles fosse um pecado, entende? - Ela assentiu. - Tinha ficado no meu subconsciente e o tempo ao lado de outra pessoa me fez esquecer... Eu realmente amei muito a Roberta, muito! Você viu, Alexia, o quanto eu sofri...

- Claro que vi.

- Mas... Mas quando você falou aquilo pra mim ontem à noite, por um momento foi como se eu tivesse desbloqueado tudo... Todos os pensamentos, e o jeito como às vezes eu a achava mais bonita do que o necessário... Surgiu uma coisa dentro de mim... Ou ressurgiu, eu não sei direito. Mas eu quero tentar... E ao mesmo tempo não quero que ela se sinta desconfortável. O que a gente construiu se tornou uma relação muito sólida. Acima de tudo, ela sempre foi minha amiga... Então eu preciso fazer as coisas com calma.

- Sim, eu entendo! E te acho tão querido por isso... Mas é até engraçado você ter receio de deixar a Kyra desconfortável, quando tudo o que ela quer é sent... - Antes de concluir a frase que eu nunca saberia qual era, ela interrompeu o seu pensamento. - Deixa pra lá, né? Isso fica pra depois.

- E como você vai me ajudar?

- Pra começar, eu tenho uma ideia excelente! Vem! - Me puxou para dentro do shopping, indo comigo até seu salão preferido e usando todas as suas vantagens de atriz da Globo para conseguir me encaixar no mesmo horário que o seu. Eu disse que não precisava, que aquilo podia ser adiado e que eu estava ali somente para acompanhá-la. Mas, com todos os seus argumentos e persuasão, acabei me rendendo e aceitando a mudança, que se esticou para compras de novas roupas. Essas fiz questão de pagar, mesmo contra os protestos de Alexia. E, no final, eu tinha aderido um estilo completamente novo e diferente. Eu já não era mais tão bagunçado.