Capítulo 6

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Ela gostava de estar no controle. Assim, quando Christopher Uckermann insistira em um jantar para discutir as possíveis candidatas a esposa, Dulce começara a analisar potenciais cenários.

Talvez ele houvesse reconhecido uma das mulheres ou atribuído um sobrenome a um rosto. Ela omitia propositalmente os sobrenomes, para que seus clientes avaliassem o mérito das candidatas por seus atributos, e não por suas famílias. Dul sabia muito bem como as pessoas a julgavam pelas atitudes de seus pais. Depois da derrocada deles, ela pensara em trocar de nome e até de cor de cabelo. No fim, resolveu se mudar para a costa Oeste e evitar a mídia. A atenção dos tabloides durou pouco. Assim que um novo escândalo entrou em cena, o dela foi esquecido. Viver perto de Hollywood fazia com que os holofotes constantemente se voltassem para alguém. Assim, seu rosto não saía nos jornais desde o funeral de sua mãe.

Talvez, se Dulce fosse uma beldade que fizesse de tudo para aparecer, os jornais a houvessem seguido. Mas se esquivar dos repórteres se provou tarefa fácil quando ela começou a se vestir como uma virgem.

Muito bem, sobre o que Uckermann queria falar? Talvez ele já tivesse conversado com seu advogado e precisasse de detalhes que os documentos de Dul não forneciam. Ela pensara em todas as brechas possíveis quando abrira sua empresa. Sempre pagava seus impostos — obrigada, papai — e era discreta em relação a seus contatos. Nada que ela fazia, como investigações particulares ou checagem de antecedentes, era ilegal. Ela procurava obter informações especialmente com mulheres. Dul não era ingênua a ponto de acreditar que elas não eram capazes de atos ilegais, mas tinha dificuldade de confiar nos homens. Não havia muitos em sua vida que não a tivessem decepcionado. Na verdade, ela não conseguia pensar em nenhum.

O sol ainda brilhava quando ela entrou no estacionamento do mais caro restaurante à beira-mar em Malibu. Sem conseguir evitar que o manobrista estacionasse seu carro, Dul deixou seu sedã compacto ligado e desceu. Agradeceu ao homem e o observou pegar o volante, apenas para estacionar a poucos metros de distância. Seu Chevrolet parecia completamente deslocado entre todos os Lexus, Mercedes e Cadillacs.

Dulce entrou no fresco restaurante e deixou que o cheiro de alho e ervas tomasse seus sentidos e lhe provocasse água na boca. A última vez que jantara em um restaurante cinco estrelas fora no ano anterior, com uma de suas clientes, então casada e feliz. Dul havia desistido dos jantares elegantes e da vida opulenta havia muito tempo. Mas de algumas coisas sentia saudades. Comer algo diferente de comida congelada ou de delivery estava no topo da lista.

Antes que Dulce tivesse oportunidade de se aproximar da hostess, um homem a abordou:

— Srta. Saviñón?

Estranho, ele não parecia vestir o uniforme dos funcionários. Talvez fosse o gerente.

— Sim?

— O sr. Uckermann a espera.

Deve ser o gerente. Dulce seguiu o homem bem-vestido restaurante adentro até uma mesa isolada com vista para o Pacífico. Christopher Uckermann se levantou quando ela se aproximou. Como antes, os traços esculpidos dele e a maneira como seu corpo preenchia o terno de grife provocaram um arrepio em Dul. Ele dominava o espaço com sua simples presença.

Os olhos de Christopher a examinaram, e um pequeno sorriso ergueu o canto de seus lábios. Ela usava um vestido simples, não muito casual, mas certamente nada digno do Oscar. A expressão no rosto de Christopher dizia que ele havia aprovado. Não que ela se vestisse para receber a aprovação dele, mas não queria parecer inadequada sentada ao seu lado. Seus olhos se encontraram, e ela sentiu uma corrente abrasadora deslizar por sua espinha.

— Você está atrasada — disse ele, provocando-a.

Ela abriu a boca, fazendo sua melhor personificação de um peixinho, e em seguida a fechou.

— Touché.

Ele sorriu.

— Tomei a liberdade de pedir uma garrafa de vinho. Espero que não se importe.

Christopher esperou até que ela se sentasse antes de pegar o vinho no balde de gelo a seu lado. Ela o observou derramar o líquido pálido em uma taça e se esforçou para não o encarar.

— Estamos comemorando alguma coisa?

— Talvez — disse ele enquanto inclinava a garrafa sobre a própria taça.

Dul queria perguntar logo que candidata ele havia aprovado. Mas, claro, ele não havia conhecido as mulheres ainda, de modo que ela sinceramente duvidava de que já tivesse escolhido uma.

Christopher ergueu a taça e esperou até que ela se juntasse a ele no brinde.

— A uma relação comercial bem-sucedida.

Um arrepio de incerteza passou por sua mão quando ela pegou a taça de vinho. O modo como Christopher dissera “relação” não soara bem. Depois de bater sua taça na dele e provar um gole, Dulce colocou as mãos no colo para esconder o leve tremor que traía seus sentimentos.

— Espero que não tenha pegado trânsito.

Tudo bem, eles não começariam aquela conversa falando de negócios, como ela pretendia. Em vez de forçar, ela permitiu que a conversa continuasse, em um tom casual.

— A Pacific Coast Highway é sempre difícil de atravessar na hora do jantar.

— Obrigado por concordar em me encontrar aqui.

— Fiquei surpresa por você escolher este lugar. Acho que um jantar de negócios seria mais apropriado em um lugar menos formal. — Menos romântico, ela queria acrescentar.

Christopher relaxou em sua cadeira. Suas feições pecaminosamente bonitas tornavam quase impossível para ela se concentrar na razão pela qual estava sentada diante dele. Era muito fácil se perder em seus incríveis olhos e no calor de seu sorriso.

— É contra a minha natureza convidar uma linda mulher para ir a um bar tomar um drinque.

Oh-oh, hora de mudar o rumo das coisas. Dulce sabia que não era linda. Talvez atraente, mas o tipo de beleza que atraía esse homem estava longe do seu perfil.

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