Capitulo IV

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Dois dias depois que a senhora Horan disse que me mandaria uma mensagem assim que escolhesse a data para partimos em destino a Irlanda do Norte, ela realmente cumpriu com sua palavra, fazendo questão de enviar uma captura da tela das passagens de avião que comprara para mim e Liam já que a mesma havia partido um dia antes para Mullingar. Naquele momento, a despedida era a pior coisa, mas, acima de tudo, eu não poderia ser egoísta ao ponto de não tomar a decisão correta.

— Vai levar só isso, Ceci? — Minha mãe questionou analisando minha mala única em contraste com as tantas do meu irmão — Lee, por que tudo isso?

Liam colocou sua mochila no chão e sorriu sem graça, sentando no sofá como se suas pernas estivessem fracas demais para movimentá-las.

— A pergunta que a senhora realmente devia fazer é: "por que não tudo isso?" Ou então "por que a maluca da Cecília tem só uma mala?"

— Porque a Cecília vai voltar em pouco tempo — Rebati fazendo uma careta para ele e abraçando minha mãe — Você vai mesmo ficar bem, mãe?

— Pode parar, Ceci! — Nicola protestou ofendida — Não confia mesmo que eu possa cuidar da mamãe sozinha? E também tem o novo namorado dela e... — Minha irmã se calou de repente, recebendo um olhar nervoso de Liam e suas mãos abanando em sinal negativo — E nada, irmãzinha! Termine de pegar suas coisas.

— Como assim "namorado novo"? — Indaguei franzindo as sobrancelhas e olhando para a minha mãe de braços cruzados — Desde quando você tem namorado, mãe?

Mamãe me encarou por um tempo, sustentando meu olhar magoado e só depois revirou os olhos e se afastou.

— Ah, Cecília! Quer me deixar em paz?!

— A nossa mãe não tem namorado, Cecília — Liam disse — Era só brincadeira da Nicola. Não é, Ni?

— Liam, ela já não é mais uma criança! — Minha irmã retrucou sentando no descanso do braço do sofá com uma cara de poucos amigos — Sim, Cecília. A mamãe tem sim namorado. E já fazem quatro meses, aliás.

— Quatro meses e vocês esconderam isso de mim?! Por que? — A mágoa ficou ainda mais clara na minha voz.

— Porque sabíamos da sua reação instável — Nicola respondeu sem rodeios.

— Reação instável — Murmurei afinando a voz para tentar imitá-la, mesmo que a minha fosse ainda mais baixa que a dela — Que cassete de reação instável nenhuma! Como pode ter um namorado, mãe?

— Eu não vou esquecer do seu pai só porque estou namorando! Não misture as coisas, filha.

Ela esqueceria dele, tive certeza em meio a raiva. Contudo, não disse nada, apenas assenti relutante.

— Tá, tá! — Falei pegando minha mala do chão — E quem é esse cara, então?

— Paul.

— Paul? O Paul dono da única fazenda de toda Wolverhampton? — Indaguei surpreendida — Aquele que escolhia as melhores laranjas para a senhora, não é? Eu sabia que ele tinha segundas intenções! Eu já não tinha dito?!

Mamãe deu de ombros e olhou para fora da janela, percebendo a chegada do carro de aplicativo que levaria eu e meu irmão gêmeo para o aeroporto.

— Vão logo, meus bebês mais novos! — Despediu-se nossa mãe nos enchendo de beijos distribuídos igualmente — Salvem vidas e empresas, certo? Mas acima de tudo não apoiem o capitalismo e não esqueçam de dizer para a irmã de vocês que ela precisa vir nos visitar. Ruth é uma ingrata!

Deixei um beijo no rosto da pequena Ffion e sussurrei o quanto sentiria falta do seu choro de neném. Tudo bem que isso era mentira, mas eu estava emocionada demais naquele instante e Ffion nem se lembraria disso dado ao fato de que só tinha oito meses de vida.

Disse tchau à Nicola e à nossa mãe com a promessa vaga de que voltaria antes dos feriados de fim de ano, o que seria bem difícil já que eram dali dois meses.

[...]

— Caramba! Você acha que eles moram em uma dessas? — Encantado pelas construções requintadas e rústicas, Liam perguntou colocando o dedo no vidro da janela de forma que o mesmo ficou em cima das casas daquela rua de Mullingar.

Havíamos saído da viagem de avião — a qual durou pouco menos de quatro horas — há cerca de uns quarenta minutos e desde então Liam não parou de falar sobre tudo aquilo com empolgação, nem mesmo quando entramos no carro do motorista particular da senhora Horan que nos esperava a tempos no aeroporto.

— Não faço ideia — Respondi com um sorriso forçado, não dando a mínima para aquilo.

Acho que essa sempre foi a grande diferença entre nós dois: Liam preferia tudo do bom e do melhor, o luxo antes do conforto. Já eu tinha para mim que quanto mais simples, mais acolhedor parecia o lugar. Mesmo que soasse um pouco estranho, era assim que eu me sentia. Coisas estáveis e monótonas eram mais seguras.
Tudo exatamente no preto e no branco.

Ao alcançarmos o fim da rua, percebemos que eles não moravam em casas como aquelas e sim na maior delas, com o dobro de tamanho e terreno. Uma mansão. Até os portões davam — talvez — quinze de mim em pé, uma em cima da outra.
O motorista sorriu controladamente da nossa reação em cadeia, levando-me a estreitar os olhos para ele pelo retrovisor e rir. Saímos do carro e tudo no que pensei foi admirar a fachada monumental. Por que precisavam de tudo aquilo de espaço?

As vidraças eram enormes e as árvores também. Em uma das janelas enxerguei de relance um homem loiro nos observando chegar. Ao revirar os olhos azuis e sair de lá aparentemente irritado, pude perceber que havia alguém na casa que não gostaria da nossa presença ali. Da minha presença em específico, dada a intensidade de como me encarou.

Fomos recebidos na entrada pela senhora Horan muito contente pelo feito de convencer-me a seus gostos, tendo ao seu lado a governanta da casa — Lucy —, uma senhora extremamente simpática.

— ...e essa está ocupada no momento pelo meu filho e alguns funcionários, por isso não posso abri-la mas é só uma sala qualquer como as outras dez desocupadas do andar de baixo — A senhora Horan continuou seu tour e as explicações sobre tudo, mesmo que eu não tivesse escutado quase nada e nem decorado metade. Me perderia na primeira oportunidade. Rezei para que Liam estivesse focado em aprender sobre o lugar em vez de apenas olhar para os desenhos de anjos no teto — Tudo certo para vocês? Liam, você agora vai trabalhar com o meu filho, tudo bem? Ele precisa de mais ajuda com as empresas e, Cecília, seu quarto é perto do que seu irmão vai ocupar.

— Desculpe, senhora Horan, mas vamos ficar com a nossa irmã em Athlone — Informei sem graça, mesmo que não quisesse nem de longe incomodar Ruth e sua família ou muito menos ter que me deslocar todo dia por uma hora de Athlone até Mullingar.

— Não mesmo, senhorita Cecília — Foi tudo o que disse antes de caminhar para outro lugar — Agora preciso ir porque tenho uma reunião. Querem esperá-lo no quarto dele? Daqui a pouco ele aparece, está fazendo fisioterapia, se é que me entendem. Só para garantir que os ossos vão estar bem no outro dia e com menos dores possíveis nas articulações.

Assenti.

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Voltei! E queria pedir desculpas pelo sumiço, só achei que a história poderia estar chata mas agora voltei e escrevi muito capítulos!!!

A Vida em Preto & Branco [N.H]Onde histórias criam vida. Descubra agora