𝕮𝖆𝖕í𝖙𝖚𝖑𝖔 7 - 𝕻𝖆𝖈𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖊 𝕬𝖒𝖔𝖗

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Meu avô era um homem valente, de alma humilde e olhar travesso

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Meu avô era um homem valente, de alma humilde e olhar travesso. Em sua pele era possível contar anos de trabalho, no entanto, sua mão sempre me pareceu suave quando me tocava tentando me ajudar depois de um dos meus pesadelos. São muitas as lembranças que dormem no refúgio do meu coração, em especial os seus sábios conselhos. Aqueles que evoco todos os dias.

Muitas gerações podem ter sido muito distintas. É possível que aqueles anos em que meus avós construíram os alicerces das suas vidas tenham tido outros ventos e outras vozes alheias às minhas. Meu presente marca estímulos diferentes e novas modas para eles. No entanto, as essências continuam sendo as mesmas. Daí que o seu legado de sabedoria sussurrado através de longos passeios ao lado de uma xícara de chocolate quente continua sendo igualmente valioso.

Os avós moldam esta âncora emocional e significativa à qual é sempre bom retomar. Sabia que a minha mãe e meu pai deveria ser um "arsenal" em termos de conselhos e diretrizes que sempre agradeceria, mas no meu caso isso nunca aconteceu. No entanto, evocar aquelas conversas do passado com meus avós é como abrir uma porta de ar calmo para onde sempre gosto de regressar. Porque sou um nostálgico irremediável.

Talvez seja porque eles não tinham a obrigação explícita de "educar", de colocar regras. Meus avós acompanharam e estimularam estas descobertas relaxadas que na mente de uma criança como eu seria sempre tão receptiva. Tudo isso explica por que, mesmo vendo o mundo através dos vidros de um adulto, coloquei o espelho retrovisor virado para as raízes da minha infância. Eles foram a minha bússola nesse turbilhão que acabou tornando a minha vida.

Um destes sábios conselhos que meus avós me deixaram é o e ter a mentalidade e o coração humilde. Eles foram os mediadores de muitas de nossas brigas entre eu e meu pai. Apagaram as minhas tensões quando ficava chateado com as atitudes do homem que deveria me ajudar a vencer os desafios e, com voz paciente, me encorajaram a baixar o meu ego nestes anos em que tudo me parecia injusto. Sua voz paciente e suas palavras oportunas transformavam sempre os aborrecimentos em gargalhadas. Só então descobri que ficava irritado por nada, e que a ira ia embora quase como um passe de mágica quando focava a minha atenção em outra coisa. Meus estimados avós me ensinaram que as brigas não resolvem os conflitos. Que acreditar ser mais que alguém é ser menos que ninguém.

Tudo o que o meu pai na verdade não queria que eu aprendesse. Eles me fizeram ver também que ninguém é melhor do que eu e que as injustiças começam sempre quando deixamos a humildade de lado para permitir que o vento do egoísmo sopre em nossa direção.

Foram muitas as tardes em que, guiado pelas mãos dos meus avós, descobri pela primeira vez os ciclos da Terra. Passeamos por caminhos cobertos por folhas no outono e nos adentramos naqueles bosques onde o orvalho matinal mudava a paisagem durante o inverno. Compreendemos que entre a plantação e a colheita é necessário chuva, fertilizante e paciência. Que as árvores vivem mais que os homens e que mesmo assim as cortamos, longe de as venerar como deuses. Meus avós me ensinaram a amar os animais, a olhar para eles sem alterar seu ambiente natural e a compreender que este é um mundo que não me pertence. A Terra é só um lugar de passagem que tenho que respeitar como ser vivo que sou.

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