Capítulo um: Adaptation

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Cada pessoa tem sua forma de lidar com o luto, uns transformam a dor em raiva e descontam em tudo e todos ao seu redor; outros choram e se isolam do mundo; outros ficam agitados e acabam fazendo coisas que pode chamar a atenção para ele e então tem os que simplesmente empurram a dor, a leva e opta não olhar para ela. Lida com todas as mudanças de humor, com toda a ansiedade, agitação, insônia, falta de apetite, e etc, no silêncio.

Esse era Langa.

Langa Hasegawa, tinha apenas sete anos de idade quando perdeu seu pai e seu único amigo por um enfarte agudo no miocárdio. Seu pai estava tendo muitas dores no peito durante a semana que se foi. Acontece que ele nunca procurou um médico durante esse tempo e, escondeu tanto de Nanako quanto de seu filho para não preocupa-los.
Quando tudo aconteceu era cedo, ele estava se preparando para deixar Langa na escola. Foi muito rápido, em um minuto ele estava respirando ofegante com a mão no peito, como se estivesse procurando por ar, estava suando e pálido.

Foi assustador para Langa que era apenas uma criança vendo seu pai morrer na sua frente.

Todo o resto foi como um borrão. Seu pai caiu no chão não muito tempo depois do infarto começar, sua mãe desesperada ligando para a ambulância e chorando ao lado de seu pai que continuava a respirar de forma ruim.
Langa ficou com sua avó que chegou as pressas em sua casa assim que a ambulância chegou. Ele odiou ter sido deixado para trás, odiou mais ainda quando soube que nem teve chance de se despedir do próprio pai.

Ele não se lembra do que aconteceu depois que recebeu a notícia da sua avó que seu pai havia falecido. Ele não chorou, não porque não doía, mas sim porque ainda não tinha caído a ficha completamente.

Ele era uma criança, claro que esperaria seu pai voltar todos os dias.

E ele esperou. Todos os dias, ele o esperou depois da escola, ou mesmo quando acordava sozinho continuava em sua cama esperando seu pai entrar, com um sorriso brincalhão e o acordar. Ele esperou seu pai pegar a prancha de snowboard e dizer que hoje eles iam subir na montanha favorita de Langa.

Quando ele percebeu que seu pai não iria voltar, se perguntou o que tinha feito de errado. Por que ele foi embora? Por que ele o deixou? E eram tantas questões que isso o fazia ficar agitado.

E então, quando ele finalmente entendeu o que é morte, percebeu que seu pai nunca iria voltar e então aquela pequena chama de esperança, ainda acesa dentro do seu coração, se apagou.

Porque ele percebeu que tinha perdido seu pai para sempre.

Você não supera o luto, mas sim se adapta. Vai aprender a viver com a ausência de algo ou alguém, então não vai doer tanto mas isso não significa que você esqueceu ou que parou de doer. Como se fosse uma grande ferida e a adaptação fosse o bandaid, posteriormente ela iria cicatrizar mas se alguém tocar no início, ainda doeria, e no futuro quando ela finalmente fosse cicatrizada a marca iria ficar ali para te lembrar.

Se adaptar a uma perda é como uma cicatriz de um profundo machucado.

Depois de perder o pai, Langa se isolou completamente do mundo exterior, vivendo em sua própria cabeça a maior parte do tempo. Era bom, ele é um garoto muito criativo mas isso preocupou sua mãe.
Langa nunca queria conversar, sempre quieto lendo algum livro ou estudando. Esse tinha sido o refúgio dele por anos, mesmo tendo feito terapia, não conseguiram tirar muita coisa dele porque acabava deixando-o agitado.

Nanako nunca soube como lidar com isso, sem Oliver tudo era muito difícil. Seu filho era praticamente grudado no pai e quando ele se foi ela sentiu que parte daquele garoto tinha ido junto. Apesar de tudo, Langa nunca deu trabalho para ela. Sempre foi um garoto educado e tinha boas notas na escola, sua alimentação era ótima então ele era saudável mas ela sabia, melhor do que qualquer um, ele estava sofrendo.

Langa não tinha amigos na escola porque todas as crianças pareciam saber de sua perda e ele odeia a famosa cara de "sinto muito" que todos faziam quando chegavam perto dele. Foi assim durante todo seu ensino fundamental, completamente isolado do mundo e ocupando sua cabeça com a escola para não pensar em seu pai, ou no snowboard que ele sentia tanta falta.

Acontece que toda a vida de Langa depois da morte de seu pai parecia ter sido um pesadelo, porque ele não sentia que era real.

Ele não se sentia real.

Então ele começou a se ver como uma pessoa ruim porque que tipo de pessoa não chora ao perder alguém importante? O que ele era? Por que ele era tão insensível? Ele não é real? Por que não sente emoções como todas as outras pessoas? Por que ele está agitado o tempo todo?
Por que todos sentem pena dele? Por que ele tem que tomar remédios para dormir?

Por que ele era egoísta?

Essas perguntas começaram a se tornar comuns quando ele tinha 12 anos, onde começou a sentir culpa. Culpa pela morte do pai, culpa por não saber reagir a qualquer coisa, culpa por existir porque ele poderia ter ido no lugar de seu pai.

Sua mãe percebeu que ele estava se fechando ainda mais e perguntou a Langa sobre mudança, mas ele não quis porque estava na metade do semestre. Langa só esteve pronto para a mudança quando tinha 17 anos.

Foi quando percebeu que ficar empurrando tudo que sente não ia melhorar, ou diminuir a dor. Quando percebeu que estudar tanto não o ajudaria quando ele nem tinha um plano para o futuro, ou nem mesmo planejava estar vivo até lá.

Pensamentos suicidas se tornaram comuns e com isso mais remédios.

Foi com dezessete anos que sua mãe resolveu que deveriam se mudar para o Japão, questionando se ele estava bem com isso mesmo quando ela estava desesperada. Langa tinha tentado tirar sua própria vida no dia anterior a esse, foi assustador para Nanako que o encontrou desacordado no quarto.
Quando Langa acordou no hospital ele percebeu que não podia.

E que ele era um egoísta de merda.

Mas ele não podia deixar sua mãe, que lutou para que ele se sentisse um pouco melhor, ignorando a própria dor. Sua mãe só tinha ele e mesmo assim o garoto tinha tentado acabar com isso, agora ele sabia que ela não iria aguentar.

O processo de adaptação aconteceu antes mesmo de Langa perceber. Ele já aguentava, já tinha aprendido a viver com a depressão e a dor da perda. Como se seu corpo tivesse mudado e se adaptado a essa novo hábitat onde era escuro, frio e solitário e então ele conseguiu deixar sua mãe entrar.

Foi estranho, como quando a gente conhece alguém novo e essa pessoa sempre nos trás alguma coisa que não esperávamos. Foi assim que ele se sentiu, perdido, quando começou a perceber as pessoas ao seu redor e o mundo. Como se fosse uma criança novamente e estava descobrindo que se colocar o dedo na tomada pode levar choque.

Chegando no Japão Langa sentiu que tudo tinha sido em vão, porque agora ele teria que se adaptar a um país novo, a um idioma novo e a uma vida nova. Foi ruim, mesmo que ele fale japonês com sua mãe desde pequeno, ele nunca aprendeu a escrever muito bem porque não imaginava precisar disso um dia, agora também se preocupou porque japoneses são diferentes do que ele está acostumado no Canadá.

Porém, agora ele sabia que Tem a capacidade de suportar isso porque o pior já tinha passado, não completamente, ainda sonhava com o dia da morte de seu pai, ou algum acidente assustador que resultava na morte de seus pais e restava apenas ele. Ele ainda se sentia inquieto e ansioso o tempo todo.

Ainda parecia estar sendo engolido por uma escuridão sem fim.

Mas ele sabia que tinha que ser forte pela sua mãe então iria tentar por ela, não porque ele quer viver, mas sim porque quer ver sua mãe bem. Sem se preocupar se ele está em um lugar muito alto, ou esconder os remédios de casa.

Se mudaram para um apartamento não muito longe da escola, sendo bom o suficiente para duas pessoas e adaptado para estrangeiros. O prédio não ficava tão longe do trabalho da mãe, já que ela era enfermeira.
Foi uma boa idéia, era sua cidade natal Okinawa, e era um bom lugar para um novo início.

You Make Me Feel Like A Person Again -RengaOnde histórias criam vida. Descubra agora