Segundo Ato [parte final]

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Olhando para aquela pequena bola de pelos ele sorriu de lado.
- Me desculpe! Perdão pelo susto, Mochi é um cãozinho muito agitado. - A mulher de cabelos brancos dizia calmamente de um jeito gentil.
- Não precisa pedir perdão, eu estava distraído demais. Preciso ficar mais atento. - O cãozinho olhava atentamente para Joe, parecendo estar gostando do colo do mesmo.
- Ah, os pensamentos... Cuidado para não pensar demais.
- Estou tentando, mas é como se alguma coisa maior impedisse isso.
- Alguma coisa maior? - A mulher pergunta enquanto chega mais perto de Joe, acariciando Mochi com cuidado.
- Não consigo explicar.
- Tudo bem... Eu entendo mesmo assim. - Ela olha atentamente para Joe, seus óculos estavam meio ruins porém conseguia enxergar suas olheiras e cabelos desarrumados. - O que faz sozinho neste parque?
- Estou procurando uma pessoa. - Joe acariciava Mochi de um jeito engraçado, o mesmo estava de barriga para cima enquanto apreciava aquele carinho.
- Sua namorada? - A idosa pergunta, pelo seu tom de voz ela parecia estar realmente interessada na resposta.
- Não exatamente... É complicado. - Ele olha para os lados, ainda procurando por ela.
A idosa tem um pequeno sorriso no rosto.
- Está apaixonado! - Ela exclama.
Joe sorri enquanto olha para a mulher, parecia estar sem jeito naquele momento. - como ela é?
- Muito mais do que eu mereço.
- Não seja tão burro, estou perguntando sobre a aparência dela. Quero ajudá-lo a encontrá-la.
Jonatan ri, não estava esperando tal grosseria daquela mulher.
- Um pouco mais baixa que eu, cabelos cacheados e olhos castanhos claro. A última vez que a vi, a quatro meses atrás, ela usava um vestido lilás.
- A última vez que a viu foi a tanto tempo assim?
- Sim.
- E ainda se lembra até da cor do vestido dela?
- Sim.
- Então por que ficou longe dela por tanto tempo?
- Burrice, é a única explicação plausível. Tentei ver coisa onde não tinha e ignorar aquilo que fazia sentido. Tentei viver a minha vida se preocupando demais com oque os outros iriam pensar e acabei me esquecendo dos meus sentimentos.
- Ei filho, olhe para mim. - A mulher coloca a mão no queixo de Joe, levando o olhar dele até o olhar dela. - Viver a sua vida não tem nada a ver com oque os outros pensam. Se continuar ignorando seus sentimentos, vai deixar de viver e vai passar a existir apenas para os outros. - Ela sorri gentilmente, se afastando com cuidado.
Joe encarou aquela amável pessoa à sua frente, oque ela havia dito fez ele refletir um pouco. Para ele, aquela simples conversa estava sendo como algo que precisava durante todo esse tempo.
- Tem razão, obrigado por me dizer isto. - Mochi que antes estava inquieto, agora dormia tranquilamente no colo de Joe. - Me desculpe por não me apresentar antes, meu nome é Jonatan.
- Jonatan? Que nome bonito. Combina muito bem com você. - Ela diz em um pequeno sorriso. - Pode me chamar de Nina.
Joe se levanta lentamente, tomando cuidado para não acordar Mochi.
- É um prazer conhecê-la. - Ele estende a mão à Nina em uma forma de cumprimento. Ela da um tapinha na mão de Joe com violência, fazendo-o recuar automaticamente.
- Não seja bobo, venha cá. - Nina puxa Joe para um abraço, o mesmo não estava esperando algo do tipo. Soltou um riso sem perceber enquanto abraçava aquela simpática mulher. Para sua surpresa ela era forte até demais, sua aparência não mostrava isso. Nina parecia não querer sair do abraço, mas o interrompeu mesmo assim.
- Você me lembra muito meu neto. Ele é grande e alto assim como você. Não é tão bonito mas quase chega perto e também não se dá tão bem com Mochi. - Ela diz olhando para o bichinho que continuava nos braços de Joe. - Esse cãozinho não se dá muito bem com as pessoas, sempre late demais e faz muito barulho. Mas ele é muito amável com quem se dá bem.
- Faz muito tempo que não tenho um amigo como este. Fico feliz que ele tenha gostado de mim.
- Pode ter certeza que ele gostou!
Os dois ficaram em silêncio por um tempo enquanto olhavam para o pequeno lago que havia no meio do parque. O sol refletia sua luz na água fazendo com que a mesma ficasse dourada. Haviam muitos pássaros naquele lugar, cantavam de um jeito majestoso deixando o parque ainda mais agradável. Crianças corriam pelo gramado enquanto alguns adultos estavam sentados em lençóis postos sobre aquele verde vivo. Joe não estava mais ansioso, estava tão calmo que nem se lembrava da uma vez que se sentiu assim.
- Bem, preciso ir. Acredito que ela não está aqui. - Joe diz entregando Mochi para Nina enquanto um sorriso cortês se forma em seus lábios.
- Tudo bem, você precisa mesmo ir atrás dela. - Nina acomoda seu cãozinho nos braços. - Quando encontrá-la por favor venha até ao parque, quero conhecê-la! Mochi e eu vamos esperar você quantos dias precisar.
- Claro, vou fazer questão de me lembrar. Tchau garoto. - Joe acaricia o topo da cabeça de Mochi fazendo o cãozinho abanar seu rabo como se fosse um espanador. - Foi um prazer conhecer conhecê-la.
- O prazer foi todo meu. - Nina sorria com os olhos, parecia estar feliz e ao mesmo tempo decepcionada com a partida de Jonatan.
Ele se virou para ir embora, caminhando calmamente até seu carro que estava do outro lado da rua um pouco mais a frente de onde estava. Olhando para trás por uma última vez, Nina acenava para Joe com um sorriso estampado no rosto. Ele retribuiu acenando também, entrando em seu carro em seguida. Dando partida no carro ele já tinha em mente o próximo lugar que devia ir. Iria até a casa onde aconteceu aquela festa à meses atrás. Não estava tão longe, se seguisse dirigindo por alguns minutos depois virasse a direita chegaria ao seu destino. Não demorou para tomar aquele trajeto enquanto pensava um pouco sobre tudo que já havia acontecido naquela manhã. Estava feliz por ter conhecido Nina, era uma pessoa incrível e nunca iria esquecê-la. Também não se esqueceria de Mochi e do susto que levou ao conhecê-lo. Passou a considerar fortemente a ideia de adotar um cãozinho ou até mesmo um felino. Sentindo o ambiente muito silencioso Joe colocou uma música para tocar, Blue Ridge Mountains era o nome dela. Quando ouvia aquela música, de alguma forma se sentia em outra realidade. Deixando se levar pela música Joe entrou em um estado automático, dirigia se esquecendo que estava dirigindo. Por esse descuido, quase passou reto pela rua que devia entrar. Virando a direita depois de alguns minutos em rua reta, ele reconhecia o lugar aos poucos. As casas, as árvores, os postes de iluminação e é claro, o lugar onde disse sua primeira palavra à Mahara. Sentia uma nostalgia enorme só de estar ali, a vontade de voltar no tempo naquele instante era enorme. Depois de dirigir por mais alguns segundos ele finalmente encontrou a casa, estacionando em frente à mesma do outro lado da rua. Saindo do carro rapidamente, Joe esquecia de travar o carro. Estava muito apressado e novamente sentia uma falta de ar incômoda. Caminhava rapidamente tomando cuidado ao atravessar a rua, logo pisando sobre o gramado daquela grande casa. Em mais alguns passos ele estava parado de frente para a porta de entrada da casa. Joe encarava fixamente a campainha ao lado da porta, se preparando mentalmente para tocá-la. Com o indicador ele apertou aquele pequeno botão por alguns segundos, logo aguardando que alguém abrisse a porta.

O Vestido Lilás [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora