IV

2 1 0
                                    


Uma semana depois

A curtos passos a moça encaminha-se lentamente para a casa de número 32 na rua Jorge Lins, seu vestido a balançar no ritmo de seu caminhar. Na face um sorriso, estava animada de rever o velho amigo, mesmo tendo passado apenas alguns dias longe, muito ocorrera em sua ausência e queria conversar pessoalmente sobre tudo, apesar de receosa.

Ao chegar a adorável casa e bater na porta, é recebida por um caloroso abraço de urso.

- Tenho tanta coisa para te contar! Estava prestes a ir diretamente a sua casa, mas você chegou primeiro, o que me deixa muito feliz – o que é comprovado pelo radiante sorriso a iluminar-lhe a face, e, após olhá-la de cima a baixo, continua – como é possível ter ficado ainda mais linda em apenas alguns dias?

Flora ri em resposta ao mesmo tempo em que é devidamente levada para dentro da casa e tirada do escaldante calor da rua. Ao estarem acomodados no sofá cinza da sala em tons neutros onde um aquário a fazer bolhas de ar e um relógio a tiquetaquear são os únicos sons, um característico olhar sonhador se apodera de Fabiano, dando-lhe uma beleza única e especial.

- Conheci alguém – ele olha nos olhos de Flora – ele é lindo, estava de férias, como eu, e estávamos mergulhando na Praia do Porto de Santo Antônio, nos encontramos nas águas e eu senti, assim que o vi, que ele era o amor da minha vida.

Flora sempre amara ouvir sobre as aventuras românticas de Fabi, ele era um romântico inveterado, que acreditava fielmente em finais felizes e amor verdadeiro, em sua cabeça sonhadora havia uma fé de que se procurasse o suficiente, encontraria sua alma gêmea.

- Como é o nome dele? – o brilho nos olhos do amigo a fazem sorrir

- Ravi, um nome estrangeiro chique, ele é minha alma gêmea, eu tenho certeza – ele segura as mãos de Flora – e nós nos conhecemos na Praia do Porto de Santo Antônio, o santo casamenteiro, é um sinal!

Ela ri e concorda quando Madalena, a avó paterna de Fabiano que é comumente conhecida como Dona Madá, aparece.

- Flora querida, como você está? – as duas se abraçam rapidamente - Quer comer alguma coisa? Eu acabei de tirar um bolo de fubá do forno.

- Estou bem sim Dona Madá, e a senhora? Ainda com dor por causa da artrite?

- Muita! – responde Fabiano – ela vive reclamando de dores, vamos leva-la ao médico na quarta.

Depois de horas de conversa descontraída e Dona Madá retirar-se para a casa de sua amiga e vizinha, Flora e Fabiano ficam sozinhos na casa. É quando ela percebe que é chegada a hora de abrir-se, ela tomou uma decisão e precisa de ajuda para conseguir descobrir quem era aquele homem, e quem o matou.

-Fabi, lembra quando eu disse que estava tudo bem depois do baile? – ele balança a cabeça afirmativamente e espera pelo pior – eu menti, não está tudo bem – os olhos dela marejam fazendo-a piscar continuamente em uma falha tentativa de conter as lágrimas e todos os sentimentos que ela trazem.

Fabiano aproxima-se e a toca, claramente com intenções de a abraçar e tranquilizar, contudo, Flora sabe que se não falar agora, não terá mais coragem em outra hora, então para-o e começa a falar.

- Eu descobri o porquê do meu medo de tempestades, não tenho medo delas, tenho medo do que elas podem esconder.

" Quando eu tinha dez anos, ocorreu aquela tempestade que ficou na história da cidade, tivemos que rezar muito para Santa Bárbara e ela nos presenteou impedindo que outras tormentas, fortes como aquela, nos atingissem. E como todos, eu acreditava que ver toda aquela destruição havia traumatizado meu coraçãozinho infantil, mas eu vi algo pior do que a natureza, o homem" Fabiano a olha de forma interrogativa, mas não interrompe "Eu vi um assassinato naquela noite, e antes que tente contra argumentar me escute, eu estava em uma das partes altas do cânion, onde um passo em falso me levaria direto ao chão e a morte. Alguém atirou em um homem, eu tenho certeza, ouvi o tiro, caí em cima do corpo, ainda sinto o cheiro metálico do seu sangue misturado ao cheiro de chuva e o senti escorrer pelas minhas mãos sendo lavado pelo céu. A noite do baile serviu apenas para ativar essa lembrança esquecida pelo trauma. "

Quando as Estrelas MorremOnde histórias criam vida. Descubra agora