Elisa
Olho para o reflexo no espelho do banheiro e bufo, arrancando o vestido do meu corpo o mais rápido que consigo. Ficou horrível! Marcou demais a cintura e o busto, além de apertar no braço. Não sei porque estou guardando essas roupas que provavelmente não usarei mais. Volto para o quarto e jogo a peça em cima da cama, onde outras sete já estão abandonadas.
— Não tenho mais nada pra sair! — lamento, com os olhos lacrimejando, e passo a mão na barriga saliente.
Eu não devia ter perdido o controle ontem. Não devia! Estou mais inchada hoje porque comi um pote inteiro de achocolatado em pó e fritei quatro ovos com manteiga. Não satisfeita, sai de casa aquela hora e dei uma volta no quarteirão procurando qualquer estabelecimento aberto que pudesse vender guloseimas.
O resultado foi três pacotes de chips, duas barras de chocolate e um pote de sorvete. Devorei tudo antes da meia noite. Meu cérebro doentio acha que, se eu saí da dieta mesmo, devo aproveitar o máximo que consigo antes de virar o dia.
Por um momento me senti feliz, mas às 00h05 eu estava no banheiro vomitando pelo exagero e chorando de forma descontrolada de arrependimento. Toda vez é esse mesmo ciclo, parece uma droga da qual estou viciada e vivo tendo recaída.
Engulo o choro, esfregando o rosto, e volto para o guarda-roupa. Vou ter que vestir uma calça social, das que uso para trabalhar, e uma blusinha larga senão irei me atrasar. Daqui a pouco a Emma bate aqui e não quero estender a noite além do necessário.
Coloco as peças e sigo até o banheiro novamente para conferir. Não ando muito fã de espelhos, o único que tem na casa inteira é este. O reflexo ainda não me agrada, no entanto, não tem o que fazer. Pareço mais que estou de luto do que comemorando meu aniversário de 32 anos de preto dos pés à cabeça.
Faço uma maquiagem leve, enaltecendo apenas os meus olhos azuis com um delineado, e jogo meus longos cabelos loiros para o lado, passando um pouco de reparador nas pontas. Termino no exato momento que escuto uma batida na porta. Guardo os poucos utensílios que tenho na gaveta, espirro perfume no pescoço e apanho a minha bolsa no cabideiro do quarto antes de ir para a sala. Abro a porta com um sorriso no rosto fingindo que nada demais tem acontecido.
Fingindo que estou feliz pela minha vida, pela data e por aceitar sair esta noite depois de tanto tempo. Eu demorei para melhorar, odeio admitir quando a reincidência aparece. A grande maioria das vezes sofro sozinha sem contar para ninguém o que se passa na minha mente.
— Ahhhhhhhhh, parabéns, amiga. — Emma pula no meu pescoço e me abraça assim que apareço no seu campo de visão. — Feliz aniversário!
— Obrigada, não precisava! — agradeço quando se afasta e me entrega uma caixa de presente espalhafatosa com laço e brilho.
Emma é a alegria e a animação em forma de gente. Temos nove anos de diferença de idade e um ritmo de vida bem diferente. Enquanto ela ama as noitadas e curtir o máximo que pode, eu sou mais quieta e reservada.
Sempre fui na minha.
Talvez nunca fossemos amigas se o destino não a tivesse colocado como a minha vizinha de andar aqui no prédio. Quando cheguei em Chicago ainda estava muito abalada por tudo que havia acontecido e ela me ajudou demais com seu jeitinho extrovertido. Não esperava que uma conversa despretensiosa no elevador com a morena bonita de olhos verdes fosse render tanto.
Abro o pacote e encontro um vestido vinho com um decote em V que valoriza os seios. O problema é que pelo jeito vai ficar super colado ao corpo, enaltecendo demais partes indesejadas.
— Trouxe vinho pra mudar um pouco a cor do seu guarda-roupa, tem muito preto. — Ela olha para o meu traje e arruma o tecido da blusa para ficar mais justo. — Se eu tivesse essa cintura fina com um quadril enorme e a sua bunda, querida, eu ia esbanjar pra todo mundo ver.
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Ciencia FicciónE1 nunca viu a luz do sol pelo lado de fora do laboratório, sentiu a brisa fria do vento ou conheceu uma garota. Trancafiado por 25 anos, sua rotina se resume em servir de cobaia, comer, estudar, se exercitar e dormir. Quando a biomédica Elisa Monte...