🩸 Capítulo 5

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E1

Inclino o corpo para frente na mesa, concentrado no conteúdo que estou lendo pelo notebook. Estamos no horário dos estudos e hoje o James nos passou um artigo científico sobre a transfusão de plasma, que é a parte líquida e amarelada do sangue onde se concentram os anticorpos.

O texto aponta que ele foi utilizado para ajudar pacientes infectados na pandemia mundial de Covid-19. Quem se curou doou para ajudar a melhorar a imunidade de quem ainda estava hospitalizado. Os primeiros usos tinham sido testados contra a difteria, em 1892, e na gripe espanhola, em 1918. É uma técnica centenária muito interessante.

Nós cinco fizemos os testes do vírus e fomos bem-sucedidos no combate em poucas horas. Na época que começou o doutor Russel passou semanas bem estressado, escutei uma discussão dele no telefone sobre a urgência de finalizar os estudos de uma vez por todas. Imagina a gente aparecer logo quando a humanidade mais estava precisando, poderíamos ter salvado milhões de pessoas.

Pena que não foi possível a tempo. Por sorte, desenvolveram vacinas antes que ficasse ainda pior.

— Se produzíssemos plasma em abundância talvez pudéssemos usar essa técnica — comento com James, que está fazendo anotações no seu ipad ao meu lado. — Pelo que estou vendo aqui, são necessárias doações de muitas pessoas para atender uma parcela dos doentes.

As aulas que recebemos são de acordo com a idade. James sempre fica comigo, Thomas e o Jimmy que somos mais velhos. Oliver passa os conteúdos para Matthew e Ethan. Estamos em uma mesa do outro lado da sala de estudos para não atrapalhar os menores.

— Seria humanamente impossível apenas cinco pessoas atenderem os mais de 7 bilhões de habitantes do planeta mesmo que produzissem plasma como água brota da cachoeira. — Ele sorri e me fita, animado para explicar. — Mesmo que a gente fosse a público agora, tentar encontrar mais gente igual a vocês, ainda assim não seria suficiente. O tipo de sangue Bombaim já é raro, estimamos que apenas 5% dentro do fenótipo tenha características parecidas. E eles podem estar espalhados por todos os continentes, difícil de identificar em um curto espaço de tempo. Isso sem contar todas as agravantes que podem acontecer nessa busca.

O doutor Patterson me explicou uns anos atrás que os homens do lado de fora são bem desconfiados e que, em um primeiro momento, podem ter medo da nossa habilidade por ser muito diferente. Devido a isso, somente eu e o Ethan seremos apresentados inicialmente quando tudo estiver pronto. Eu por ser o mais velho e o primeiro a identificar a anormalidade no organismo e o caçula por ter características diferentes dos demais.

Só quando a poeira baixar e formos mais bem aceitos, com outros como nós aparecendo, é que eles também poderão sair do laboratório. Não gostei nada dessa ideia, mas os médicos entendem melhor do mundo lá fora do que nós. Vamos ter que torcer para dar certo rápido.

Estamos estudando e aprendendo tudo que é possível sobre nossa condição para auxiliá-los a mostrar que só queremos ajudar. O doutor Patterson costuma dizer que seremos a cara da empresa mundo afora junto com ele e o doutor Russell, iremos viajar sendo porta-vozes da boa nova. Nossa vida será dedicada a ciência, porém, com a possibilidade de estar do lado de fora e realmente fazendo a diferença.

— E o plasma no caso é usado quando o paciente já está doente, né? — Thomas entra na conversa. — Os anticorpos da pessoa curada entram para ajudar os anticorpos naturais do enfermo. Seria uma imunização passiva, não ativa como vocês querem obter, certo? Não seria preventivo, apenas paliativo.

Relembro das aulas que já tivemos antes sobre esse assunto. Ao contrário da imunização ativa, que estimula a produção interna, como as vacinas; a imunidade passiva é imediata, ou seja, administram-se anticorpos externos, que conferem a imunidade de forma temporária.

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