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“Estou na delegacia agora, o inspetor me falou que encontraram alguma coisa no celular dele.”
“Eles já falaram o que é?”
“Pelos fragmentos das conversas que pesquei, parece que havia uma mensagem que não foi enviada.”
“Para você, imagino.”
“Isso... Eles estão me chamando, vou ter que desligar agora. Depois te ligo para contar o que era.”
“Se cuida, Daniel.”
Mas aquela noite chegou. Não a última, mas a que tivemos aquela discussão feia.
O motivo era banal, mas estávamos tão feridos com nossa relação que deixamos a raiva falar por nós. Foram agressões verbais feias.
Uma vez ouvi que todas as nossas fraquezas que contamos para alguém será usada covardemente em uma discussão contra você. Ele sabia muito de mim, eu sabia muito dele. Então sabíamos onde a ferida doía mais.
A última coisa que ouvi foi:
- Pegue os seus trapos e suma da minha casa.
Saí humilhado, ferido, querendo matar a todos e a mim. Discuti com Deus, tentando encontrar a razão do por que Ele deixara acontecer aquilo comigo. Era uma sensação tão ruim se sentir tão diminuído que nem mesmo a morte seria capaz de me dar um alívio para tudo aquilo que estava dentro de mim.
Mas o pior de tudo, eu ainda o amava. Eu sentia falta dele. Eu queria estar com ele. Querria um abraço dele. Queria ouvir que ficaria tudo bem. Queria fazer sexo com ele novamente. Sentir o gosto de seus lábios. Eu precisava dele. Eu precisava tê-lo de volta.
Foi quando engoli o meu orgulho e minha vergonha e voltei até sua casa para tentar contornar aquilo tudo. Claro que ele não quis me receber, mas eu precisava tentar. Então fiz a única coisa que sabia que faria ele vir até mim. Foi fácil, pois os medicamentos controlados que minha mãe usava em seu tratamento ainda ficavam guardados no espelho do banheiro. Enchi minha mão como se fossem um punhado de balas de chocolate e levei a boca, engolindo-os de uma vez com água. Depois mandei uma foto para minha irmã e esperei que ela chegasse com a ambulância.
Apaguei e fiquei inconsciente por cinco dias. Mas quando acordei ele estava lá, com os olhos vermelhos e a aparência bem cansada.
- Foi por você – eu disse antes de cair no sono novamente.
Demorei mais três dias para conseguir ficar acordado e sóbrio. Meu organismo precisou desse tempo para desintoxicar toda a droga que eu havia ingerido.
- Você estava maluco? - gritou ele comigo no quarto do hospital sendo repreendido por uma enfermeira que passava por ali no momento.
- Eu sabia que ficaria bem. Você não deixaria nada acontecer comigo.
- E eu sou Deus por acaso? Você poderia ter morrido.
- Seria bem melhor a ter que viver em um mundo sem você.
- Você é maluco!
- Eu te amo.
Ele não me respondeu. Fiquei com medo daquela tentativa de chamar sua atenção tivesse saído pela culatra.
- Não era preciso isso. Eu iria ter outra conversa com você, só estava esperando a raiva passar. Não queria te machucar mais do que já havia machucado. Por que, por mais que briguemos, eu também te amo.
Era tudo o que precisava ouvir. Mas naquele momento isso pareceu soar errado. Não estava me sentindo feliz, mas culpado. Que porra eu havia feito.
- Você me perdoa?
- Eu não te faço bem.
- Longe você me faz mais mal ainda.
- O que vamos fazer?
- Estou com vergonha pelo que fiz, talvez eu não te mereça mesmo.
Ele parou e me olhou. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e senti o dedo dele enxugando-a.
- Vamos parar um pouco. Estou olhando para você e só consigo ver o Pablo, o homem que sempre amei e respeitei.
Nosso beijo foi interrompido quando minha irmã chegou. Já não importava mais se ela estava sendo dura comigo, ou me dava sermões sobre a loucura que eu havia feito. Tudo entre Daniel e eu estava resolvido e no momento era a única coisa que me importava.
Nossa relação seria uma eterna montanha-russa e eu já estava começando a pegar o ritmo dos altos e baixos e a velocidade com que tudo acontecia. Até a nossa última noite, e essa sim, seria nossa última.
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A verdade sobre nós (Romance Gay)
RomanceEntre relatos de um amor e mensagens trocadas por bate papo e conversas de telefone, vamos nos envolvendo em uma história frágil e cheia de mistérios. Quando uma pessoa ama demais, qual é o limite para demonstrar esse amor?