_ 2 _

380 27 0
                                    

 “Ele te mandou alguma mensagem, Lia?”

“Não nesses últimos dias, Daniel. Como você está?”

“Preocupado. Se ele te procurar, me avise.”

“Aviso sim, estou orando por você.”

“Obrigado! Vou desligar agora, talvez ele tente me ligar e...”

No passado, quase tive uma experiência com um amigo meu, e isso me ensinou que, se houvesse uma próxima vez, nunca me envolveria com um amigo de novo. Ao combinar amizade com sentimentos além do que é esperado, conseguimos decifrar que amigos não foram feitos para namorar. Bem, pelo menos comigo não funcionou. Assim que nos beijamos, ele era lindo, seus lábios pareciam ter ganhado formas irregulares e não foi como esperávamos. Depois disso não conseguimos mais olhar um nos olhos do outro e a amizade acabou.

Por isso, pelo menos quando sentia que um amigo ou conhecido (que sabia das minhas condições) se aproximava de mim, os afastava, mesmo que isso significasse nunca sentir estar nas nuvens. Era melhor sofrer sem um amor do que tentar amar e quebrar a cara.

Mas com Daniel tudo aconteceu diferente.

A sala dele cheirava a incenso. Me senti deslocado até catalogar todo o cômodo em minha cabeça e após ser convidado a sentar, relaxei um pouco. Ele sentou-se ao meu lado e me olhou sem dizer nada.

Era difícil interpretar o que estava acontecendo ali, mas dentro de mim, algo prestes a explodir, me fazia sentir uma vontade insana de pular em seu colo e beijar aquela boca até perder o ar. Seus olhos mediam cada centímetro do meu rosto com um olhar ao mesmo tempo curioso e inocente. O que estava acontecendo ali?

Foi então que ele pousou sua mão em minha perna, novamente, e aproximou seu rosto do meu. O que aconteceu a seguir foi mágico.

Foram quatro beijos. O primeiro, que fez meu coração pulsar acelerado, foi em minha testa. Um beijo de respeito, algo que você receberia de seu pai. O segundo foi mais embaixo, e pude sentir sua respiração ofegante ao beijar minha bochecha direita. O terceiro, para completar o ciclo, foi em minha bochecha esquerda. Parecia um ritual estranho, mas eu estava gostando. E o último, aquele que me fez sentir seu hálito e um tremor que começou na ponta do meu mindinho e foi até o último fio do meu cabelo, foi dado na ponta do meu nariz.

Eu ri, me sentindo como se acabasse de ganhar meu primeiro video game. Isso era algo que aconteceria em um romance de filme ou de um livro. E estava acontecendo ali comigo. Como não amaria esse momento?

- Você é gay? - perguntei suspirando.

- Acho que sim – disse ele com um brilho no olhar. - Quer dizer, sou. Assumido. E você?

- Também. Não assumido, só gay.

- Que bom – afirmou ele.

E aconteceu o beijo mais esperado. Tudo muito clichê. Uma explosão de fogos de artifício, o frio na barriga com milhões de borboletas alçando voo, a sensação de sentir os pés perdendo o contato com o chão e a cabeça alcançar as nuvens. Então isso era dar um beijo apaixonado?!

- O que você está sentindo? - perguntou.

- Como se eu não conseguisse conter essa explosão de sentimentos dentro de mim. E você?

- Como se tivesse acabado de conhecer minha alma gêmea.

Congelei.

Reconheci que me identificava com aquela sensação e fiquei medo. Estava tudo indo rápido demais, e se não conseguíssemos controlar tudo aquilo? Mas ele me beijou novamente e esses pensamentos foram se dispersando aos poucos. Quem se importava com isso?

- Quer passar a noite aqui?

Foi o primeiro convite que aceitei e depois disso haveriam outros. Todos seriam aceitos por mim. Foi aí que meu vício começou e com o tempo perceberia que não havia cura ou tratamento para o que estava me envolvendo. E confesso que foi minha melhor escolha, mesmo com os efeitos colaterais adversos.

A princípio me surpreendi em como me sentia a vontade na presença dele. Depois de mais um tempo conversando, subimos para o quarto e nem bem fechou a porta para começar a se despir diante dos meus olhos. O corpo dele era lindo, assim como seu rosto, e senti vontade de medi-lo todinho com minha língua, mas era tudo muito novo.

- O que foi, não está se sentido confortável?

- Não é isso, é que nunca transei na vida.

Ele encheu o quarto com o som de sua risada e sentou-se ao meu lado.

- Não precisamos fazer nada – disse ele me abraçando. - Mas já me sinto seguro para ficar dessa forma ao seu lado. Se não quiser, pode ficar com sua roupa.

Estar dentro do seu abraço era o melhor lugar do mundo. Sua pele era quente e seu cheiro era perfeito.

- Obrigado por não forçar nada.

Ele me abraçou mais forte.

Passamos a noite deitados um ao lado do outro, ele completamente nu e eu de cueca, conversando sobre diversas coisas. O tempo pareceu voar.

A verdade sobre nós (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora