Capítulo 1

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Nem tudo é como queremos e eu tive que aprender isso muito cedo. Com o passar do tempo eu percebi que poucas coisas realmente importavam, mas a que realmente importava era eu, porque a única que podia me levantar e me ajudar na maioria das vezes era eu mesma. E às vezes eu ainda fazia a pachorra de me derrubar. Mas eu aprendia a cada dia a me recuperar e entender os processos que eu tinha que passar, olhá-los como ensinamentos nunca foi fácil, mas era isso ou me entregar à solidão.

— Não me diga que está no mundo da lua, Joana, preciso desse último capítulo urgente, a editora vai te ligar — Olga brigava aos meus ouvidos.

— Eu quero um fim trágico..

— Mas seus leitores e a editora esperam um final feliz, qual a dificuldade?

— Te entrego daqui a pouco, ok?

— Vou avisá-los — encerrou a chamada.

Fins trágicos eram uma paixão minha, ou melhor, é uma paixão minha. Em um mundo de finais felizes eu queria que os meus não fossem, afinal, nem sempre no mundo real o final feliz acontece e tudo bem.

Enviei o fim do livro com agradecimentos e o capítulo que faltava, com surpresas, obviamente.

Levantei da cadeira e fui a cozinha atrás de algum industrializado que desse jeito na minha fome e eu aguentasse até a noite, onde mais um vez eu iria sair para conhecer alguém. Eu tenho a carteira fidelizada de azar no amor, e por isso, não ia mais tão animada à encontros. Eu nem ao menos sei o porquê ainda vou. Talvez eu saiba, mas isso não vale a pena contar.

Depois de enrolar para me arrumar e finalmente entender que deixar as pessoas esperando não é a coisa mais legal, resolvi me arrumar e pegar um carro por aplicativo, afinal, ninguém merece ter a placa clonada, sim, isso me ocorreu. Momentos. Passado, passado, já foi.

Entrei no shopping e caminhei até o local marcado e logo o vi, um grande e normal "hetero top", sentado no banco e de camisa polo clara. Cheguei mais perto e ele se levantou, cumprimentei como se fosse gente normal e logo fomos para o cinema. Não que eu não soubesse ou nunca tivesse falado com ele, mas tem coisas que a gente ignora. Falamos sobre o dia e como chegamos ali, o que deu tempo de chegarmos até a fila e comprar os ingressos.

— Foi muito bom o filme, aquela velha dava calafrios.

— Você quase se borrou — Provoquei rindo e ele tentou mudar a situação. Não deu certo. Mas a risada foi ótima.

Me despedi logo e marcamos de sair outra vez por mensagem, quem sabe eu lhe daria a honra.

Aquele saída havia me surpreendido e bem, a surpresa maior foi ver que eu estava bloqueada nas redes sociais dele e eu percebi ao mandar mensagem e ele não ver. Só podia ser palhaçada. Retiro o que eu disse, a noite foi péssima. Mas, nada que já está ruim que não possa piorar. Um número desconhecido havia me mandado um áudio, ou melhor, vários. Me ligou:

— Oi, meu nome é Gabriele, eu queria dizer que você foi usada, ou melhor, quem é você para sair com homem comprometido? O papel que você prestou foi ridículo..

Eu conheço essa voz de algum lugar.

— Boa noite? Eu não sabia que ele era comprometido, pelo menos até agora — rolei os olhos entediada, não era a primeira vez e não seria a última — Sinto muito por isso, eu realmente não sabia.

— Joana? É você?

Ela reconheceu minha voz.. Porra!

— Sim, e você é? — me fazer de sonsa é a melhor opção.

Ouvi um suspiro do outro lado da ligação e esperei ela me responder alguma coisa. A voz de uma criança apareceu no fundo e ela respondeu algo como: "a tia já vai".

— Já faz tanto tempo que a gente não se fala.. que doideira. Você está bem?

— Eu realmente não estou reconhecendo sua voz..

— Gabriele, estudamos juntas na adolescência.. tivemos um "rolo" , como você chamava — ela riu sozinha do outro lado da linha.

Permaneci em silêncio, não tinha o que falar, aquela situação era no mínimo cômica para não dizer trágica. O universo só podia me odiar.

— A gente podia marcar de sair, se ver. Não sei, almoçar ou..

— Estou um pouco sem tempo nessas próximas semanas..

— Ah, tudo bem. Vou salvar seu número e a gente marca, pode ser?

Não mesmo.

— Claro, perfeito.

Tudo sempre pode piorar.

Ainda pode existir um nós?Onde histórias criam vida. Descubra agora