Capítulo 3

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Eu havia esquecido que elas se conheciam, mas que diabos ela estava fazendo no aniversário do meu irmão? Tudo bem que todos a conhecem por causa de mim e ela criou uma amizade com minha prima, nada justifica a presença dela aqui. Haja naturalmente, Joana.

Vi pelo canto de olho que ela cumprimentou meus parentes e aceitou o convite da cerveja. Parecia a vontade, ria e contava algo para eles. Eu sempre admirei como eles se davam bem, achava um máximo minha família gostar dela, pelo menos a grande maioria. Passado.

Isadora veio em minha direção com uma cara de surpresa e segurando o riso, aquela palhaça já ia rir de mim e me zoar pelo resto da noite. Encarei ela com tédio e bebi um gole de refrigerante.

— Merlin é uma piada, chamou tua ex na cara de pau — Zombou rindo — Não dá nem para fugir sem ninguém perceber. Sabia que ela viria?

— Não, nem sabia que ela estava na cidade — Eu sabia, mas não falaria, ela perguntaria de como eu sabia e teria que contar a história.

— Ela está vindo, vou ver onde está Sofia, tchauzinho.

— Traidora — Sussurro para ela ouvir e ela ri.

Coloquei mais refrigerante no meu copo e abri o freezer para guardar o litro.

— Não guarda, não — Droga — Põe para mim, por favor.

— Claro.

Enquanto eu evito contato visual, ela me analisa. Quero um buraco para me enfiar o mais rápido possível.

— Por que você está me evitando?

— Não estou te evitando — Encarei seu rosto.

— Continua a mesma.

— Quem dera você tivesse mudado — Retruquei mau humorada. Ela realmente sabia me tirar do sério.

— Continua pegando pilha muito rápido.

— Aproveite a festa — Disse caminhando em direção a parte externa e sentando na mesa que minha cunhada estava.

Sofia corria com as outras crianças e eu sorri vendo aquilo. Ela é a coisa mais preciosa da minha vida.

O local está decorado de branco e preto, com brasão corintiano no painel e no bolo. Todos estavam felizes e era o que me deixava em paz quando os encontrava.

— Ei, maninha — João sentou ao meu lado e passou seu braço no ombro — Eles não vieram de novo..

— Amanhã eles chegam e te dão um presente, você sabe. E se eles estivessem aqui não teria essa festa. Aproveita — Ele assentiu e deu um gole — Chegando na casa dos trinta, hein. Já posso dar de presente a bengala?

— Ha.ha.ha, só se quiser que eu te dê uma bengalada na cabeça — responde e sorri.

Depois do encontro no freezer, não nos falamos mais. Se quer olhei para ela. Tudo voltaria ao normal no outro dia. Pelo menos eu espero que sim.

As horas se passaram e a maioria já estavam chamando carro por aplicativo por estarem bêbados. Me despedi da maioria e caminhei em direção ao portão da casa.

— Jô! Tem como dar uma carona para eles? Vão ajudar na gasolina.

— Sem problemas, vamos? — Sorrio e destravo o carro.

Minha prima, seu marido e a filha deles entram na parte de trás, e peço para colocarem o cinto. Escuto uma respiração ofegante do lado de fora e olho para a janela do carona e Gabi estava lá, me olhando.

— Pode me levar também?

— Entra aí — Concordei fervendo por dentro.

Levei minha prima primeiro pela localização da sua casa e eles desceram após agradecer. A casa que Gabi estava era um bairro depois do meu e eu segui calada suas instruções, que já não eram mais tão atrapalhadas como na adolescência. Deve ter aprendido no meio da cidade grande quando foi fazer faculdade.

— Não sabia que não gostaria tanto da brincadeira sobre não ter mudado.. — Comentou com tom de arrependida.

— Já nem lembrava mais disso — Respondi sem tirar os olhos da rua. Eu lembrava, mas não como um ataque pessoal, era só ela sendo ela desde sempre. Eu amava isso nela.

— Mesmo assim, queria te pedir desculpas.

— Tá tranquilo — encerrei o assunto. Eu só quero ficar calada.

— Li alguns livros seus, sempre fui apaixonada neles, você sabe. Tô tentando me organizar para poder voltar a ler livros por lazer, na faculdade não tinha tanto tempo.

— Eu imagino.

— Eu não vou entrar no assunto sobre meu ex e saída de vocês, sei que não ficaria com pessoas comprometidas — Assenti concordando — Ele era outro otário, estávamos juntos a uns 3 meses. Enfim, esquece esse assunto.

— Espero que supere logo.

— Já esqueci, não 

Estacionei na frente da casa indicada por ela e ela desafivelou o cinto de segurança. Parecia querer dizer algo, mas eu não faria questão de perguntar caso ela não dissesse por si mesma.

— Olha, Joana, eu realmente queria muito voltar a amizade que tínhamos. Eu acho que foram águas passadas e eu..

— Sinto muito, Gabriela. Eu não acho, ou melhor, eu tenho certeza, nunca vai ser como antes — Seus olhos me fitaram intensos, ela entendeu o que eu quis dizer e eu já estou de saco cheio disso — Me feri demais no passado, tô me reerguendo ainda.

— A gente pode conversar sobre isso?

— Não, não podemos. Preciso ir, está tarde.

Ela me analisou e suspirou, sabia que eu não cederia tão fácil para conversar. Me sentia estúpida, uma adolescente ingênua e burra, sem conseguir se controlar. Eu só queria dizer tudo, só queria tirar o peso das costas mas me parece tão infantil fazer isso. Falar a alguém aquilo que ela machuca. Me sentir vulnerável e pequena.

Ela me olhou pela última vez e eu acelerei saindo dali. 

Ainda pode existir um nós?Onde histórias criam vida. Descubra agora