O imprevisto do dia anterior havia passado e eu estava pronta e decidida a nunca mais sair com ninguém de aplicativo de relacionamento. A última coisa que preciso é tomar uma surra de alguma pessoa e aparecer roxa na editora.
Os últimos detalhes estavam sendo organizados e eu precisava me programar para a semana de publicação do livro, organizar as roupas que usaria e organizar minha mente para conseguir lidar com o público. Nem sempre era tranquilo.
Aquela ligação não saía da minha cabeça e por mais que eu tentasse me concentrar em outras coisas não era tão fácil assim. Ainda mais quando lembranças haviam sido desencadeadas, lembranças essas que eu demorei anos para deixar de lado. Era torturante lembrar delas.
Encontrei Olga na entrada da editora falando com algum segurança sobre o evento na livraria do shopping. Esperei ela dar as últimas instruções e finalmente entramos. Os números eram bons e a pré-venda tinha sido um sucesso, uma obra que eu demorei quase dois anos para terminar. Depois de ciclos intermináveis de bloqueios criativos e muita procrastinação, finalmente meu bebê nasceu. Era meu terceiro livro publicado e eu realmente não poderia estar mais feliz.
Acertei os últimos detalhes com o pessoal e na volta para casa comprei comida, os anos se passaram e eu não tomei vergonha na cara para aprender a cozinhar realmente. Os 25 estavam batendo na porta e eu senti a crise dos 30 vindo mais cedo.
Às vezes eu me sentia sozinha em casa, mas já era tão comum que normalmente eu nem percebia. Quando me falavam que eu me afastaria dos amigos da juventude eu não acreditava, afinal parecia impossível a ideia de passar meses ou anos sem vê-los e no fim, isso acontece mesmo. Cada um com sua rotina, uns com famílias, trabalho e mais trabalho. Sinceramente, as conversas online nunca vão substituir o ao vivo, a presença física. Fora o amadurecimento, ideias e valores diferentes, a adolescência é uma fase intensa e muito curta, você pisca os olhos e você já é um adulto com responsabilidades e crises de idade.
Gabriele havia mandado mensagem, salvei o número e não rendi conversa. Não era isso que eu espera, revê-la era uma tortura e tudo o que eu menos queria. A nossa amizade tinha ficado no passado e o rancor tinha me acompanhado até aqui. Orgulhosa. Dizem que o orgulhoso não leva a gente a lugar nenhum e realmente, não me levou a nada mas me impediu de fazer muita besteira. Principalmente falar muita coisa que não deveria. Mas são águas passadas e o foco é seguir em frente, sem Gabriele na minha vida de novo.
Isadora estava na tela do meu celular e eu logo atendi a chamada, Isa apareceu maquiada e com a filha no colo. Tinha algum evento e não me chamou? Ai..ai..
— Por que está descabelada jantando? — Pergunta franzindo o cenho.
— Tia! — Sofia grita me chamando ao me reconhecer.
— Oi, amor! Por que eu acabei de chegar da editora.
— Você por acaso olhou suas mensagens hoje? — Pergunta um tanto irritada.
— Já avisei que coisas importantes tem que ligar. O que é?
— Aniversário do seu irmão, não me diga que esqueceu de novo!
— Vish.. vai ser aonde? — Pergunto terminando de comer rapidamente.
— Casa a prima de vocês, na Merlin.
— Vou me arrumar, obrigada por lembrar.
Encerrei a chamada e corri para o banheiro.
Cheguei no portão, toquei a campainha e esperei abrirem. Quem me recebeu foi Merlin, com uma lata de cerveja na mão e com Vitória do lado. Abracei as duas e fomos andando até a área onde todos estavam conversando.
— Parabéns maninho, esqueci de comprar presente mas a minha presença já é o maior presente que podia receber — minha família ria e jogava piadas.
Mais um aniversário sem eles presentes, por mais que eu entendesse que eles tinham um chamado na igreja, na minha opinião dava de eles terem se programado melhor e vindo, mas mesmo se viessem não gostariam tanto de estar aqui.
— Toma uma com a gente — Merlin oferece.
— Valeu, mas eu não bebo. Aonde eu encontro refrigerante? — Pergunto ao ver as crianças tomando.
— No freezer — indicou para a cozinha.
— Olha só quem chegou! Quanto tempo!
Virei meu rosto em direção a entrada e ela estava lá, abraçando minha prima.
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Ainda pode existir um nós?
Romantik- Você disse que eu era apenas uma experiência, que não significou nada para você! Você jogou nossa amizade no lixo a partir do momento que me seduziu e simplesmente sumiu. - Você queria que eu fizesse o quê? Eu.. eu.. eu não sabia lidar, me aceita...